Joaquim, José e Manuel



Jornal O Estado do Maranhão, 4/10/2009

A Academia Maranhense de Letras vive dias de intensa atividade e alegria. Acontecimentos que em outras circunstâncias e vistos isoladamente poderiam ser reconhecidos apenas como a prosaica materialização de uma programação de eventos, como a da AML neste ano de 2009, subitamente adquirem um especial simbolismo. Inesperado simbolismo, bem-vindo simbolismo.
Trata-se disto. Primeiro, chegou quinta-feira, dia 1º, a nossa cidade José Louzeiro. Convidado pela AML, da qual ele é membro desde 1987, quando lá foi recepcionado por Ivan Sarney, ele veio a São Luís receber justificadas homenagens da Academia a serem prestadas em jantar que lhe será oferecido no dia 8 na próxima quinta-feira, dois dias após palestra que ele irá proferir no dia 6, terça-feira. A iniciativa faz justiça a um homem que, tendo começado sua militância no jornalismo em São Luís, aos dezesseis anos, em 1948, ano em que nasci, completa em 2009 sessenta e um anos numa trajetória de militância cultural que prosseguiu, com projeção no exterior, no Rio de Janeiro, depois de deixar São Luís em 1954 sob ameaça de morte de poderosas forças política da época.
Segundo, tivemos no dia seguinte, sexta-feira, dia 2, a posse de Joaquim Haickel na Cadeira 37. Ele foi recepcionado exatamente por seu amigo de anos, José Louzeiro, ambos com fortes ligações com o cinema. Na direção de curtas metragens o primeiro e no roteiro de longas o segundo. O acadêmico recém-empossado é o mais jovem entre seus pares, mas, tão só por uma semana, pois na próxima sexta-feira, 9 de outubro, ele perde essa condição. Ney Bello Filho, com quarenta anos de idade, assumirá nesse dia a Cadeira 40, antes ocupada pelo saudoso Antônio Almeida, tornando-se o benjamim da Casa.
Joaquim dá a impressão de não precisar descansar nunca, pois se mantém em constante atividade, com enorme dinamismo, permanente bom humor, aguçado senso de urgência, aguda percepção da vida cultural do Maranhão da qual participa ativamente e, sobretudo, admirável generosidade nas suas relações pessoais. Desde suas eleições, ele e Ney têm comparecido regularmente a nossas sessões ordinárias das quintas-feiras, usando de prerrogativa regimental que lhes faculta a participação, com direito a voz, mas não a voto.
Eis o que eu queria dizer ao falar de simbolismo. Presenciamos a recepção ao mais jovem acadêmico por um de nossos companheiros, Louzeiro, com dilatada e vitoriosa carreira nas letras nacionais, com obra de múltiplas feições, qual um Jano com sua capacidade de olhar para frente e para trás, em direção ao passado e o futuro. Vejo aí um símbolo e uma explicação do admirável vigor da Academia, decorridos já cento e um anos de sua fundação. Pois, com que se constroem os alicerces de uma obra perene, como essa da nossa instituição nesse século de existência, senão por uma exata e sempre feliz combinação de experiência e juventude, do ímpeto juvenil e reflexão madura, simbolizados por esses dois acadêmicos? Não é essa a fórmula universal e eterna, se eterno for o universo – ou, quando eterno o for –, que mantém a vida e preserva a espécie, perecível embora sejam os espécimens? Não é assim, no ponto de equilíbrio entre esses dois polos, que conseguimos produzir a obra coletiva de recepcionar o novo e preservar a tradição, renovando-nos, assim, continuamente?
A noite de sexta-feira assinalou, ainda, dois aniversários. Completou então oitenta anos de vida dedicados ao duro trabalho e à dura e incessante labuta poética o acadêmico Manuel Lopes, ocupante da Cadeira 18 e autor de Um homem à beira do rio e Canção itinerária, entre outros livros. Foi seu desejo estar ali naquela hora, rever seu amigo Louzeiro e cumprimentar Joaquim, num dia tão especial. Outro aniversário foi o de dona Clarice, mãe do recém-empossado, que justamente por isso escolheu tomar posse naquela data.  Foram homenageados pela Academia após a cerimônia, compartilhando com o numeroso público a felicidade que sentiam, junto com as famílias e entre velhos e novos amigos.
Saúdo os acadêmicos Joaquim, José e Manuel.

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