19 de junho de 2016

Imagine-se magro

Jornal O Estado do Maranhão

          Eu me divirto bastante com especialistas de televisão, rádio e jornal. Às vezes penso que os mais engraçados são os da TV, em especial os participantes das onipresentes mesas redondas sobre futebol. Elas proporcionam aos autointitulados catedráticos do esporte a oportunidade de darem palestras hilárias, ao microfone, a milhões de pessoas e fazerem previsões quase nunca corretas. Mas, os das emissoras de rádio, em atitude de firme recusa a entregar o título do campeonato de obviedades, lançam, para ficar na linguagem futebolística, a bola nas costas dos da TV e saem proclamando vitória.
          Na Copa do Mundo de futebol de 2006, eu falava sobre a sapiência futebolística destes últimos em suas pseudoanálise da Seleção brasileira e da ignorância empavonada deles. Um leitor de Recife, Luiz Alfredo Raposo, me enviou, então, esta perceptiva mensagem: “Lino, não pegue muito pesado nos ‘comentaristas’, o mais divertido neles é justamente a ignorância. [...] Ah, essa turma com sua ignorância que não se conhece garante 24 horas de espetáculo durante as copas do mundo.”.
          Mas, insuperáveis, mesmo, merecedores de títulos mundiais de enrolação são os especialistas em perda de peso. Veja só, caro leitor, esta obra fundamental: Emagreça naturalmente com a dieta da Lua, escrito por uma tal de Franziska Von Au. Como entra a Lua nessa história, a acreditar-se na autora? Entra nas reações fisiológicas de quem segue a dieta, principalmente no poder calórico transmitido à alimentação. No quarto crescente, as calorias dos alimentos crescem, no quarto minguante, mínguam. Então o negócio é comer somente nesta última fase. Há na internet um saite com a recomendação para, quando a Lua mudar, você passar 24 horas sem comer nada. Assim, você perderá um quilo por semana. Mas, se não me engano, se alguém passar sistematicamente um dia inteiro sem comer, toda vez que a Lua mudar, vai perder até mais de um quilo, com ou sem a Lua.
          Vejam mais estes: Nutrição espiritual e a dieta do arco-íris; Dieta do amor: aprenda a gostar de si mesmo; O jejum como dieta opcional; Imagine-se magro. Este último recomenda inflexível preparação mental para emagrecer. Feito isso, o corpo responderá com a diminuição da vontade de comer alimentos que engordam e com o aumento do desejo por aqueles com o efeito inverso. Tudo a fazer, em seguida, é um pequeno exercício de caminhar até o bar da esquina e pedir uma cervejinha bem gelada e um bom tira-gosto. Aí, é só mentalizar a perda de peso. É infalível.
          Há quem proponha a proibição dessas obras, por exploração da boa-fé alheia. Eu, ao contrário, daria a elas incentivos, pelas piadas que são. Convocaria os assim chamados artistas, mas somente os que receberam grana sob o patrocínio da Lei Rouanet sem nunca contribuir com a prosperidade da sociedade, e os obrigaria, depois de aprovada lei adequada, a doar 90% da verba embolsada aos produtores de tais livros. Depois, faria os doadores involuntários organizarem passeatas carregando as seguintes faixas: “Não devo ficar sem fazer nada o dia inteiro. / Devo arrumar um emprego e parar de vagabundar.”, como os castigos que se davam nas escolas antigamente: “Não devo....”.

5 de junho de 2016

Tintim por tintim

O Estado do Maranhão

           O leitor já deve ter observado um dos meus temas recorrentes nesta página: a relação, no mercado de produtos e serviços, entre cliente e consumidor. Este, quase sempre, se vê diante de situações de desrespeito a seus direitos. Anteriormente, fiz aqui comentários sobre o papel dos Procons, em sua missão teórica de proteger a parte mais fraca, justamente o consumidor. Observei, então, que esses órgãos, em especial o do Maranhão, deveriam se preocupar, em vez de vestir a carapuça de antigo órgão de controle de preços, a SUNAB – Superintendência Nacional de Abastecimento e Preços, nome pomposo, a designar função inútil, e órgão extinto há muito tempo, em proteger exclusivamente o consumidor do não raro poder monopolista ou oligopolista de grandes empresas, esquivando-se por completo de controle de preços. A elevação destes só deve, em princípio, constituir preocupação se resultar de poder de mercado delas. Mas, a medida correta, neste caso, não é controle de preços. Em vez disso, ações de combate à concentração e de estímulo ao estabelecimento de mercados competitivos é a melhor solução. Se esses aumentos resultarem de processos inflacionários, controles são, ainda, menos justificados, tratando-se de problema a ser resolvido macroeconomicamente.
           Faço essas considerações como exemplo, nessa área, de minha experiência, que é, creio, representativa da maneira como as telefônicas tratam seus clientes: a pontapés, ou melhor, a socos, rasteiras, navalhadas e pontapés. Falo da famigerada TIM, com a qual já tive péssima experiência, em 2006, quando escrevi crônica com o título “Tim, sem tintim”.
           Eu havia tentado cancelar uma linha por telefone, sem conseguir. Fui a uma loja. Lá, inacreditavelmente, exigiram um pedido de cancelamento em forma de manuscrito no velho papel almaço. Isso mesmo, na munheca. Impresso por computador não seria aceito. Parece história da carochinha, mas não é. Uma empresa de alta tecnologia, rejeitando moderna tecnologia! Deve ser por isso que ela parece não ir bem das pernas. Em reação à crônica, um alto dirigente da telefônica me ligou, pedindo desculpas e garantindo que a TIM estava investindo na melhoria dos serviços. Era mentira, como percebo agora.
          Eu tinha, desde aquela época outro chip dela. Agora, após esse tempo todo, a TIM, sem me avisar, sem me dar qualquer satisfação, sem nenhuma consideração, como se um cliente de dez anos não contasse nada, deu meu número a outra pessoa, sob a alegação de eu ter passado mais de três meses sem usá-lo. O número está espalhado, em meu nome, por dezenas de sítios onde tenho cadastro, na internet. Posso, desse modo, já ter sofrido prejuízos, sem saber, em consequência dessa ilegalidade, por impossibilidade de comunicação daqueles sítios comigo. Tomarei providências legais, como já fiz com sucesso em circunstâncias semelhantes.
          Falo deste assunto para alertar outros consumidores que, potencialmente, estão sujeitos a agressões como essa. Cuidado com a TIM, caro leitor. Não se deixe enrolar. Ela pode lhe tomar o número sem se dar o trabalho de lhe dar satisfação alguma. Na televisão, no entanto, o cliente vai ao Paraíso. Eu quero viver no mundo de mentirinha da TIM, onde tudo é perfeito.

Machado de Assis no Amazon