Desenvolvimento e Cultura


Jornal O Estado Maranhão

          Grande parte de minha vida profissional, eu passei na busca de alternativas possivelmente capazes de dar conta dos problemas econômicos do Maranhão. Meu primeiro emprego, tendo eu 19 anos de idade, foi na Companhia Progresso do Maranhão – CPM, criada quando José Sarney era governador do Maranhão.
          A Companhia fora imaginada como primeiro passo da implantação de uma agência de apoio ao desenvolvimento no Estado, o que de fato ocorreu pouco depois, ainda no mesmo governo, com a criação do hoje extinto Banco de Desenvolvimento do Maranhão – BDM. Este herdou da CPM não só a maior parte do quadro técnico, do qual eu já fazia parte, como os programas de financiamento às atividades industriais, em especial pequenas e médias indústrias, e ao setor primário da economia maranhense. Daí em diante, a Companhia especializou-se em atividades de captação de recursos financeiros no mercado e o BDM assumiu a tarefa de suporte ao setor privado do Estado.
          Aquela foi uma época, segunda metade dos anos 60 e primeira dos 70, de grande euforia desenvolvimentista. Aqui no Estado, José Sarney realizou uma de suas grandes obras, intangível mas real: despertou na sociedade a percepção do crescimento como um processo não apenas desejável, como possível. Todos ou quase todos acreditávamos que, removidos certos gargalos de infraestrutura econômica, o aumento da riqueza era quase consequência automática: comunistas, direitistas, revolucionários, reacionários, gente defensora do livre mercado ou do planejamento centralizado ao estilo soviético, católicos, ateus e umbandistas. Lembro das longas e entusiasmadas discussões com Bandeira Tribuzi no BDM. Havia divergências entre nós, mais táticas do que estratégicas, sobre como chegar lá. Mas, no essencial o diagnóstico era economicista. Líamos então diversos economistas em voga, das mais variadas tendências, mas sempre enfáticos quanto à importância da infraestrutura econômica no desenvolvimento. De certa forma, a maioria estava, nesse aspecto, influenciada pelo pensamento de Marx.
          Aos poucos, no entanto, comecei a perceber que a base material era tão só condição necessária, mas não suficiente àquele processo. Tê-la não era garantia de ir ao Paraíso. Poderia acontecer que, a despeito de tal pré-requisito existir em algumas sociedades, o avanço não ocorresse e elas não se tornassem mais ricas nem mais justas nem mais democráticas nem mais felizes. Começou a ficar clara a importância de fatores culturais, entre eles o nível de educação da população, mas, principalmente, as atitudes diante da prosperidade e dos arranjos institucionais apropriados a nos fazer sair da luta de todos contra todos e entrar na vida civilizada.
          Ficava cada vez mais evidente a existência de certa repulsa diante do lucro e da prospera: “Fulano está ganhando muito dinheiro”, num tom de reprovação, se ouvia e ainda se ouve. É a mente ideologicamente anticapitalista. Ora bolas, se o ganho foi honesto, deveríamos aplaudir o empresário, porque, afinal, seu capital correu riscos no mercado e as consequências de decisões erradas é a falência, com todo o cortejo de dolorosas consequências para ele. Os lucros de suas empresas realimentam o crescimento, pois empresários não os comem. É bom ele lucrar muito e não pouco. Se não houver lucro ou se ele for irrisório, não haverá reinvestimento.
          Outro traço cultural danoso é o desrespeito a leis, normas e regulamentos. É a história do jeitinho e das leis não pegarem bem como a ideia de o cidadão poder desrespeitá-las “só um pouquinho”, sem consideração dos direitos dos concidadãos, ou de ela ter vigência com respeito a uns – os pobres, ou, ao contrário, os ricos – e não a outros. Existem exemplos comezinhos às pencas em nossa vida diária, desde o estacionamento em fila dupla em portas de escolas privadas– “é só um minutinho” – até a poluição sonora produzida por quem não liga para a lei e desconhece as regras de convivência civilizada. É a mentalidade pré-moderna e pré-capitalista como essa a causa principal da marcha lenta do progresso. É a cultura do atraso.

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