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Mostrando postagens de janeiro, 2002

Hora de ação

Jornal O Estado do Maranhão Uma mulher, pacífica dona de casa da classe média da cidade de Campinas, em São Paulo, é seqüestrada. Dias depois, é levada de volta até a porta de sua residência e solta. Solta? É o que ela deve ter pensado. Mal deu alguns passos, foi fuzilada pelas costas. O piloto de um helicóptero é obrigado a pousar no pátio de uma penitenciária de segurança máxima. Máxima? Mínima. Durante a ação, um traficante de drogas foi libertado pelos comparsas sem o disparo de um tiro sequer pela polícia. O prefeito de Campinas, São Paulo, do PT, havia sido assassinado anteriormente. Para vergonha de nosso país, um outro prefeito, também do PT, de Santo André, na Grande São Paulo, foi seqüestrado, torturado e trucidado na semana passada. A violência, e particularmente o seqüestro, tornou-se, nos últimos anos, comum no Brasil. Já não provoca revolta, a não ser nos parentes das vítimas. Uma repórter, ao comentar o caso de Santo André, disse que a polícia suspeitava de um “seqüestr

Pesadelo

Jornal O Estado do Maranhão Não tem sido raro eu ter pesadelos, ultimamente. Eles não têm dia nem hora para me atormentar, pois aparecem quando bem querem. Às vezes, passo horas sem poder dormir, por medo do sofrimento. Mas, quando consigo dormir, acordo sobressaltado. É a tortura de ficar acordado, estando morto de sono, ou de ter de enfrentar o martírio do pesadelo, querendo ficar acordado. Que fazer? Tento ficar acordado, mas durmo. Tento dormir, mas acordo. Não durmo nem fico acordado. Durma-se com um barulho desses! Ou melhor, não se durma mesmo com o silêncio da madrugada! Por favor, não chamem nenhum analista, desses de avaliar a cuca das pessoas. Nem o próprio Freud resolveria meu problema. Ele é insolúvel. A fonte dos meus males, ele não a reconheceria, de tão moderna. Imagino o sofrimento de milhões de pessoas pelo mundo afora, que padecem do mesmo tormento. Tudo tenho feito a fim de evitar o estresse, eliminar o problema, ter paz. Sem resultado positivo nenhum. Chás quase nã

Razão

Jornal O Estado do Maranhão Se pudermos chamar algo de inato no ser humano, certamente será isso a propensão para a crença. Ela é tão poderosa em nós, sendo única no reino animal, que Edward O. Wilson, no seu Sobre a natureza humana , chega a dizer que “a predisposição para a crença religiosa é a mais complexa e poderosa força na mente humana e com toda probabilidade uma parte inarredável da sua natureza. [...] É um dos universais do comportamento social [...]”. Ocorre-me esse pensamento quando vejo os crescentes irracionalismo e obscurantismo na sociedade de nossos dias, no que respeita à proliferação de crenças exóticas. Sobre esse fenômeno, fala-nos o psicólogo norte-americano Michael Shermer, em recente entrevista à revista Veja . As formas mais próximas do nosso cotidiano são as relativas a magos, seres extraterrestres, duendes, bruxas, pirâmides, biorritmos, cristais e outras. Tenho escrito alguns artigos com a intenção de chamar a atenção dos leitores, sem desrespeito pela crenç

Argentina

Jornal O Estado do Maranhão Duas fundações teve Buenos Aires, para não restar dúvidas sobre sua vontade de viver. Duas vidas que são mais do que sete fôlegos. São sete vidas. Mais ainda, vidas dentro da vida. Como no labirinto de que nos fala o poeta portenho, o maior da língua de Cervantes, Calderón, Góngora, Quevedo, Lope de Vega. A primeira fundação, realizou-a D. Pedro de Mendoza, de Granada, em 1536. Puerto de Nuestra Señora Santa María del Buen Aire. Depois Buenos Aires. Bons Ares. Os conquistadores expulsos pelos índios e pela falta de comida. Mas, é ir lá e ver os bons ares dos vários rios, o Paraná, o Uruguai e o Salado, que formam um só, o da Prata, chegando todos, quase juntos, ao estuário. Bons também são os ares das ruas cheias de livrarias, de bioys casares e de borges, de tangos, de gardéis, de futebol, de maradonas, de elegâncias ostensivas, não discretas como as do Caetano de inspiração paulistana. Azul e branco em tudo. A segunda fundação foi por Juan Garay, em 1580,