Emoção na noite

Jornal O Estado do Maranhão

A noite da sexta-feira, dia 15 de agosto, assinalou o momento cimeiro das comemorações do
Centenário da Academia Maranhense de Letras, que, no entanto, não terminaram naquele dia. Continuarão até o final do ano com o lançamento de livros, inauguração da Exposição do Centenário e palestras de Antônio Martins de Araújo, da AML e da Academia Brasileira de Filologia, sobre Artur Azevedo; Alberto Vieira da Silva, da AML, sobre o padre Antônio Vieira; Ivan Junqueira, da Academia Brasileira de Letras, sobre Gonçalves Dias; e Domício Proença Filho, também da ABL, sobre Machado de Assis. Quando os fundadores – Alfredo de Assis, Antônio Lobo, Astolfo Marques, Barbosa de Godois, Corrêa de Araújo, Clodoaldo Freitas, Domingos Barbosa, Fran Paxeco, Godofredo Viana, I. Xavier de Carvalho, Ribeiro do Amaral e Armando Vieira da Silva – foram chamados pelo decano da Casa e palestrante da noite, José Sarney, ao mesmo salão em que a criaram em 1908 e os vimos entrar conduzidos pela magia das palavras do orador, capazes de torná-los tão real quanto a nossa alegria em recebê-los em meio a geral aclamação, senti que não estávamos ali por mero acaso, mas por um mandado do destino que nos trouxe até aqui, neste jovem século, neste ano, neste mês, naquele dia, naquela hora e naquele instante, com o fim de celebrar o Primeiro Centenário, de muitos a serem festejados, e reafirmar nossa fé nas coisas do espírito, as únicas de fato indeléveis. A presença na solenidade da Academia Brasileira de Letras, representada pelo ex-Presidente Marcos Vilaça e pelo Presidente Cícero Sandroni, é, como este me afirmou em sua chegada a São Luís, prova do apreço daquela Casa pela nossa, herdeira de tantas tradições. Nisso, a ABL, que tantos maranhenses tem tido em seu quadro de membros efetivos e entre seus patronos e fundadores, segue o exemplo de seu primeiro Presidente, Machado de Assis, o maior escritor brasileiro, admirador do Maranhão e seus homens de letras, em especial Gonçalves Dias, entre os quais tinha amigos próximos, como Joaquim Serra, sobre quem escreveu bela crônica por ocasião de sua morte em 1888. Quando o próprio Machado morreu em sua residência, no Cosme Velho, no Rio de Janeiro, numa época em que se morria em casa cercado do consolo dos familiares e amigos e não no ambiente indiferente, frio dos hospitais (hoje parece que já não morremos, mas somos mortos por antecipação por meio de sedação, que nos conduz ao nada antes do nada definitivo), estavam a seu lado os maranhenses Coelho Neto, Graça Aranha e Raimundo Correia, todos, como Joaquim Serra, patronos de Cadeiras na AML, como estavam também Mario de Alencar, Euclides da Cunha, José Veríssimo e Rodrigo Otávio, seus amigos de outros Estados. Grande tem sido a receptividade pela sociedade às nossas iniciativas com respeito às festividades, durante este ano: empresas e outras instituições privadas, gente da área cultural, o setor público. Constantes, as palavras de apoio e de reconhecimento aos nossos esforços com o fim de dar às celebrações do Centenário a dignidade devida à instituição guardiã de nossas mais caras tradições de cultura, evidência do respeito dos maranhenses por ela. Permanente, o apoio incondicional dos membros da Diretoria e dos acadêmicos residentes aqui e fora do Estado. Sinto-me feliz e orgulhoso pelo brilhantismo das comemorações. Ao assumir a Presidência da Academia por escolha dos confrades, eu tinha conhecimento das dificuldades inerentes à administração de uma instituição que, de um lado, não dispõe de muitos recursos materiais, mas, de outro, tem um patrimônio de inestimável valor, embora intangível, medido e contabilizado na moeda do prestígio por nós herdado dos fundadores e sucessores. Para se fazer muito, isto não é pouco.

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