3 de dezembro de 2017

Infestação

Jornal O Estado do Maranhão

          A infestação da maioria das redações dos grandes veículos de comunicação pelo “pensamento” esquerdista é matéria – uso esta palavra por ser ela objeto de veneração nesses lugares sagrados, onde existem altares a seu culto e se repete a toda hora o mantra sobre matéria atrair matéria – de um dos poucos consensos no Brasil, país tão disposto a tudo transformar em discórdia, até mesmo os argumentos acerca de comunistas terem direito de morar no Leblon, ou não terem, em apartamento com vista para o mar. Eles têm, sim, pobrezinhos! Nessas redações militam mais comunistas, é avaliação consensual, do que na China inteira, país nominalmente socialista, mas, na prática, capitalista, sendo esta a razão de o país vir crescendo tanto há tanto tempo, não por causa de imaginária sabedoria milenar chinesa.
          Pois são essas hordas de passivistas políticos cheios de indignação teórica (verdadeiros passivistas não vão às ruas, apenas insuflam as massas) que fazem proclamações sobre o “recuo” do presidente Temer, ao som de trombetas modernas de uso na internet, não só em impressos em jornal, a cada lance do complexo jogo político pela aprovação de medidas propostas pelo Executivo à Câmara e ao Senado, com o fim de tirar o país do buraco onde se encontrava até poucos meses atrás, metido lá pelas administrações petistas, durante 14 anos. O tom dos anúncios faz pensar a quem os lê pisando distraído nas estrelas que os projetos são de interesse pessoal do presidente e vitais à sobrevivência dele, de Michelzinho e de Marcelinha. O mais chocante, porém, é, nas proclamações, perceber-se assombrosa ignorância sobre o fazer político democrático.
          Se o Legislativo fosse obrigado a aprovar sem alterações os projetos que ali chegam, estaríamos na Coreia do Norte, não no Brasil. O recuo é apenas a aplicação da regra política mais elementar: cede-se em um ponto para garantir outro. Dilma e o PT tratavam o Congresso e as lideranças políticas a chicotadas. Terminaram sem mel nem cabaça. Afoitos, queriam ganhar tudo, e perderam. Temer, ao contrário, venceu todas as disputas até aqui, livrando o Brasil do caos. Se Dilma tivesse continuado, seria a queridinha das redações, dos blogs sujos e de Dallagnol – adepto do assassinato da moral pelo moralismo –, embora com o país no fundo do poço, com água pelo pescoço e sob forte temporal.
           Estas são marcas de habilidade: saber negociar; avaliar corretamente o momento de ceder ou não; agregar pessoas e não as desagregar, metendo-lhes os pés no traseiro; não se deixar levar pelas próprias idiossincrasias e as de outros; não subestimar os adversários, primeiro passo para a derrota certa. Em resumo, ser um político na melhor acepção da palavra. Não muitos possuem essas qualidades, como Temer possui, entre esses o presidente Sarney, que as tem de sobra.
          No Maranhão, as promessas de mudanças, sobretudo na economia e na política, prometidas há três anos em discurso com resquícios do obsoleto pensamento comuno-estruturalista, não se cumpriram nem se cumprirão. A ação da Polícia Federal e de diversos órgãos de controle mostra muito bem essa verdade. Vemos, em verdade, desculpas também velhas, no estilo Lula: “Eu não sabia, a culpa é do passado”.

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