27 de dezembro de 2009

Tecnologia Natalina



Jornal O Estado do Maranhão, 27/12/2009

Uma das consequências da expansão do uso da internet, pelo menos no Brasil, foi a adoção do hábito do envio de mensagens de Natal e Ano Novo via e-mail. Como esta poderosa ferramenta de comunicação permite que elas alcancem simultaneamente várias pessoas, os remetentes preferem, em geral, usá-la, em vez de postar cartões impressos em papel, evitando o gasto e o trabalho de mandá-los pelo correio, do modo antes costumeiro. Assim, com o simples clique de um mouse, 20, 30, 100 destinatários os vêem quase instantaneamente, não sem antes o remetente criar em seu computador um grupo contendo os e-mails daqueles que devem recebê-los.
É possível, com a utilização do programa Outlook, da Microsoft, mandar a mensagem (com o mesmo texto), a cada destinatário, individualmente, de maneira parecida com o envio de correspondência com a utilização do recurso de mala direta do editor de texto Word, também da Microsoft. Isso permitiria a cada recebedor ver seu nome na primeira linha do texto da mensagem, algo como "Caro Fulano de Tal". Seria uma forma individualizada de o remetente manifestar aos amigos, individualmente, seus sentimentos no Natal e Ano Novo. Mas, tal procedimento requer um conhecimento mais aprofundado do programa do que a habilidade da maioria de seus utilizadores permite.
Prática semelhante ocorre com os chamados torpedos usados em telefones celulares. Grupos podem ser formados e mensagens com múltiplos destinatários disparadas, poupando a quem as envia o trabalho repetitivo de mandá-las a cada membro de sua lista, tarefa longa e tediosa.
Não digo isso tudo a fim de condenar o novo hábito, mas apenas para apontar como a tecnologia pode resolver alguns problemas e criar outros, reforçando a ideia de que a história da humanidade se nutre desse processo dialético. Pelo menos a história do capitalismo tem sido a de criação e destruição, como aspectos inseparáveis de um único processo. Tomemos como exemplo, o avança tecnológico em geral.
A reflexão inevitável é esta: Quantos empregos são destruídos com o surgimento de novas tecnologias e quantos outros são criados nos novos setores nascidos com elas, causadoras, no entanto, da morte dos antigos? A longo prazo, há um equilíbrio, mas, com certeza não é consolo para os trabalhadores que perdem seus empregos em setores tecnologicamente atrasados e não podem sequer, devido a fatores como idade e falta de ação do governo, saber que não houve perda de emprego, quando a economia é vista como um todo e numa perspectiva histórica. Se fosse verdade que a novas tecnologias provocam desemprego permanente, então desde muito tempo o desenvolvimento delas já teria chegado ao fim ou teríamos regredido à economia de trocas, tal crise de desemprego que se abateria sobre a sociedade. Um exemplo. A introdução de tecnologias na agricultura, origem de espetacular aumento na produção e, em especial na produtividade do setor, levando à conhecida revolução agrícola, levou ao êxodo de milhares de pessoas do campo para as cidades. Nestas, empregos estavam sendo criados no setor industrial, inclusive na construção civil, e de serviços, mas não no ritmo necessário, por diversas razões.  A introdução dessas tecnologias deveria ser evitada? O x da questão é a forma pela qual a absorção desse avanço se dá. A discussão é longa e já levou ao consumo de toneladas de papel utilizados nos estudos até agora publicados.
Mas, eis o que eu queria dizer. Com certeza, os recursos tecnológicos ligados à internet, referidos no início, resolvem a dificuldade que a maioria de nós tem de encontrar tempo e paciência na batalha do envio de cartões no fim do ano. Resolvi adotar então um meio termo. A um grupo de amigos, inclusive os membros da Academia Maranhense de Letras, mandei um cartão impresso que elaborei junto com o fotógrafo Edgar Rocha. A outro, de cujos membros eu não tinha o endereço postal ou por outro motivo digitalizei o cartão e o enviei, devidamente personalizado, por e-mail. Penso ter conciliado no Natal a tecnologia antiga e a nova.

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