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Mostrando postagens de dezembro, 2000

Ano, século, milênio

Jornal O Estado do Maranhão Chegamos ao fim do ano e do século.Pelo menos desde que, há 1500 anos, o papa João I encarregou o monge Dionísio Pequeno de preparar um sistema de contagem do tempo, para uso no mundo católico, sempre houve intermináveis e inconclusivos debates a respeito da data certa para a comemoração da passagem. Este ano e em 1999, o interesse foi ainda maior, porque não estamos somente no fim e no começo dos séculos XX e XXI, mas de um milênio também. A polêmica se dá, em parte, pelo erro do monge em não considerar o ano zero nos seus cálculos. Imediatamente após o ano 1 a.C., ele colocou o ano 1 d.C como o marco inicial da era cristã. No entanto, se queremos tomar Cristo como base de nossa contagem, então devemos marcar o ano de seu nascimento como 0 e não 1. Pelo sistema de Dionísio, quando Cristo completou 1 ano de idade a seqüência já estava, paradoxalmente, no ano 2 de sua era; quando ele tinha 2 anos ela estava no 3 e assim por diante. É fácil ver, também, que o

Mudaria o Natal...

Jornal O Estado do Maranhão A história do cristianismo é admirável. Como foi possível a um grupo de homens simples do povo, rudes, sem luzes, fundar uma religião que viria a ser, menos de quatro séculos depois da morte de seu criador, a religião oficial do império romano? Quem, vendo ou vivendo as perseguições, por motivos políticos, principalmente, sob os imperadores Nero, Décio, Diocleciano e Galério, poderia prever a glória terrena da igreja de Cristo de coroar reis e rainhas e substituir o próprio império por outro? Que milagre foi esse? Será lícita aos crentes a alegação da justeza dos ensinamentos de Cristo e do caráter de revelação divina da sua palavra. Naturalmente, outras religiões poderão socorrer-se de argumentos semelhantes para sua autojustificação. Não estamos impedidos, porém, de procurar o que Edward Gibbon, no seu justamente famoso Declínio e queda do império romano , chama de “segundas causas”. Diz ele que as principais razões para vitória tão espetacular foram o zel

Defeito nas linhas

Jornal O Estado do Maranhão Sou favorável à privatização de empresas estatais. Elas sempre foram feudos ineficientes de tecnocracias muito eficientes na defesa de seus interesses, mas pouco dedicadas aos de seus usuários. O patrimônio delas era, de fato, do povo, conforme as palavras de ordem de sindicalistas nas passeatas contra as privatizações. Pena que foi apropriado, com boa parte dos lucros, pela burocracia dirigente. Mas não foi para humilhar os usuários que se fizeram as privatizações. É isso, infelizmente, o que está ocorrendo. A Telemar, a Amazônia Celular e a Embratel aumentaram a oferta de linhas telefônicas? Estão acabando com as filas de espera? Diminuíram os preços? Estão oferecendo mais serviços? Ótimo, palmas para elas. Era isso mesmo que se esperava. Se não houvesse sequer essas melhoras, melhor seria deixar tudo como dantes. E o usuário, como está sendo tratado? O que se ouve diariamente dos amigos, se lê nos jornais e nas revistas, se vê na televisão, se conhece por

A ponte e a ponta

Jornal O Estado do Maranhão   Atravessar a ponte de São Francisco é passar de uma cidade a outra. O nome é o mesmo, São Luís, mas não a cidade. Uma, a velha, foi fundada pelos franceses, a outra, a nova, não foi fundada, brotou. Ir da Beiramar para o São Francisco, pela ponte, não é ir. Para mim, é voltar a outro tempo. O pequeno barco nos levava aos domingos para a Ponta da Areia, logo depois do São Francisco: meu pai, Carlos Moreira, minha mãe, Maria, eu e meus irmãos de suspensórios e calças curtas, cabelos repartidos ao meio, o compadre Queiroz, admirado pelos presentes caros que dava freqüentemente ao invejado afilhado Cursino. Quantas vezes fizemos essa travessia? Uma ou dezenas? O carro de praça (é assim que se chamava o táxi) tinha que ser contratado dias antes do passeio com os motoristas conceituados que todo mundo conhecia na cidade: Dadeco, Astrolábio, Pindobuçu. Desses, eu nunca me esqueci. Se meu pai chamava outros, não os pude conservar na memória. Dadeco, num carro marr

Façam o que eu digo

Jornal O Estado do Maranhão Em reunião realizada em 1997 na cidade de Kyoto, no Japão, os países industrializados comprometeram-se a reduzir em 5%, até 2012, sobre os níveis de 1990, a emissão de gases-estufa. Estes são, em sua maioria, gerados pelo consumo de combustíveis derivados do petróleo, e provocam, de acordo com diversos estudos, o aquecimento da Terra, quando retidos na atmosfera. Nada mais natural o compromisso, uma vez que são exatamente esses países os responsáveis pela maior parcela da geração dos gases. O documento assinado na ocasião ficou conhecido como o Protocolo de Kyoto. Um novo encontro foi realizado em novembro deste ano, há quinze dias, na cidade de Haia, na Holanda, chamado Sexta Conferência das Partes da Convenção do Clima – COP-6. Deveria ocorrer, então, a ratificação do Protocolo, pelo estabelecimento de “mecanismos de flexibilidade” que deveriam ser usados para tornar viável o cumprimento da meta acordada anteriormente. Não houve acordo. Do fracasso, salvou