9 de março de 2014

Patrulhas na Internet

Jornal O Estado do Maranhão

“Os dados da situação são bastante claros. Quando o mesmo governo que prepara, estimula e financia arruaças emite um decreto que lhe permite usar as Forças Armadas para reprimi-las, e quando, ao mesmo tempo, as autoridades e os arruaceiros se acusam mutuamente de “direitistas”, está na hora de o cidadão avisado lembrar-se, caso já os conheça, dos versos de Antonio Machado: ‘A distinguir me paro/ las voces de los ecos,/ y escucho solamente,/ entre las voces, una.’”
          O leitor não deixará, ao ler o trecho acima, do filósofo Olavo de Carvalho, autor, entre diversas obras de A longa marcha da vaca para o brejo: o imbecil coletivo, de lembrar um episódio recente de arruaças na Esplanada dos Ministérios e na Praça dos três Poderes em Brasília. Um dito movimento social, o MST – Movimentos dos Sem Terra, em demonstração de sua natureza violenta, capaz de destruir anos e anos de pesquisa científica em poucos minutos, como já fez mais de uma vez, sob a bandeira obsoleta de um problema residual no Brasil, a reforma agrária, bandeira comunista dos anos 50, tentou invadir tanto o Supremo Tribunal Federal quanto o Palácio do Planalto. Neste último caso a coisa era apenas encenação, como veremos logo a seguir, pelos laços íntimos entre o governo do PT e o MST.
          Pensam os leitores que por acaso não tiveram notícia do episódio que a Presidência da República soltou comunicado indignado reprovando os atos criminosos, ameaçando os autores com os rigores da lei e legítimo uso da força caso houvesse nova tentativa de avacalhação dos dois poderes da República objetos da bandidagem organizada? (A desorganizada já domina as ruas brasileira faz tempo). Não, a presidente da República, com aquele jeito hábil só dela de fazer quase tudo errado, explicando tudo num dialeto que não chega perto nem da língua búlgara nem do português, não só não se indignou – deduz-se do seu silêncio completo a respeito do crime –, como achou, como direi, chique convidar os líderes criminosos para um chá das cinco na sede do Poder Executivo.
           Ao pararmos com o fim de distinguir as vozes no meio do alarido da hora, procurando distingui-las de seus ecos, percebemos que em verdade existe apenas uma, a do governo petista. E podemos acrescentar: nada mais é, essa fala única, esquecendo por um minuto sua natureza criminosa, do que a realização apenas parcial do ideal do Partido de controle daquilo que numa linguagem pitoresca os petralhas chamam “mídia”.
          Não é por acaso que trago aos leitores, portanto, um fragmento de Olavo de Carvalho. Trago porque o filósofo foi vítima na semana passada ou na anterior da ação coordenada de patrulhas de justiceiros da internet formadas por gente do PT, claro, numa tentativa grotesca de calá-lo como uma das vozes brasileiras que, tendo preparo intelectual e consciência da necessidade de se levantar e dizer basta de indignidades, em especial as cometidas com dinheiro público da Caixa Econômica, do Banco do Brasil e da Petrobrás, representa um grupo de pessoas, entre elas Reinaldo Azevedo, Rodrigo Constantino e alguns outros, decididas a enfrentar a ameaça da voz única das correntes autoritárias esquerdista, dispostas estas não a prevalecer pela força de seus argumentos e aceitar a existência do pensamento divergente como fato natural da democracia, mas a destruir os inimigos (eles não têm adversários, tão só inimigos). A conta do filósofo no Facebook foi bloqueada clandestina e repetidamente até que solução definitiva a fim de evitar a repetição da sujeira fosse encontrada. Esse tipo de ação por força bruta, com o uso de recursos estatais, frequenta os sonhos dos facínoras a soldo do projeto ditatorial petista. É exatamente isso que eles pensam em fazer quando falam em “controle social da mídia”, com aquela baba bovina elástica de que falava Nelson Rodrigues escorrendo pelos cantos da boca, só de pensarem nos modelos bolivarianos semelhantes espalhados pelas Américas. A Venezuela, a Bolívia, o Equador e principalmente Cuba estão aí como maus exemplos.

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