19 de outubro de 2009

Vida Acadêmica



Jornal O Estado do Maranhão, 19/10/2009

Este mês de outubro foi de grande movimentação na Academia Maranhense de Letras. No dia 1º, quinta-feira, chegou a São Luís, vindo a nosso convite do Rio de Janeiro, onde reside, o escritor e membro da AML, José Louzeiro. Acometido por problemas de saúde causados pelo diabetes, ele continua produzindo como se nada lhe tivesse acontecido, bem humorado, trabalhando em dois ou três livros simultaneamente com uma disposição para o trabalho admirável mesmo em quem não tivesse de enfrentar os percalços que se lhe puseram no caminho. No dia seguinte, sexta-feira, dia 2, ele recepcionou Joaquim Haickel, hoje ocupante da Cadeira 37. Na terça, dia 6, proferiu palestra na AML, que o homenageou, na quinta, com um jantar em que acadêmicos, amigos e admiradores puderam expressar o bom conceito que fazem dele e de sua obra em favor dos sem-voz. Na sexta-feira, dia 9, esteve presente à posse de Ney Bello Filho na Cadeira 40. No domingo, regressou ao Rio. Voltará em novembro para a Feira do Livro.
Até o final do ano nossa programação de eventos terá, ainda, a palestra de Sálvio Dino, no dia 30 de outubro, em comemoração dos cem anos de nascimento de Antenor Bogéa, que na Casa ocupou a Cadeira No.1, a abertura de site na internet, o lançamento, com apoio da Alumar, do Livro do Centenário, que trará os eventos realizados em 2008 bem como a história da Academia, com farto material iconográfico, atualmente em fase final de edição pelo Secretário-Geral, Jomar Moraes, com o auxílio, na parte fotográfica, de Edgar Rocha e sua equipe do estúdio Photo Edgar e, finalmente, o lançamento com o selo editorial da AML de Os papeis da conquista - 1612-1614, livro organizado pela professora Andrea Daher, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Esse trabalho contém um estudo introdutório dela sobre documentos inéditos acerca da presença dos franceses no Maranhão, localizados por ela nos arquivos de Simancas, na Espanha. No ano passado, ela fez uma palestra como parte do ciclo comemorativo do Centenário sobre o tema de seu livro O Brasil francês: as singularidades da França Equinocial, publicado pela Editora Civilização Brasileira.
  Falar sobre posse me faz pensar sobre uma pergunta que ouço com frequência: Como se é admitido no quadro de membros efetivos da Academia? O repórter de um jornal local já chegou a me perguntar, logo depois da abertura de uma vaga, quando iríamos nos reunir a fim de  convidar o futuro ocupante da cadeira. Ora, não fazemos convites desse tipo. Os candidatos, sempre numerosos,  é que  procuram a Academia a fim de candidatar-se e serem escolhidos, sim, mas em um processo eleitoral. Neste, cada acadêmico vota secretamente de acordo com suas preferências pessoais. Entram aí, é evidente, elementos de subjetividade.
Nos aspectos formais e de acordo com o Regimento Interno, em seu artigo 56, o pretendente deve enviar, ao fazer sua inscrição, um curriculum vitae, exemplares de publicações de que o pretendente seja autor, coautor, colaborador, organizador, tradutor ou editor e comprovação de residência no Estado há, pelo menos, dez anos, caso não tenha nascido no Maranhão. Isso não significa que, na hipótese de ele não ter livros publicados por ocasião de sua candidatura, como foi o caso do antecessor de Ney, o grande artista plástico Antônio Almeida, ele esteja impedido de ser eleito. Aliás, corre uma piada nos meios culturais daqui e de outros Estados. A de que alguns pretendentes não deveriam se candidatar exatamente por terem livros publicados. Melhor para suas pretensões seria não terem nenhum ou darem sumiço nos já levados ao público.
Numa eleição acadêmica, pesam muito, isto é um pressuposto derivado da natureza de uma instituição como a nossa, as qualidades intelectuais do candidato. Mas, outros fatores, como a visão que os eleitores têm sobre a capacidade de convivência harmoniosa do futuro membro da Casa com seus pares, disposição de colaborar e participar da vida da Academia e outras avaliações de cunho subjetivo também contam.

4 de outubro de 2009

Joaquim, José e Manuel



Jornal O Estado do Maranhão, 4/10/2009

A Academia Maranhense de Letras vive dias de intensa atividade e alegria. Acontecimentos que em outras circunstâncias e vistos isoladamente poderiam ser reconhecidos apenas como a prosaica materialização de uma programação de eventos, como a da AML neste ano de 2009, subitamente adquirem um especial simbolismo. Inesperado simbolismo, bem-vindo simbolismo.
Trata-se disto. Primeiro, chegou quinta-feira, dia 1º, a nossa cidade José Louzeiro. Convidado pela AML, da qual ele é membro desde 1987, quando lá foi recepcionado por Ivan Sarney, ele veio a São Luís receber justificadas homenagens da Academia a serem prestadas em jantar que lhe será oferecido no dia 8 na próxima quinta-feira, dois dias após palestra que ele irá proferir no dia 6, terça-feira. A iniciativa faz justiça a um homem que, tendo começado sua militância no jornalismo em São Luís, aos dezesseis anos, em 1948, ano em que nasci, completa em 2009 sessenta e um anos numa trajetória de militância cultural que prosseguiu, com projeção no exterior, no Rio de Janeiro, depois de deixar São Luís em 1954 sob ameaça de morte de poderosas forças política da época.
Segundo, tivemos no dia seguinte, sexta-feira, dia 2, a posse de Joaquim Haickel na Cadeira 37. Ele foi recepcionado exatamente por seu amigo de anos, José Louzeiro, ambos com fortes ligações com o cinema. Na direção de curtas metragens o primeiro e no roteiro de longas o segundo. O acadêmico recém-empossado é o mais jovem entre seus pares, mas, tão só por uma semana, pois na próxima sexta-feira, 9 de outubro, ele perde essa condição. Ney Bello Filho, com quarenta anos de idade, assumirá nesse dia a Cadeira 40, antes ocupada pelo saudoso Antônio Almeida, tornando-se o benjamim da Casa.
Joaquim dá a impressão de não precisar descansar nunca, pois se mantém em constante atividade, com enorme dinamismo, permanente bom humor, aguçado senso de urgência, aguda percepção da vida cultural do Maranhão da qual participa ativamente e, sobretudo, admirável generosidade nas suas relações pessoais. Desde suas eleições, ele e Ney têm comparecido regularmente a nossas sessões ordinárias das quintas-feiras, usando de prerrogativa regimental que lhes faculta a participação, com direito a voz, mas não a voto.
Eis o que eu queria dizer ao falar de simbolismo. Presenciamos a recepção ao mais jovem acadêmico por um de nossos companheiros, Louzeiro, com dilatada e vitoriosa carreira nas letras nacionais, com obra de múltiplas feições, qual um Jano com sua capacidade de olhar para frente e para trás, em direção ao passado e o futuro. Vejo aí um símbolo e uma explicação do admirável vigor da Academia, decorridos já cento e um anos de sua fundação. Pois, com que se constroem os alicerces de uma obra perene, como essa da nossa instituição nesse século de existência, senão por uma exata e sempre feliz combinação de experiência e juventude, do ímpeto juvenil e reflexão madura, simbolizados por esses dois acadêmicos? Não é essa a fórmula universal e eterna, se eterno for o universo – ou, quando eterno o for –, que mantém a vida e preserva a espécie, perecível embora sejam os espécimens? Não é assim, no ponto de equilíbrio entre esses dois polos, que conseguimos produzir a obra coletiva de recepcionar o novo e preservar a tradição, renovando-nos, assim, continuamente?
A noite de sexta-feira assinalou, ainda, dois aniversários. Completou então oitenta anos de vida dedicados ao duro trabalho e à dura e incessante labuta poética o acadêmico Manuel Lopes, ocupante da Cadeira 18 e autor de Um homem à beira do rio e Canção itinerária, entre outros livros. Foi seu desejo estar ali naquela hora, rever seu amigo Louzeiro e cumprimentar Joaquim, num dia tão especial. Outro aniversário foi o de dona Clarice, mãe do recém-empossado, que justamente por isso escolheu tomar posse naquela data.  Foram homenageados pela Academia após a cerimônia, compartilhando com o numeroso público a felicidade que sentiam, junto com as famílias e entre velhos e novos amigos.
Saúdo os acadêmicos Joaquim, José e Manuel.

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