Uma boa escola
Jornal O Estado do Maranhão
Fomos, membros da Diretoria da Academia Maranhense de Letras, fazer uma visita no dia 20 deste mês ao Centro de Ensino Maria Mônica Vale, no Vinhais. Estávamos lá eu, como presidente, José Maria Cabral Marques, vice-presidente, Jomar Moraes, secretário-geral, Alex Brasil, 2º tesoureiro e Ceres Costa Fernandes, membro do conselho fiscal.
Antes de conhecê-la, nós como que já a conhecíamos. Ceres tinha repetidas vezes nos dado notícias dela, seja durante sessões da AML, seja em conversas informais. A acadêmica conhece a Mônica Vale por experiência pessoal e sempre nos disse que a escola desmente a idéia de que o setor público não tem a capacidade de ensinar bem. De fato, o ensino oferecido pelo Estado no Brasil (ou o ensino de modo geral) não tem bom conceito na sociedade, embora se conheçam as exceções de sempre, a confirmarem a regra. Muito já se progrediu, pois hoje todos encontram vaga para estudar, porém mais ainda tem de ser feito ainda com respeito à qualidade.
Mas o caso aqui é outro. Ocorre o seguinte. Todos os anos a Mônica Vale realiza um Momento Literário, com temas escolhidos pelos alunos. Este ano eles decidiram homenagear a Academia pelos 100 anos de sua fundação, após terem homenageado Ceres, dando o nome dela à biblioteca da escola que naquele dia viu a inauguração de uma estante de autores maranhenses. Esta realização bem revela a importância dada por eles à cultura maranhense, à leitura e à literatura.
Eles não valorizam tão-só a literatura. Uma adaptação do famoso e delicioso conto de Artur Azevedo, O plebiscito, e outra de Maria da tempestade, romance de João Mohana, que ocupou a Cadeira No 3 da AML, cujo patrono é Artur Azevedo, foram encenadas. Não imagine, leitor, os jovens atores como meros decoradores de textos com o fim repeti-los ante a platéia. Houve, como há sempre, cuidadosa preparação, com discussão e interpretação do texto pelo elenco e orientadores, de tal forma a todos terem plena compreensão das obras. A impressão que tive foi de um ambiente em que a participação dos alunos no planejamento das atividades escolares relacionadas a sua própria educação em sentido amplo é valorizada, caminho sem dúvida enriquecedor, produtivo e humanizador da escola e, em especial, dos alunos, de que é exemplo a Rádio Estação Jovem.
Imagino ser de melhoria na qualidade do ensino e do aprendizado o resultado das práticas adotadas na Mônica Vale. Se for de fato assim, como acredito ser, então algo pode ser aprendido e transferido a outros estabelecimentos da rede de ensino público. Deve-se ter em mente que a experiência não é única. Outras escolas do Estado atuam de forma semelhante, sendo a ênfase na leitura a característica individualizadora da Mônica Vale. No entanto, podemos tomá-la como modelo e daí projetar possíveis soluções para os problemas educacionais do nosso sistema de ensino de nível médio. Pode-se e deve-se indagar a respeito das razões que levaram a uma situação de sucesso como essa. Se funcionou lá, é possível que funcione em outras.
O diferencial está no corpo docente treinado e motivado? Nos equipamentos, não necessariamente sofisticados? A motivação vem dos responsáveis pelas políticas públicas para a educação? Ou tudo está ligado às características sócio-econômicas dos alunos? Se não existe ainda, deveria existir uma equipe de técnicos encarregada de avaliar situações análogas e de responder a perguntas como essas, propondo a aplicação sistemática ao sistema de ensino dos fatores que possam conduzir a bons resultados e a remoção dos impeditivos. Se já existe, então é necessário colocar em práticos os diagnósticos até aqui realizados.
De qualquer forma a Mônica Vale é prova da possibilidade de os governos oferecerem educação de boa qualidade.
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