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Mostrando postagens de setembro, 2001

O futuro do livro

Jornal O Estado do Maranhão Na palestra do brasilianista francês Jean Soublin, na Academia Maranhense de Letras, sobre as imagens do Brasil na França ao longo dos séculos, encontro Sálvio Dino. Somos amigos desde o começo dos anos setenta, quando ele era um deputado estadual cassado “por atividades subversivas”, mas não ainda imortal, e eu um recém-formado economista. Naquela época éramos assessores de Jayme Santana, meu ex-colega de faculdade, então Secretário da Fazenda do Governo Pedro Neiva de Santana. Sálvio pergunta à saída do auditório se conheço o famoso Jean Paul Jacob, que anda prevendo a morte do livro de papel, esse antigo e querido companheiro. Olho para os lados, certificando-me da ausência de testemunhas da minha ignorância e, meio envergonhado, confesso baixinho que não, mas que já tinha tido notícia dessa conversa em algum lugar. Talvez, em algum canto de um suplemento dominical de um jornal qualquer. Ele, que prepara um livro sobre a dinâmica da ocupação do território

Tragédias

Jornal O Estado do Maranhão Não há justificativa de espécie alguma para os atentados ao povo norte-americano, com a perda de milhares de vidas de pessoas inocentes na destruição do World Trade Center e de parte do edifício do Pentágono. Perder apenas uma vida já seria suficientemente doloroso para qualquer povo. Os americanos conheceram, de repente, o sentimento de viver sob a ameaça do terror que aflige outros povos. Como o do Iraque. Lá, crianças morrem diariamente, como resultado do bloqueio econômico americano ao país, sem contar as outras mortes resultantes das bombas dos Estados Unidos na Guerra do Golfo. Ela foi feita para defender a ditadura do Kwait, tão odiosa quanto a iraquiana. A única diferença é que uma é a favor dos Estados Unidos, a outra contra. O povo iraniano viu os Estados Unidos treinarem e armarem esse mesmo Iraque, da mesma ditadura de Sadan, para a invasão do Iran. Armado e treinado por eles foi também Osama bin Laden quando combatia as tropas russas que foram o

Atenas, mas uma vez?

Jornal O Estado do Maranhão Entre o vasto material reunido por Jean-Michel Massa no seu Dispersos de Machado de Assis , há uma crônica de 3 de abril de 1866, publicada no Diário do Rio de Janeiro . Nela, Machado faz comentários sobre o primeiro volume, de um total de cinco, da obra de Sotero dos Reis, Curso de Literatura Portuguesa e Brasileira , produto de suas atividades de professor no Maranhão. Lamenta, então, a negligência no estudo da língua portuguesa no Brasil da época para afirmar que “ [...] o autor do Curso de Literatura é uma das raras exceções, e para avaliar o cuidado e o zelo com que ele estuda a língua de Camões e de Vieira, basta ler este primeiro volume [...]”. Em uma das notas a essa crônica, Massa afirma que Machado sempre manifestou certa benevolência com relação ao chamado Grupo Maranhense. Talvez, em sua opinião, por causa da amizade de Machado com Joaquim Serra. De fato, há referências elogiosas e freqüentes do escritor carioca ao amigo maranhense e a diversos

Magia

Jornal O Estado do Maranhão O patriotismo está em baixa no Brasil, a julgar pela atitude de um brasileiro famoso mundialmente, Paulo Coelho. Ele é homem de mil talentos, entre os quais os de compositor roqueiro, com várias parcerias com Raul Seixas, e escritor com mais de 32 milhões de livros vendidos em todo o pla­neta. Possui, ainda, poderes mágicos. Gera ventos e chuvas, desengarrafa o trânsito com a força do pen­samento, torna-se invisível, prevê o desempenho de presidentes da República, adivinha o nome de namorados de ministras da Fazenda. Não se compreende, por isso, sua recusa a usar tais capacidades em benefício da pátria, justamente quando atravessamos uma séria crise de energia. É evidente que ele não iria vulgarizar sua força, usando-a por um motivo sem importância. Mas, seria fora de propósito pedirmos a utilização tão-somente de sua capacidade de fazer chover? Afinal, o país não está precisando de um bom dilúvio bíblico? A prioridade nacional não é encher os reservatórios

Doutrinas em conflito?

Jornal O Estado do Maranhão Há uma luta na cidade. Não chega a ser uma guerra, daquelas onde vale tudo, com repercussões imensas e imprevisíveis, com ódios irreconciliáveis. Mas não se trata também de um conflito corriqueiro, vulgar. Em verdade vos digo, caríssimos leitores, ser essa luta de outro tipo. Não tem nada em comum com outras, profanas, vistas diariamente nos meios de comunicação. Não provoca dores físicas. Apenas as espirituais, de difícil avaliação pelos padrões banais do cotidiano. Não fere o corpo, mas a alma. O caso apareceu na imprensa de São Luís há algumas semanas. Da leitura da notícia redigida de forma um tanto obscura, pude entender que uma igreja, ostentando em seu nome a palavra paz, entrou com um pedido de reintegração de posse de um templo no qual funciona uma outra igreja intitulada evangélica. O advogado desta disse que iria apresentar ao juiz, na audiência de justificação, um termo de concessão de direito de posse fornecido pela extinta Cohab-MA em 1994. Fez