17 de julho de 2016

Duas estrelas

Jornal O Estado do Maranhão

          Desde 1993 a Argentina não ganha título algum de importância no mundo do futebol. Vice-campeonatos obtidos em várias competições avaliadas como relevantes no mundo da bola não são e nunca serão capazes de consolar o torcedor daquele país da frustação de não ser o campeão, de não ficar no “lugar mais alto do pódio”, no linguajar dos comentaristas esportivos. Eu também não me consolaria, caso o Brasil carregasse história tão negativa há 26 anos. Aqui tal circunstância seria motivo de impeachment, se não do presidente da República, pelo menos do presidente da CBF.
          Consideremos agora um segundo aspecto desse drama nacional-futebolístico. Tão longo período de ausência de vitórias importantes engloba justamente a carreira do maior jogador de futebol argentino de todos os tempos, na minha opinião, e um dos maiores de todos os tempos do universo futebolístico. Um dos traços mais característicos da genialidade de Messi está em ele repetir quase sempre a mesma jogada, sem que os adversários consigam pará-lo antes dele fazer o gol ou dar passes precisos a companheiros mais bem colocados para fazê-lo. Ora, a lógica mais rasteira nos diria que, conhecendo tanto a intenção do adversário quanto sua maneira de pô-la (este “pô-la” é homenagem ao presidente Michel Temer) em prática, seria fácil, dado o equilíbrio numérico das forças em duelo, bloquear o avanço de Messi. Mas tal não acontece. Mesmo prevendo o passo seguinte dele, os zagueiros poucas vezes lhe roubam a bola. Aí está, na minha visão, a genialidade dele. Parece fácil impedi-lo de entrar na defesa adversária, pela previsibilidade de suas jogadas, mas não é.
          Digo isso tudo com a intenção de ressaltar que a circunstância de Messi ser genial e o restante da seleção argentinas, em geral, ser tão somente mediana (sem falar da desorganização do futebol argentino, com reflexos sobre a seleção) coloca sobre ele mais pressão do que um homem possa suportar em condições normais. Ele não pode fazer milagres, se não houver quem colabore de forma minimamente competente com ele. Não se trata de ele não jogar bem na seleção. Bons auxiliares para ele estão em falta, isso sim.
          Como pessoa introvertida, ele reage à pressão colocada pelo torcedor argentino – acostumado a lhe faz cobranças descabidas –, de sua própria maneira e se recusa compreensivelmente neste momento a jogar por seu país. Apenas depois desta reação, a torcida abriu os olhos para o erro de colocar sobre seus ombros toda a responsabilidade pelos problemas de sua equipe e começa a mudar de atitude. Na Argentina, chegaram até a considerá-lo mais espanhol do que argentino.
          Em certa medida, o mesmo acontece com Neymar. Exigem dele que resolva tudo sozinho, pressionando-o indevidamente. Mesmo tendo temperamento mais extrovertido, ele vem dando sinais de estresse, pelo visto em algumas atitudes durante os jogos da Seleção. A diferença é que o Brasil sem Neymar apresenta um conjunto de jogadores melhor do que a Argentina sem Messi, penso eu.
          Pelo bem do esporte torço pela volta de Messi e pela afirmação de Neymar. Eles são as maiores estrelas do futebol sul-americano e das maiores do mundial. Sem eles este continente vê seu próprio futebol diminuído.

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