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Mostrando postagens de maio, 2007

Vôo na manhã

Jornal O Estado do Maranhão Da sacada vêem-se os prédios modernos, onde muitos anos antes pescadores passeavam seus pequenos barcos a vela e suas redes; vêem-se as ruas, as avenidas, o asfalto, o mangue, a lagoa, o mar e a praia com pequenos seres seminus caminhando aparentemente despreocupados, mas em verdade pensando na vida e em suas armadilhas. Será que ele me ama, divaga a garota e olha o próprio corpo descoberto por um biquíni azul. Ali estão os pássaros, os beija-flores, por exemplo, e também os urubus, em seu passeio matinal, lá no alto, despertando inveja nos caminhantes lá embaixo. Um dia desses, dia de sol e muito vento, sem nuvem alguma no céu, presente somente o azul, um deles, cujo nome e espécie nunca se chegou a saber (seria descendente de um daqueles que costumavam pousar na pitombeira no fundo do quintal com cheiro de terra, depois do almoço, nas quentes tardes de antigamente, e que – tiro certeiro de baladeira –, morriam sem ao menos sentir a aproximação do caroço

Contar histórias

Jornal O Estado do Maranhão Há poucos dias, em conversa com Carlos Gaspar, confrade da Academia Maranhense de Letras, falamos sobre a falta de convívio freqüente entre netos e avós nos dias correntes, ou da falta, em muitas famílias, da proximidade de outros tempos, quando não poucas vezes três gerações moravam na mesma casa em enriquecedor contato. Eu havia passado os olhos nas crônicas de um livro que ele planeja lançar este ano, tendo Viana como referência, e notara a forte presença do avô dele, o português Delfim, nas lembranças de Carlos de seu tempo de menino naquela histórica cidade de belos lagos e campos, na Baixada Maranhense, região onde tenho um bom pedaço de minhas origens, porque vem de Cajapió a família de minha mãe. A mesma proximidade entre gerações sinto em bate-papos com o erudito diplomata, poeta e historiador Milton Torres, autor de O Maranhão e o Piauí no espaço colonial e do livro de poesia No fim das terras , que se encontra em São Luís finalizando livro so

Crime privilegiado

Jornal O Estado do Maranhão Sempre me pareceu coisa de país de bacharéis, herdada de nossa formação social vinda da Colônia, essa lei (ela existe mesmo?) que manda colocar em cela especial os encarcerados portadores de diploma de curso superior. Especial aí é sinônimo de cela separada das dos presos ditos comuns, e mais confortável. Poderia alguém supor, então, que bastaria a um ladrão, para ter regalias na cadeia, a suposição de ter ele certa ilustração, suposição incerta na maioria dos casos, a não ser que se considerem ações criminosas como socialmente desejáveis. Delinqüir com um canudo debaixo do sovaco tornaria seu portador menos danoso à coletividade, justificando a obtenção de regalias negadas a outros com pouca instrução? Haveria bandidos de primeira e segunda classe? Ou melhor, bandidos com classe e sem classe? É a luta de classes na prisão? Algum ingênuo do povo talvez afirmasse que seriam precisamente essas pessoas classificadas como especiais as merecedoras dos rigores