Jornal O Estado do Maranhão
Sogra foi sempre personagem avaliada por gente cujo senso de justiça é nenhum, é evidente, como a super-mãe chata e inconveniente, determinada a dar palpites indesejados sobre a vida dos filhos casados. Rejeitada por genros e, em especial, pelas noras, ela tem sido uma eterna injustiçada. Se o neto da pobre coitada não vai bem na escola, anda fazendo ou falando besteira, não tem disciplina para nada, anda fumando e cheirando substâncias suspeitas, a culpada é ela que vive mimando, com presentinhos a toda hora, o júnior, rapaz de ótimo comportamento, exemplar na ausência dela. Ela, acusam com preconceito, estraga o cara. Já nem falo do que dizem (as noras, sempre elas) sobre a imaginada mania de a sogra se considerar uma sabichona e de avaliar as mulheres dos filhos como ignorantes de tudo e mal-educadas.
Pois foi com o objetivo de dar uma demonstração prática de sua discordância com avaliações preconceituosas como essas e mostrar o quanto ama a sua sogra que o governador do Ceará, Cid Gomes, irmão de Ciro Gomes, por assim dizer candidato a presidente da República, alugou um jatinho executivo, com dinheiro do governo chefiado por ele e saiu pelo mundo, principalmente por terras anglo-saxônicas, onde as sogras são muito consideradas, segundo me informaram, acompanhado de assessores, da mulher, que compreensivelmente ficaria magoada por não ter a companhia da mãe durante a viagem, e da própria injustiçada, pelo visto uma espécie de ente sagrado no coração e mente de Cid.
Tudo em nome dos nobres princípios da harmonia familiar, e apenas por isso, pois nunca lhe passaria pela cabeça usar dinheiro público para gozar o bem bom da vida ao custo de abandonar a mãe de sua amada no Ceará, sem a presença reconfortante da filha e sem o apoio caloroso do genro. O preço a pagar em termos de conflitos familiares seria muito alto. “Excelente, não poderia ser melhor. Só de tratar bem minha filha já é muita coisa”, foram as comovidas palavras da sogra a respeito de Cid Gomes. Ela, pelo menos nas fotos mostradas pela imprensa, tem um ar mais juvenil do que o da filha, embora já com algumas décadas de experiência de vida. Não se sabe se o governador mandou pagar as eventuais cirurgias plásticas dela. Se o fez foi seguramente com a grana dele, pois é preciso ter princípios, como o governador, e não misturar o público com o privado.
Quando fizerem o concurso de genro do ano no final de 2008, ganhará com louvor o título de campeão. Sempre haverá os céticos, que não perdem oportunidade de inventar alguma intenção oculta nos atos das pessoas e, em especial, nos de governadores e outros políticos. Mas, de qual pecado secreto se trataria neste caso? A verdade é esta. Ninguém merece mais a honraria do que ele, pois genro nenhum jamais chegou sequer perto dele na arte de agradar a avó de seus filhos.
Nunca antes neste país, houve tanto amor entre dois seres vistos equivocadamente como inimigos irreconciliáveis. Poucos teriam a coragem dele, de vir a público declarar um sentimento tão forte, de não escondê-lo, de proclamá-lo ao Brasil inteiro, e até a povos estrangeiros, de reafirmar sua crença corajosa no amor de sogra, pois não ocorreria a ninguém a hipótese de haver algo inconfessável, menos nobre, entre ele e ela. Fosse isto verdade, ele se tornaria mero personagem de Nelson Rodrigues, parecido com Palhares, o canalha, que, morando na casa do sogro, atacava as cunhadas pelos corredores, numa época de muitas cunhadas e cunhados, porque as esposas se dedicavam intensa e exclusivamente, por circunstâncias sociais e econômicas da época, à tarefa da reprodução da espécie, não sei se com entusiasmo ou tão só por dever de ofício.
Falar mal da sogra? Nunca. Pelo menos no Ceará não tem disso, não.