1 de fevereiro de 2009

Barak Hussein

Jornal O Estado do Maranhão,

Barak Hussein Obama contrariou os desejos dos serviços de segurança dos Estados Unidos ao determinar que as normas até agora vigentes de uso de telefone celular pelo presidente mudem: “Eu mesmo uso o meu e, por favor, providenciem um à prova de escuta”. Se não foi exatamente assim, disse a mesma coisa com outras palavras. O mesmo vale com respeito ao uso da internet por ele. Conhecedor da rede mundial como usuário experiente, o presidente americano deseja enviar e receber seus próprios e-mails pessoais, sem ninguém servindo de intermediário, bisbilhotando sua conversa com a mulher, filhas e cachorro.
O presidente começa a colocar sua marca nas políticas interna e externa americanas. Um enviado especial já está no Oriente Médio com a missão de tratar do conflito entre israelitas e palestino. Esperam-se daqui em diante abordagens menos parciais em favor de Israel de parte dos Estados Unidos. A vergonhosa prisão de Guantánamo, centro de tortura oficial, localizada em território cubano e administrada pelos americanos, em breve será passado a ser esquecido. As relações com Cuba têm chance de melhorar e a retirada das tropas americanas do Iraque são uma possibilidade de realização iminente. Na frente interna, Obama acaba de aprovar na Câmara dos Deputados pacote de ajuda à economia, alternativa infinitamente melhor do que cruzar os braços e esperar as empresas, grandes e pequenas, irem para o buraco junto com milhões de empregos. Quem tiver melhor solução, por favor levante o braço.
Ninguém, naturalmente, cometerá o erro de pensar que uma superpotência como os Estados Unidos de repente deixará de defender pela força, se preciso, seus interesses vitais no mundo. Nenhuma nação, tendo a capacidade de assim agir, deixará de fazê-lo. Agora, porém, os americanos não revogarão consolidados ideais dos pais fundadores, como o direito a julgamento justo e renúncia à tortura. Sabe-se de métodos ilegais de combate ao inimigo muitas vezes usados por eles em suas incursões militares pelo mundo. Contudo, sempre pagaram um tributo retórico a princípios humanitários tradicionalmente adotados em seu próprio território, apesar das imperfeições de seu sistema político.
Bush quebrou uma longa tradição ao implantar formalmente o uso de tortura no exterior a fim de obter informações de prisioneiros. Renunciou a princípios, implantou a barbárie legalizada. No entanto, nenhum outro país tem a capacidade americana de se reinventar permanentemente, como acaba de acontecer com a eleição de Obama, negro, filho de africano não escravizado, a não ser pelo álcool, e mãe branca não convencional. Ele teve vivência no maior país muçulmano do mundo, a Indonésia, nasceu no distante Havaí, mas seu mandato de senador é do tradicional Illinois. De mulçumano tem também o nome, Hussein.
Há esperança, sim. De onde surgiu esse homem, pergunta Saramago. Pretendo ver no inegável e permanente renascer ianque esse nascer de Obama. Tal fenômeno, não deveria ser visto como tão inesperado. Não consigo imaginar, por exemplo, um filho de argelino governando a França nem de um de turco, a Alemanha. Isso diz muita coisa. Essa a grande força simbólica americana, todavia real.
Obama é homem antenado com o mundo moderno. Entende as potencialidades da moderna tecnologia, como se vê de sua intimidade com a internet, chave do sucesso de sua campanha, que por esse meio e partindo do zero, captou contribuições de milhares de pequenos doadores, mudando a ênfase anterior nos grandes, na política americana.
As mudanças em início de implantação não são apenas de políticas, mas de visão do mundo e do ser humano e do papel de uma grande potência eocnômico-militar. Ele dá a impressão de ser um político honesto. Seria ocioso dizer mais que isto. Sim, há esperança.

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