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Mostrando postagens de maio, 2004

A China dos negócios

Jornal O Estado do Maranhão É antiga a expressão. Não faz muitos anos, as pessoas diziam, ao se referir a uma transação comercial em que tivessem obtido lucros fáceis: Fiz um “negócio da China”. Naturalmente, isso se aplica a situações de completo desequilíbrio no poder de barganha entre as partes, com vantagens para um dos negociantes apenas, em prejuízo dos outros. Com história milenar, a China teve seus primeiros contatos com os povos ocidentais ­ durante a dinastia Ming (1368-1644). Na época desses governantes, o império chegou à sua maior expansão, alcançando o domínio da Coréia e da Mongólia. Um período de declínio seguiu-se, com origem no esgotamento de recursos nacionais, como resultado da luta com algumas potências econômicas e militares da Europa, com os japoneses e com os povos da Manchúria. Uma nova dinastia (1644-1912), de conquistadores manchus, se estabeleceu. Após uma breve fase de paz o império entrou em conflito com os ingleses, principalmente, mas também com outros

Namoro nas prateleiras

Jornal O Estado do Maranhão Eu sou um freqüentador assíduo de livrarias. Muitas vezes, vou lá unicamente para namorar. Os livros, bem entendido, as mais recentes publicações. Eu chego, pego uma do meu agrado, vejo se é macia ou áspera, gorda ou magra, sinto a lombada, sua coluna vertebral, com a ponta dos dedos, dou um leve sopro na orelha, avalio a textura da pele, quero dizer, do papel, estimo, da cabeça aos pés, o tamanho, com meu olhar de profundo conhecedor, considero a palidez ou o rubor das caras, perdão, das cores e estimo furtivamente a adequação das formas, a simetria da composição, a suavidade das linhas e a possibilidade de ocorrência de defeitos à primeira vista ocultos, risco sempre presente em nossas escolhas, como me garantiu recentemente um amigo que acabara de se divorciar depois de passar anos acusando a ex-mulher de “falsidade ideológico-matrimonial”. Só então, (ó mundo materialista, governado pelo vil metal ou pelo ainda mais vil plástico do cartão de crédito!) me

Fora do ar

Jornal O Estado do Maranhão O leitor deve conhecer muito bem um tal de “sistema”, muitas vezes chamado de “computador”, entidade misteriosa, mas presente em qualquer lugar deste país. Ele é usado como desculpa para um bocado de coisas, sendo um cúmplice involuntário da ineficiência e irracionalidade burocráticas, assombrações de nossa vida diária, e do descaso e desprezo utilizados freqüentemente no tratamento dos usuários dos serviços públicos, bem como dos privados. Estes últimos, não se engane, não estão imunes a esses males, que plenamente justificam o uso do neologismo “kafkiano” como sinônimo de uma situação absurda. Chega-se a uma agência bancária com uma pressa danada, porque nenhum de nós tem tempo sobrando, na ilusão de sacar rapidamente uns trocados numa daquelas máquinas eletrônicas de liberar dinheiro da nossa conta. Eis, então, pela milésima vez, aquela temida mensagem: “o sistema está fora do ar”. Ele está, sim, é fora de tudo. Não adianta pedir ajuda, porque ninguém po

Incertezas

Jornal O Estado do Maranhão Para as crianças de classe média como eu, nos anos cinqüenta no distante bairro do Areal, depois Monte Castelo, era um grande acontecimento ficar doente de cama, se isso não indicasse algo grave. Uma gripe, uma queda, uma garganta inflamada, como essa a me incomodar agora, ao nos prender em casa, depressa tornavam realidade nosso desejo não tão secreto de faltar às aulas pelo menos por um dia. Nessas ocasiões, meu pai pegava no centro da cidade um dos carros de praça da época, no Posto Vitória, telefone 1400, com seus choferes, hoje taxistas, conhecidos de toda na cidade, com seus belos e pesados carros importados, e trazia o médico pediatra (as médicas eram raras ou inexistentes) para ver os filhos que deixara sob os cuidados da minha mãe, que os considerava uns santos, ao contrário dos pequenos amigos deles, legítimos capetas em forma de gente. Eu via nos médicos uma aura mágica e indefinível. Não me passava pela cabeça continuar doente por mais de vinte

Se não agora, Quando?

Jornal O Estado do Maranhão A revista Veja publicou na semana passada uma reportagem sobre corrupção e desperdício nos municípios brasileiros. A chamada de capa referia-se a “Uma Praga Nacional”. Descontados os possíveis equívocos factuais e um ou outro exagero, penso que a revista reflete com bastante fidelidade a visão e as imagens que o povo brasileiro, em sua grande maioria, tem das administrações municipais. Raramente um mês passa sem se ler na imprensa notícias sobre irregularidades nelas, de norte a sul do Brasil, no Executivo e no Legislativo. As denúncias referem-se tanto às grandes cidades, como São Paulo, quanto às menores, de todas as regiões do país. Os prefeitos, presidentes de Câmaras e vereadores acusados têm apresentado em sua defesa explicações folclóricas, algumas, da mais autêntica desfaçatez, outras. Claro, os maus dirigentes não são a maioria. Sendo, porém, minoria atuante e não tão pequena assim, acabam revelando à sociedade algo de podre nesse reino. O prefeit