11 de julho de 2017

Aos progressistas

Luiz Alfredo Raposo


Economista

Fomos às ruas pela saída da fabricante de uma mega-calamidade econômica. A chefe de governo cega e surda à maior roubalheira da história universal da infâmia. O animal político que findou sem apoio congressual do próprio partido (vide DRU 2015). Com um time de bambas, o substituto faz um programa econômico sensato e muda a gestão das estatais. Melhora o jogo com o Congresso e não perde uma. Começa a funcionar e maio era o mês das reformas. Indigestas à alta burocracia e à elite sindical, sem elas, dizia o governo, o que víamos não passava de uma visita da saúde. Depois, sabia Deus... Tudo tomava jeito de final feliz, quando vem o suspeitíssimo episódio da gravação do empresário-delator.

Gravação de banalidade atroz. O notável era ir alguém, com o placet de altas autoridades, espionar o chefe da Nação. Mas aí entra a coisa nossa da inversão da culpa: o crime está, não em estuprar ou espionar, mas em ser estuprado ou espionado. Lembram o ex-presidente do BNDES (1998), grampeado querendo botar competição num leilão de teles? A inversão da culpa juntou-se aqui à espantosa postura das autoridades judiciárias, ao alarido de certa mídia e à onda moralista que a Lava Jato levantou e o ardor dos jovens-turcos do MP engrossou. O moralista não sabe que o melhor é prevenir. E só vê remédio em fogueira para os corruptos e rejeição em bloco do fazer político. Nesse caldo cozinha-se a crise político-institucional que põe o país em clima de saloon.

E grupos de centro-esquerda depressa gritam Fora Temer! O presidente recebeu e ouviu! Visionarismo ou coisa de casaca? Mais pungente: jornada interior, rumo à infância de sacristia. Ao moralismo chapado, à manjada “beatice pequeno-burguesa”. Ao nojo dos métodos políticos. À assimilação de acordo a conchavo, falcatrua. À incompreensão de que o jogo supõe dois lados. À satanização do interesse particular. Adeus, anos de estudo do pensamento político, do caráter superestrutural de moral e política, agora basta a pruderie. E Temer é mostruário dos vícios da velha política. Mas que dizer do espião de topete e das togas complacentes?

Olhem para trás. Temer não fez tudo ao contrário de Dilma? Imaginem um vice do PT, PCdoB! Não vale nada que o PIB se recupere, cessem as demissões, a inflação e os juros caiam forte? Fez-se algo de maior efeito moral do que faxinar Petrobras, BNDES etc.? Não foi grandeza propor saneamento de longo prazo com reformas, à custa de popularidade? Olhem para a frente. Não trará o ocaso de Temer o fim das reformas? E sem o apoio do centro, nada delas nem de retomada firme, trunfo único do modelo atual? E não cairemos nos guerreiros do aventureirismo, na falta de escrúpulos que deu no que deu, ou num milagreiro saído do limbo? As pesquisas estão aí, escolham!

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