21 de outubro de 2012

Hemeroteca Digital Brasileira

Jornal O Estado do Maranhão

          Em agosto deste ano a Biblioteca Digital Brasileira tornou disponível ao público, na internet, a Hemeroteca Nacional Digital. São mais de cinco milhões de páginas digitalizadas, de jornais, revistas, anuários e boletins brasileiros, inclusive do Maranhão. Tais periódicos estarão ao alcance de quem dispuser de conexão com a Grande Rede. O serviço proporcionará vantagens inimagináveis até pouco tempo, relativamente a pesquisas no acervo físico de bibliotecas.
          Ninguém precisará pagar um centavo sequer para obter alguns dos primeiros jornais brasileiros, como o Correio Braziliense, a não ser o custo de imprimi-los em sua própria impressora. Ele precisará apenas possuir habilidades mínimas no manejo de computadores pessoais e alguma familiaridade com a internet. Naturalmente o pesquisador poderá salvar os arquivos digitais dessas publicações e reproduzi-las à vontade.
          Eu imagino as dificuldades até agora postas no caminho de quem sofre de alergia a poeira, em especial a acumulada em livros e papéis antigos. Como sabemos, nossas bibliotecas não possuem recursos capazes de lhes facilitar a guarda adequada de seu estoque de valiosas fontes históricas em papel, nas severas condições de nosso clima quente e úmido. Por causa disso, ocorre o acúmulo de partículas de sujeiras e a proliferação de ácaros tendentes a desencadear crises alérgicas em muitas pessoas. A solução que estas têm adotado, quando necessitam dessas fontes, é contratar pessoas com experiência em garimpar informações em velhos jornais, pagando-os por seu trabalho. Agora elas têm a opção de eliminar despesa dessa natureza.
          Outra vantagem do serviço é permitir o acesso a documentos preciosos na própria residência, sem restrições de horário, no instante mais conveniente ao usuário, que assim evita sair de casa e enfrentar o trânsito caótico das cidades brasileiras. Dessa forma, ele poupa horas de precioso tempo, mais bem aplicado em fazer avançar seu trabalho.
          As consultas podem ser realizadas por título, período, edição, local de publicação e palavra. Vejam bem, não se trata tão só de procurar o conjunto de tal jornal ou tal revista e folheá-los na tela do computador a fim de localizar algo do interesse do consulente; ou identificar num período qualquer referências a tópico de seu interesse; ou pesquisar um tema em certa edição de uma revista ou de um almanaque; ou procurar em jornais de um Estado ou cidade. Trata-se também de fazer uma varredura no acervo digital, na coleção de determinado periódico, de um Estado (suponhamos o Maranhão), por palavra, que no caso de pessoas vem a ser o nome. Enfatizo este último recurso com o fim de mostrar o tempo que ele poupa ao interessado, por este não precisar ler cada página para descobrir se fulano aparece naquele jornal maranhense em certo período. O tempo de localização se torna uma fração do que seria na ausência da opção de procurar por palavra.
          Permito-me aqui citar um exemplo de minha família. Eu desejava havia tempo obter informações mais detalhadas do que as de que eu já dispunha no âmbito familiar sobre meu avô paterno Lino Antônio Moreira, dono de um comércio no início da rua Grande, nas duas primeiras décadas do século passado, quase no ponto onde se inicia a avenida Magalhães de Almeida, então inexistente. Fui à Hemeroteca e eis, ao procurar “Lino Moreira”, o meu achado no Diário de S. Luís de 4 de abril de 1925, sob o título Atenas Carnavalesca: “Já estão sendo ultimados os preparativos para as partidas a fantasia que o veterano dos clubes carnavalescos – Atenas, levará a efeito no sábado da Aleluia e domingo da Ressurreição, em sua luxuosa sede, à rua Afonso Pena, n. 56, residência do sr. capitão Lino Moreira, conceituado comerciante de nossa praça”.
          Aí está. Eu não sabia que o velho Lino, falecido 20 anos antes de meu nascimento, e sobre quem localizei muitas outras referências, era capitão da Guarda Nacional e, portanto, membro da “elite insensível e exploradora do trabalhador”, embora coronel não fosse. O neto é simples soldado raso do ciclismo, da economia e das letras.

7 de outubro de 2012

Caixa Dois?



Jornal O Estado do Maranhão

          Segundo o Datafolha, 10 % dos eleitores paulistanos mudaram a intenção de voto para prefeito de São Paulo, abandonando Paulo Haddad, como resultado do julgamento do Mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. Não sei se esse número parece pequeno aos olhos do leitor. Sei, sim, que, adicionados aos 18% atribuídos pela média das pesquisas ao candidato do PT e de Paulo Maluf, tal percentagem poderia levar Haddad ao segundo turno da eleição municipal de hoje na maior cidade do país. Se de fato irá ou não, não posso afirmar, pois não sou adivinho. Ao se considerarem esses números, não é difícil ver o erro da afirmação de alguns líderes do PT acerca da ausência de impactos do julgamento no eleitorado paulistano. Como se os eleitores não dessem importância aos acontecimentos denunciados pela Procuradoria Geral da República.

          Mas, afinal, quais os fatos estabelecidos pelo STF até agora? (Escrevo na terça-feira, dia 2/10, por ter de me ausentar o resto da semana de São Luís). Um é que houve corrupção passiva. Houve réus que receberam dinheiro indevido. Outro, não menos grave, está relacionado ao fato de serem públicos os recursos usados nessa transação. Essa comprovação afasta liminarmente, segundo o presidente do Tribunal, ministro Ayres Brito, a possibilidade de se destinarem à constituição de caixa dois de campanha os repasses, crime eleitoral passível de penas brandas, comparadas com as aplicadas a outros crimes, além de terem sido efetuados após o período eleitoral. Neste último caso, poderia se pensar na possibilidade de os mensaleiros desejarem inaugurar o caixa dois fora de época, seguindo uma tendência nacional de poucas exceções até agora com respeito às festas populares. Imagine o leitor como seria um Natal comemorado, vamos dizer, aí pelo mês de agosto. Não seria de todo ruim, desde que Papai Noel não aparecesse com aquele ho, ho, ho meio ridículo copiado do Santa Claus americano.
          Até agora, no entanto, do ponto de vista de definir os responsáveis de mais alto nível pela trama do Mensalão, a conclusão mais importante do Tribunal foi a da compra de votos de deputados no Congresso Nacional. Não importa, segundo entendi das discussões, eu um leigo em Direito, porém habilitado a ouvir e ler, que um ou mesmo todos esses deputados não tenha efetivamente votado com o governo de então, presidido por Lula. Importa a aceitação da oferta de recursos indevidos. Mesmo se tivessem recebido o dinheiro apenas com o fim de comprar sorvetes, picolés e brinquedos para criancinhas pobres e distribuído tudo no Natal fora de época ou mesmo no Natal da época costumeira. Nada mudaria, eles seriam criminosos do mesmo jeito. Houve, sim, compra de apoio político, assim decidido por 7 de 10 ministros do STF. Aliás, 7 dos atuais 10 ministros, não necessariamente os 7 que condenaram os réus neste último caso, foram indicados por Lula ou por Dilma
          Na quarta-feira passada iniciou-se a análise das acusações de corrupção ativa (quem comprou os votos na Câmara dos Deputados, uma vez que já se sabe da ocorrência de venda). Em seguida virá a análise sobre o comando de toda a operação: quem era o chefe ou os chefes de tudo? José Dirceu, o Zé? O Ministério Público, na denúncia, o qualifica como “o chefe da quadrilha”. José Genoíno, o presidente do PT quando da implantação do mensalão? Delúbio Soares, o tesoureiro do partido? Ou a turma toda? Vamos ver nesta semana.
          O ministro Celso de Melo, na segunda-feira da semana finda, depois de chamar os crimes do mensalão de “assalto à administração pública” disse: “A corrupção deforma o sentido republicano de prática política, compromete a integridade dos valores que informam e dão significado à própria ideia de República, frustra a consolidação das instituições, compromete a execução de políticas públicas em áreas sensíveis como as da saúde, da educação, da segurança pública e do próprio desenvolvimento do País, além de afetar o próprio princípio democrático”.
          Os cidadãos brasileiros estavam justamente ansiosos por ouvir palavras como essas.
          O Mensalão existiu, sim.

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