16 de dezembro de 2007

Fortuna crítica de Machado de Assis

Jornal O Estado do Maranhão

Raros escritores brasileiros têm fortuna crítica tão extensa quanto a de Machado de Assis. Ainda em vida ele viu críticos de diversas tendências iniciarem a análise sua obra, com freqüência perplexos ante textos ficcionais que não sabiam bem como classificar e lhes pareciam estranhos.
Nas Fontes para o estudo de Machado de Assis (Rio de Janeiro, INL, 1958), J. Galante de Sousa relaciona, para o período , 1.884 verbetes. A Bibliographie descriptive, analytique et critique de Machado de Assis (Rio de Janeiro, Livraria São José, 1965), de Jean-Michel Massa, autor do melhor livro sobre o jovem Machado, A juventude Machado de Assis, : ensaio de biografia intelectual (Rio de Janeiro, Civilização Brasileira/Conselho Nacional de Cultura, 1971) acrescenta outros 132 referentes a 1957 e 713 ao ano de 1958. Em 2005, Ubiratan Machado, em Bibliografia machadiana, (São Paulo, Edusp, 2005), nos deu mais 3.282, perfazendo, assim, 6.011 verbetes. Conhecendo-se, porém, a impossibilidade de localizarem-se todas as referências ao escritor carioca na imprensa brasileira, pode-se afirmar que o total deve situar-se acima desse último número que, em 2008, ano do centenário de sua morte, deverá aumentar bastante, pois com certeza haverá copiosa produção de artigos em jornais e revistas, e de livros de ensaios.
Para se ter idéia de como evoluíram esses números, pode-se fazer uma periodização. Entre o início de 1857 e o final de 1907, ano anterior à morte de Machado, portanto num período de cinqüenta e um anos, foram identificadas 209 menções a sua obra, resultando em média anual de 4,1; nos trinta e um anos entre 1908 e 1938, este último imediatamente precedente ao do centenário de seu nascimento, surgiram mais 461, ou 14,9 por ano em média; de 1939 até 1957, logo antes do cinqüentenário de sua morte, período de 18 anos, foram outras 1.346, com média anual de 74,8, significa dizer acima de seis referências por mês; por fim, entre 1958 e 2003, período de 46 anos, foram localizadas mais 3.995, produzindo média por ano de 86,8, equivalente a mais de sete por mês.
Pode-se ver, por conseguinte, que o número médio anual de citações não apenas cresce, mas o faz a taxas crescentes em todos os períodos, com exceção do último, delimitados por datas significativas para os estudos machadianos.
Esses algarismos referem-se tão-só a material publicado no Brasil. A partir do início dos anos sessenta, pesquisadores norte-americanos intensificaram o trabalho de tradução e estudo da literatura de Machado cuja divulgação em outros países foi facilitada pela influência mundial da cultura dos Estados Unidos. Antes, contudo, a primeira tradução de uma obra dele, Memória póstumas de Brás Cubas, foi feita no idioma espanhol e publicada em Montevidéu em 1902. Em carta a Luís Guimarães Filho (Correspondência, Editora Mérito, São Paulo, 1961) diz Machado: “A tradução só agora a pude ler completamente, e digo-lhe que a achei tão fiel como elegante merecendo Julio Piquet [o tradutor] ainda mais por isso os meus agradecimentos”.
Inúmeras qualidades respaldam essa permanência do escritor carioca e levam-no a dialogar com diferentes culturas e sucessivas gerações, que renovam sempre a leitura de sua obra, levando-o a vencer o maior desafio a que um escritor pode se submeter: a prova do tempo, que diminui, ou apaga incontáveis vezes o brilho ilusório do momento. Uma delas é a originalidade, capaz de levar um conceituado crítico literário como Harold Bloom, de renome mundial, a dizer no seu livro Gênio: “Todavia, uma frieza misteriosa emana das suas Memórias póstumas, obra que contém atmosfera tão original que não permite comparação com qualquer outro texto ficcional, a despeito do débito inicial com Sterne”.

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