O craque gojoba

Jornal O Estado do Maranhão
Pergunta-me um leitor a razão de eu, tendo algumas vezes escrito sobre futebol, especialmente durante a última Copa do Mundo, vencida pela quinta vez pelo Brasil, nunca ter feito uma única e escassa referência ao futebol maranhense. Paro, penso e chego a uma conclusão. Não tendo nada de positivo para dele dizer, preferi calar. Tinha optado por não me manifestar sobre uma situação de completa decadência futebolística, como a que se observa em nosso Estado. Mas, devo dizer também, que esse silêncio foi, em certo grau, inconsciente, como agora percebo.
Sei, todos bem sabem, da impossibilidade de exigir-se de nosso futebol desempenho comparável ao dos Estados mais ricos. Seria fora de propósito tomarmos como referência São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e outros Estados do Sul e Sudeste. A diferença, em termos, principalmente, de nível de renda, é grande. Tira-nos qualquer possibilidade de competir com eles, com chances mínimas de sucesso. A questão é, em grande parte, econômica. Não existe um mercado local com poder de compra capaz de sustentar receitas mínimas para os clubes. Essa é a razão da escassez de recursos para investimento por parte dos times maranhenses.
No entanto, se – e esse é um grande se – houvesse uma mentalidade empresarial na direção desses clubes, voltada para a formação de jovens jogadores maranhenses, com a exclusão de interesses estranhos ao futebol, seríamos mais competitivos. Mesmo com toda a desorganização implantada pela CBF nos campeonatos regionais e no nacional. Poderíamos, obter melhores resultados nas competições no Norte e Nordeste, como já obtivemos antes, quando elas eram mais freqüentes.
Mas, já que falei em passado e em futebol, não posso deixar de referir um encontro que tive na última semana. Vou ao aniversário de meu cunhado Marcelino Machado, de idade incerta. De repente, o passado surge à minha frente, na entrada da casa. Reconheci logo um grande jogador maranhense de outros tempos, que até então eu não conhecia pessoalmente, José Raimundo Silva Moraes, Gojoba.
Eu o vi jogar muitas vezes pelo Moto Clube e pelo Sampaio Correia, no fim dos anos sessenta e em parte dos setenta, no Estádio Nhozinho Santos. Atuou também no Ceará. Em Pernambuco, fez parte da seleção do Estado. Em um jogo contra a Alemanha, em 1965, o gol da vitória da equipe pernambucana, por um a zero, foi dele. A diretoria do América, na época um time grande, presente ao jogo, junto com o time, que treinava em Recife, tentou adquirir seu passe. Os dirigentes do Sport Club do Recife, excitados pela excelente atuação de Gojoba na partida, exigiram um preço exorbitante, impedindo sua transferência para o futebol carioca. Pretendido por clubes de Portugal, teve sua venda vetada pelo técnico do Esport, Rubens Minelli. Este alegava ser ele imprescindível ao time. Numa situação de mais oportunidades, como a de hoje, ele não teria sido impedido de brilhar fora do Brasil.
Gojoba jogava na posição de volante. Com ótimo porte atlético, que conserva até hoje, defendia e atacava com igual eficiência e vigor. Isto não significava maus-tratos à bola, à base de pontapés. Não. Ele dava tratos à bola, antes de tratar bem a bola, roubada dos adversários e conduzida até o campo do oponente, ou lançada aos companheiros, com elegância e precisão. Ele, é exato afirmar, deslizava no campo, de uma área à outra, em um vai-e-vem incessante. Uma espécie de Gilberto Silva, da Seleção do Brasil atualmente.
Esse craque, prata de casa, é prova de que, para a obtenção de bons resultados, não se precisam importar caminhões de jogadores, que no fim da temporada vão embora, sem nada deixar, a não ser dívidas. É evidência de que nenhuma lei da genética ou da geografia impede o nascimento de bons jogadores em solo maranhense.
Em sua época, não era incomum os times daqui destacarem-se nos torneios e nos jogos amistosos regionais. Hoje se vêem quase só derrotas e vexames. Com cabeças-de-bagre e pernas-de-pau de fora.

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