22 de janeiro de 2014

PANORAMA BRASILEIRO


PANOMARAMA BRASILEIRO

Copa do Mundo

- O estádio de Curitiba para a Copa do Mundo bateu todos os recordes de atraso. Ninguém sabe se será possível utilizá-lo para a Copa. A imagem do país vai melhorar.

- Dilma Roussef vai inaugurar secretamente o estádio de Natal. Já chega de ouvir vaia dos torcedores.

- Sete das dez obras de reforma e ampliação dos aeroportos nas cidades que sediarão a Copa, todas de responsabilidade do setor público (INFRAERO), estão em média 6 meses atrasadas. Pra quem gosta do bafo estatal no pescoço é uma boa.

       Quem vai se curvar ante o Brasil agora não é mais a Europa, é o mundo e quiçá o universo em quarta dimensão. Os gringos vão ficar de queixo caído com a eficiência, honestidades e cultura do jeitinho brasileiras.
      

Outras

- A Biblioteca Nacional de Brasília fechou por falta de segurança em seu entorno e ameaças de gente do craque (usuários e traficantes). Cuidado, dirigentes da Biblioteca, vocês ainda serão acusados de tentar cercear o direito de ir e vir desse pessoal vítima do sistema.

- Miriam Leitão deu uma aula aos empresários hoje no Bom Dia Brasil, da Globo. Ela ensinou a eles, que não sabem nada, principalmente administrar empresas, o tipo de mão de obra que deve ser contratada: jovens estudantes inexperientes que vão aprender tudo em poucos dias. Pronto, está resolvido o problema do desemprego. A taxa recorde divulgada hoje vai cair logo, logo.

19 de janeiro de 2014

A culpa de cada um

Jornal O Estado do Maranhão

          Há importante debate a ser feito, antes de qualquer outro, quando se vai discutir indicadores de violência: o da liberdade de escolha ou da ética da responsabilidade pessoal.
          Não há evidências empíricas consistentes de haver relação de causa e efeito entre os indicadores de pobreza-desigualdade de um lado e os de violência de outro. Se os primeiros fossem causas necessária dos segundos e devêssemos ter como aceitáveis meios espúrios (criminalidade) com o fim de justificar fins “nobres’ (justiça social), então estaríamos às portas de inevitável revolução. Porém, não vejo hordas de sans-culottes em avanço sobre alguma bastilha de uma burguesia amedrontada. Ou constituirão os rapazes dos rolezinhos e os anarquistas black blocs a vanguarda da nova revolução soviética? Se a relação existisse, a taxa de criminalidade deveria diminuir quando diminuíssem a pobreza e a desigualdade. Estas, no entanto, nos últimos anos, tiveram quedas no Nordeste, mas a taxa de violência subiu na região em vez de baixar.
          Cada pessoa, não importando seu nível de renda, faz opções éticas pelas quais só ela é responsável, não um “sistema injusto” que a obrigaria a entrar no mundo da delinquência. Escolhe-se ser criminoso ou não sê-lo. É preconceituoso com a quase maioria absoluta dos pobres honestos achar que, quando optam por viver à margem da lei, assim o fazem obrigados pelo baixo nível de renda. E os jovens delinquentes das classes média e alta, qual a razão do comportamento deles? Deixemos o famoso “sistema” fora dessa história.
          Não devemos ser compreensivos com o crime, não importa o fim a que possa servir. Não tem essa de vítimas de forças malignas superiores. Contudo, para fazer valer de modo civilizado as condenações, precisamos de penitenciárias decentes. Investir nelas é promover a segurança pública, ao contrário do entendimento do senso comum. Estudo do IPEA, “Evolução e determinantes da taxa de homicídios no Brasil”, mostrou que "prender mais bandidos e colocar mais policiais na rua são políticas públicas que funcionam na redução da taxa de homicídios".
          Qual nossa culpa individual, objetiva, pela violência? Nenhuma, assim como não teríamos responsabilidade pela escravidão se nossos antepassados tivessem sido donos de escravos. Aliás, como atribuí-la coletivamente? Ela é sempre individual. Se todos são culpados ninguém o é. Ou só o é no sentido de que “se sentir culpado é um dos modos mais típicos da consciência moral”, como diz Felipe Condé. As onipresentes brigadas politicamente corretas diriam que só os pobres (“o povo”) são inocentes, pelas suposta virtudes roussaunianas deles. Mas não trato desse sentido aqui. Refiro-me a julgamento histórico. Neste, como no mundo jurídico, vale o princípio de individualização da culpa. Cada um, endinheirado ou não, deve pagar pela sua.
          Os problemas de hoje não são em sua maioria devidos à falta de recursos, mas à aplicação ruim dos existentes, tanto pela ineficiência intrínseca do setor público acentuada pelo aparelho político quanto pela corrupção.
          Influenciada pelo ainda hegemônico pensamento de esquerda, a sociedade tem atitudes negativas com relação a conceitos como liberdade, democracia, iniciativa individual, economia de mercado, repressão à delinquência, combate à corrupção, etc.; suas instituições, entre elas a Justiça, não funcionam a contento, provocando descrença cívica entre os cidadãos de todas as condições sociais; lucro entre nós é furto, não fonte de crescimento adicional; nossa democracia é condescendente com a violência e a tortura; as polícias são vistas com desconfiança pelo homem comum; o arcabouço político é autista em relação às demandas dos cidadãos. Esse conjunto apenas exemplificativo freia o desenvolvimento e leva, muitas vezes por sentimento de culpa dos encarregados de agir, ao bloqueio de legítimas ações estatais de legítima repressão.
          Como começar a sair dessa armadilha? Precisamos de uma revolução cultural, mas não como a de Mao, na China comunista. Como iniciá-la? Com a implantação de qualificado aparelho educacional, como foi feito, para dar exemplo notável, na Coreia do Sul. Injustiça de fato inaceitável contra os cidadãos é privá-los de boa instrução, bem de caráter intangível todavia de crucial valor, pois proporciona a eles aumento de renda (aqui, sim, centenas de estudos mostram relação de causa e efeito), despertar de consciência ponderada sobre seus direitos, visão informada sobre suas escolhas, etc. Outros investimentos, inclusive em penitenciárias, devem ser feitos e medidas complementares tomadas, claro.
          É de enorme importância também fazer reforma política que estabeleça relação direta entre representante e representado, permitindo a este cobrar daquele o exercício do mandato em favor de suas necessidades e não do parlamentar, eliminando-se a mania de acusar os eleitores de não saber votar. Houvesse mecanismos de controle do exercício do mandato político, poderiamos ver a falácia de afirmação como essa.

17 de janeiro de 2014

Rolezinho e mistificações baratas

REINALDO AZEVEDO
O pobrismo racialista é a mais vistosa manifestação de vigarice intelectual do jornalismo e da academia
Setores da imprensa e alguns subintelectuais, com ignorância alastrante, tentaram ver o "rolezinho" como manifestação da luta de classes. Os shoppings, chamados de "templos de consumo" por bocós dos clichês superlativos, seriam a expressão mais evidente e crua do "fetichismo da mercadoria", uma estrovenga que "sedizentes" marxistas não conseguem definir sem engrolar incongruências e abstrações inanes. Deu errado. Boa parte dos shoppings está nas periferias e é frequentada por pobres. Quando a luta de classes falha, é o caso de convocar a guerra racial.
Mais uma vez, a PM é vista como algoz, e "jovens pobres, negros e da periferia", como arautos de um novo tempo. Os deserdados da "modernização conservadora" teriam decidido invadir o espaço privado do capitalismo excludente: o shopping! Quanto besteirol, Santo Deus!

O "rolezinho", na sua atual configuração, é uma criação da imprensa. Os "brancos da nossa classe" fazem "flash mobs". Já os pobres negros, vistos com curiosidade antropológica, fazem "rolezinhos", que são exaltados em nome da diversidade. O pobrismo racialista é a mais vistosa manifestação de vigarice intelectual do jornalismo e da academia. Esse olhar que supostamente defende os "excluídos" acaba por confiná-los num gueto conceitual, numa jaula de boa-consciência.

Jovens que aderem a eventos por intermédio do Facebook não são excluídos sociais, mas incluídos da cultura digital, que já é pós-shopping, pós-mercadoria física e pós-racial. O que mais se troca nas redes sociais são bens simbólicos, são valores, que definem tribos e grupos com pautas cada vez mais específicas.

Está em curso, entre pobres e ricos, brancos e negros, uma espécie de fetichização, sim, mas é a da vontade. Cada um desses nichos de opinião considera que tem o direito de impor a sua pauta ou seus hábitos ao conjunto da sociedade --se necessário, pela força. Os que fazem "rolezinhos" não estão cobrando mais democracia, como quer a esquerda rosa-chique. Eles manifestam, na prática, é desprezo pela cultura democrática. E são bem-sucedidos. Fernando Haddad os chamou para uma reunião na prefeitura. A ministra Luiza Bairros lhes atribui uma agenda libertadora. Imposturas!

Não se percebia, originalmente, nenhuma motivação de classe ou de "raça" nessas manifestações. Agora, sim, grupos de esquerda, os tais "movimentos sociais" e os petistas estão tentando tomar as rédeas do que pretendem transformar em protesto de caráter político. Se há, hoje, espaços de fato públicos, são os shoppings. As praças de alimentação, por exemplo, são verdadeiras ágoras da boa e saudável democratização do consumo e dos serviços. Lá estão pobres, ricos, remediados, brancos, pretos, pardos, jovens, velhos, crianças... Lula, que é Apedeuta, mas não burro, jamais hostilizou essa conquista dos ex-excluídos. Só o cretinismo subintelectual cai nessa conversa.
Ocorre que o jornalismo e a academia são reféns morais das ideias mortas que oprimem o cérebro dos vivos. Continuam na expectativa da grande virada de mesa, uma ilusão redentora que só sobreviveu na América Latina. Se os participantes dos "rolezinhos" fossem rebeldes políticos, ainda que primitivos, o seu papel seria o de uma protovanguarda revolucionária à espera do Lênin dos shoppings.

Para encerrar, uma curiosidade: por que jornalistas se referem a frequentadores habituais de shoppings como "gente de bem", assim, entre aspas, como se quisessem sugerir que eles, na verdade, são do mal? O que há de errado, coleguinhas, com aquela gente? Ela assina os jornais e revistas que fazemos, lê as coisas que escrevemos nos portais, sites e blogs e, na prática, paga os nossos salários. Quando menos, parem de cuspir no prato em que comem. Aquela gente de bem, sem aspas, é inocente.

5 de janeiro de 2014

Quanto tempo!

Jornal O Estado do Maranhão

          Já se passaram muitos anos. Eu tinha apenas 10 anos. O ano de 1958 marcou o início da incomparável ascensão brasileira no mundo do futebol mundial.
          Na Copa de 1938, nossa seleção havia terminado em terceiro lugar e Leônidas da Silva, o Pelé da era pré-Pelé, havia sido o artilheiro da competição. Suas extraordinárias habilidades fizeram com que uma fabricante de chocolates desse o nome de Diamante Negro, forma como ele era chamado, a um de seus produtos e até hoje fabricado.
          Em 1950, veio o drama da perda da Copa, realizada aqui mesmo, frente ao Uruguai. No entanto, se olhássemos nossa posição no torneio com olhos de estatístico, haveríamos de perceber o progresso do Brasil, pois fomos do terceiro lugar ao segundo entre uma Copa e a seguinte. Mas, é evidente, ser vice-campeão nas circunstâncias daquele ano era equivalente a ser o lanterna. Nada consolaria o torcedor. Daí nasceu o clima emocional que levou à famosa tirada de Nelson Rodrigues acerca do complexo de vira-lata do brasileiro.
          Nossa participação na disputa de 1958 foi nesse ambiente de vira-latismo, acentuado depois da eliminação do Brasil no confronto com o bicho-papão da Copa de 1954, a Hungria de Puskas e outros grandes jogadores. Nelson Rodrigues, sempre ele, disse então: “Acabou o exílio. A seleção partiu para a Suécia”. O descrédito da nossa equipe era imenso. Ninguém, com exceção talvez do próprio escritor, acreditava em nosso sucesso. Era preciso ver a imprensa e seus especialista de época de Copa do Mundo. Cada um mais doutoral do que o outro, decretava a morte do futebol brasileiro. A vergonha ia ser grande, voltaríamos os vira-latas de sempre. Provaram que não se deve confiar em especialistas. O resto da história é de domínio geral: apareceu Pelé, ganhamos a Copa e quatro outras nos anos seguintes de lá até aqui. O complexo de vira-lata foi parar na lata de lixo.
         Para o garoto de 10 anos, foi um ano inesquecível, esse de 1958, mas não apenas pela vitória na Suécia. Houve outro acontecimento inesquecível, a ameaça das tropas rebeldes cubanas de tomar Havana, onde estava a sede do governo. A imprensa e, particularmente, a revista Cruzeiro, na época a de maior tiragem e a mais influente, faziam longas reportagens ilustradas com quantidades generosas de fotos dos guerrilheiros barbudos liderados por Fidel Castro e outros, mostrando o movimento deles em direção à capital. Os charutos, a barba longa, a aura de combatentes pela liberdade e de pureza de propósitos, o entusiasmo juvenil daqueles homens, a simpatia de grande parte dos meios de comunicação, tudo contribuía com o entusiasmo da maioria pelos rebeldes. Eu levava horas lendo os jornais e revistas e, principalmente, admirando vagorosamente as figuras de Fidel e Raúl Castro, Camilo Cienfuegos, Che Guevara que aos poucos iam formando uma imagem bastante positiva da revolução em andamento, criando esperanças não apenas no povo cubano, mas também ao redor do mundo acerca das boas intenções revolucionárias e de um belo futuro de prosperidade geral à espera do povo cubano bem ali na esquina.
          A Revolução, infelizmente, degenerou numa ditadura feroz e longeva e foi rotulada de comunista pelos seus líderes. Tão feroz e tão longeva que eu, hoje no grupo de pessoas classificadas de idosas, conheci como governantes da bela ilha caribenha nesse tempo todo apenas os irmãos Castro. Tenho lembranças do presidente deposto, Fulgêncio Batista. Contudo, muito do que me lembro dele, são recordações construídas a posteriori, em leituras nos últimos cinquenta e seis anos decorridos desde então. Isso não é, para dizer eufemisticamente e em linha com o espírito de moderação de passagem de ano, sinal de espírito democrático. Afinal, como pode haver democracia de partido único? A invocação do demônio americano serve à explicação de todos os fracassos do atual regime cubano e da manutenção de uma ditadura que, se não é a mais antiga do mundo, está disputando a Copa do Mundo do assunto, com chances elevadas de vencer.
          É, já se passaram de fato muitos anos desde então.

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