5 de outubro de 2008

Machado de Assis

Jornal O Estado do Maranhão

A segunda-feira passada, 29 de setembro, assinalou cem anos da morte de Machado de Assis. Apesar das vozes discordantes, que já se levantavam quando ele estava vivo e consagrado, sem a capacidade, porém, de estancar o crescimento da glória do grande escritor, cuja fortuna crítica cresce quase diariamente, ele tem tido aprovado com louvor, no maior teste a que um artista pode se submeter, o do tempo. Quantos escritores tiveram em sua época os aplausos das multidões, logo emudecidos, mal eles desceram aos “lugares pálidos, duros nus”, de que nos fala Adriano. Nas Fontes para o estudo de Machado de Assis (1958), J. Galante de Sousa nos dá, para os anos entre 1857 e 1957, 1.884 verbetes com referências a Machado. A Bibliographie descriptive, analytique et critique de Machado de Assis (1965), de Jean-Michel Massa, autor do melhor livro sobre o jovem Machado, A juventude Machado de Assis, 1839-1870: ensaio de biografia intelectual (1971), relaciona mais 132 relativas a 1957 e 713, a 1958. Ubiratan Machado (2005), em Bibliografia machadiana, 1959-2003, acrescenta 3.282, de 1959 a 2003, como indicado no título. No total, 6.011 verbetes Sabendo-se, no entanto, ser quase impossível a localização de tudo que se tem escrito sobre ele na imprensa, ou de todos s livros com estudos sobre ele. Pode-se, assim, dizer que o total deve ser maior e deverá ainda aumentar até o fim deste ano e depois. Os luxuosos Cadernos de Literatura Brasileira, nos seus números 23 e 24, publicados como um volume único dedicado a ele, reproduzem e ampliam, ano a ano, sob o título Cronologia de Machado de Assis, o trabalho de Galante de Sousa, a mais importante fonte sobre sua vida. Até agora, foram identificadas 209 menções escritas a sua obra, com média anual de 4,1, entre o início de 1857 e o final de 1907, ano anterior de sua morte. Apareceram mais 461, ou 14,9 por ano, em média, entre os anos de 1908 e 1938, este último imediatamente anterior ao do centenário de seu nascimento. De 1939 a 1957, logo antes do cinqüentenário de sua morte, foram outras 1.346, com média anual de 74,8, acima de seis por mês. Foram localizadas mais 3.995 entre 1958 e 2003, produzindo média por ano de 86,8, ou mais de sete por mês. A média não apenas cresce, mas o faz a taxas crescentes em todos os períodos delimitados por datas significativas com respeito a Machado, exceto no último. Quantas novas referências terão aparecido entre 2003 e 2008! Sua obra tem essa capacidade de falar às novas gerações, de oferecer novas leituras com o passar do tempo, de se refazer com novos leitores, sinais de permanência e de universalidade. Este último aspecto, é bom lembrar, tem sido objeto de amplas discussões no corpo da fortuna crítica de Machado de Assis. Seria, principalmente, nacional ou universal sua obra? A crítica tem se dividido entre as duas posições, alguns estudiosos colocando ênfase na dimensão nacional, outros nos aspectos universais. A quase 170 anos de seu nascimento a 21 de junho de 1839, no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, e a 100 de sua morte em 1908, na cidade onde nasceu, a admiração de seus leitores é ainda mais intensa e crescente do que o foi no seu tempo. Não será exagero comparar tal destino, no que ele evidencia a capacidade que tem de dialogar com as sucessivas gerações, a figuras universais como Dante, Cervantes, Shakespeare e Camões. A posição de Machado na nossa cultura é ímpar. Importantes críticos (Sílvio Romero, Araripe Junior, José Veríssimo, Astrojildo Pereira, Lúcia Miguel Pereira, Augusto Meyer,Alfredo Bosi, John Gledson, Roberto Schwartz, etc.) têm se debruçado sobre seu legado literário, gerando uma multiplicidade de pontos de vista, o que mostra o lugar privilegiado que ele ocupa em nossa literatura.

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