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Mostrando postagens de julho, 2005

Um Trovão

Jornal O Estado do Maranhão     Somente muito depois, quando nos tornamos adultos, iríamos compreender a irritação da mãe de nosso amigo, o que então nos parecia pura implicância. Cada um de nós colocava seu melhor revólver e cartucheira e corria para sua casa, vizinha à nossa, se por acaso não era ele quem vinha. Íamos dispostos, a modo dos heróis dos filmes de bangue-bangue que víamos nos seriados de fim-de-semana no cinema Rialto ou nos gibis que colecionávamos com cuidados especiais, a lutar a favor do bem e contra o mal, em compenetrada imitação do “artista” e seu “companheiro”, ninguém querendo fazer o papel de “bandido”, ao “brincar de caubói”. Nos filmes, os nossos ídolos sempre se livravam de emboscadas, truques sujos dos bandidos e quedas em abismos. Estes pareciam estar ali apenas com o fim de deixar a platéia em suspense, pois nunca acontecia daqueles super-homens se precipitarem neles de verdade. Os caras malvados, sim, podiam cair à vontade. Na vida real, o perigo era o

Sigilo Quebrado

Jornal O Estado do Maranhão     No capitalismo, que nunca estaciona, mas, ao contrário, evolui constantemente, como afirmou repetidamente Karl Marx, existe um fenômeno chamado por Joseph Shumpeter de “destruição criativa”. Alguns setores e atividades da economia, e os empregos a eles vinculados, são periodicamente destruídos, porém recriados, com outras características, em novas áreas, de tal forma que, no balanço final, a destruição é compensada, mais ou menos na mesma proporção, pela criação. Essa dinâmica, segundo a visão shumpeteriana, surge das inovações tecnológicas introduzidas no sistema econômico, com apoio em estruturas de crédito, por firmas inovadoras, capazes, dessa maneira, de se apropriar, durante algum tempo, de lucros extraordinários. Evidentemente, não é consolo para os trabalhadores demitidos a existência de oportunidades de conseguir novos empregos. De qualquer modo, as chances não estarão ao alcance deles porque, de fato, eles só poderiam obter trabalho outra vez

Destroços

Jornal O Estado do Maranhão   Machado de Assis, agnóstico assumido, gostava de ler um importante livro do Velho Testamento: “Eu me consolo no desconsolo do Eclesiastes”, disse certa vez referindo-se a suas leituras bíblicas. Sigo seu exemplo. É dessa porção da milenar sabedoria judaica a afirmação de não haver novidades no mundo. “Não há nada que seja novo debaixo do céu e ninguém pode dizer : Eis uma coisa nova. Porque ela já houve nos séculos que passaram antes de nós”. Portanto, não devemos nos surpreender por ter a alta direção do novo PT se revelado tão corrupta e incompetente como se revelou, adotando práticas mais desonestas do que as apontadas nos seus antigos adversários. Mas, como todas as coisas têm o tempo certo, de acordo ainda com o Eclesiastes, havendo o momento de destruir e o de construir, pode ser que estivesse escrito desde sempre ser este o de CPIs. Se não forem por estas erguidos os fundamentos da eliminação da corrupção brasileira bem como da reconstrução moral

Rasas e Chatas

Jornal O Estado do Maranhão   Caro leitor, analise, por favor, cuidadosamente este texto: “A identidade sexual pode ser usada para os propósitos da hierarquia, segundo Sartre. Sontag, por sua vez, promove o uso do niilismo para modificar a sexualidade e sugere o uso do dematerialismo textual para destruir percepções obsoletas de identidade sexual, numa espécie de paradoxo autofalsificante. Sartre afirma ainda que a narratividade é usada para reforçar o sexismo, mas somente se a premissa do discurso neotextual for válida.” Agora, este: “Podemos ver claramente que não existe nenhuma correspondência biunívoca entre elos lineares significantes ou de arquiescritura, que dependa do autor, e esta catálise maquínica multirreferencial, multidimensional. A simetria de escala, a transversalidade, o caráter pático não-discursivo de sua expansão: todas essas dimensões nos removem da lógica do meio excluído e nos fortalecem em nossa renúncia ao binarismo ontológico [...].” Se ambos parecem destitu