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Mostrando postagens de junho, 2003

Ficar

Jornal O Estado do Maranhão   Ouço por todos os lugares aonde vou aquela conversa sobre as maravilhas do passado: “No meu tempo, sim, era bom”. E lá vem discurso sobre coisas supostamente originais que se faziam e não se fazem mais – como se houvesse novidades sob o Sol e sobre a Terra –, sobre os jovens não saberem como o mundo era melhor naquela época, sobre aventuras que, acho eu, parecem aos de hoje do tempo do Noé de antes do dilúvio, tudo num infindável lamento, parecido com o do personagem de Machado de Assis, Dom Casmurro. Este tentou unir as duas extremidades da existência, a juventude e a velhice, construindo, já na meia-idade, uma nova casa, copiada daquela de sua infância no Rio de Janeiro do século XIX. “O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência”, diz ele logo no início do livro. Será isso mero saudosismo? Não poderia ser a perene tentativa dos seres humanos de voltar no tempo, a fim de escapar, ainda que apenas simbolicamen

As crônicas

Jornal O Estado do Maranhão Fazem-me perguntas, alguns leitores, sobre a natureza da crônica e sobre os bons cronistas. A resposta não é fácil. Para início de conversa sem exigência de terno e gravata, conversa idealmente descontraída, sem muita sisudez, como um domingo no circo, digo que a mim parece não haver uma definição amplamente aceita a respeito desse tipo de prosa. Tal indefinição tem levado muita autoridade no assunto a classificar como crônica tudo aquilo que nós chamamos assim. Do ponto de vista da etimologia, a palavra tem origem no latim chronica , chronicorum , “relato de fatos em ordem temporal, narração de histórias segundo a ordem em que se sucedem no tempo”. Há, porém, sutilezas nos significados dela, adquiridos desde sua incorporação, no século XV, à nossa “Última flor do Lácio, inculta e bela”, para ficar com a comum expressão, herdada do parnasiano Olavo Bilac, usada em referência a nossa língua, o que bem mostra a força desse poeta de verdade e a verdade de out

Há esperança

Jornal O Estado do Maranhão Um projeto de lei chega ao Congresso Nacional, é analisado por várias comissões, na Câmara dos Deputados e no Senado, e discutido durante quase um ano. Incorpora diversas sugestões de senadores e deputados e de grupos de interesses, vamos dizer, legítimos, recebe parecer favorável, vai a votação nos plenários das duas Casas, é aprovado com larga maioria e segue para sanção pelo presidente Lula, a primeira dele. Ele aproveita a oportunidade para dizer, em cerimônia pública, que, embora houvesse quem achasse que algumas leis pegam e outras não, aquela iria pegar. Finalmente, a lei completa o nascimento legal com sua publicação no Diário Oficial da União e passa a ser conhecida como o Estatuto do Torcedor. Aí, a cartolagem do futebol brasileiro faz uma descoberta sobre ela, que nasceu para ajudar na modernização da administração esportiva no Brasil. Seu cumprimento seria quase impossível, por causa dos supostos absurdos de alguns de seus artigos. Vem em seguid