3 de setembro de 2006

Os anti-Sarney

Jornal O Estado do Maranhão

Em época de eleição como esta, a imaginação dos candidatos e sua ânsia por promessas impossíveis de serem cumpridas, ameaçam tornar o processo eleitoral um irretocável teatro do absurdo. Se um candidato a presidente promete a criação de dez milhões de empregos em quatro anos, o outro não fica atrás e anuncia como sua meta a geração de 12 milhões. Ou se o primeiro garante matar a fome dos pobres no primeiro ano de governo, o segundo oferece caviar a todo mundo no primeiro mês. Ninguém diz como vai cumprir as promessas e quanto elas custarão, além de palavras bonitas e vazias. O dinheiro, detalhe sem importância ao qual apenas os chatos dão atenção, já se sabe de onde virá, do magro bolso do contribuinte, sempre chamado a pagar a conta da demagogia. Exemplos de delírios como esses, convenientes para quem promete e inconvenientes para quem os ouve, típicos de temporada eleitoral, são inumeráveis. Usaríamos uma página inteira deste jornal a fim de listar pequena parte deles.
No Maranhão um fenômeno antigo e da mesma natureza, pois revela a mesma falta de imaginação dos falsos pagadores de promessas, se acentua neste período. É a compulsão que têm algumas pessoas de falar em e de Sarney. Em lugar de concentrarem seus esforços em apresentar novas idéias, recomendar políticas públicas, apontar soluções, apresentar propostas, criticar com um mínimo de consistência, em suma, agirem como candidatos preocupados com os problemas sociais e econômicos, fazem grande esforço de aparecer pela utilização a toda hora da palavra Sarney, na tentativa de elevarem-se um pouco acima do chão.
Fico a imaginar qual seria o discurso de campanha desse pessoal de variados matizes ideológicos, caso não tivessem uma referência como essa com que chamar a atenção do eleitor. Ficariam sem assunto, sem platéia e sem nada para dizer, pois a imaginação limitada não os ajudaria em nada. Falariam de quê, afinal, depois de tanto tempo nesse samba de uma nota só, depois de tanto uso do cachimbo que os põe de boca torta? Eles teriam de reinventar o nome tão do agrado deles, a fim de continuar no antigo e cansativo costume.
Um eleitor que chegasse à Terra, depois de um passeio de muitos anos a Plutão, poderia pensar, ao ouvi-los falar e sem informações adicionais, que os problemas sócio-econômicos do Maranhão, semelhantes aos de muitos estados brasileiros, são uma invenção perversa de José Sarney no dia de sua posse como governador do Estado, aperfeiçoada nos governos de Roseana.
O Maranhão não existia, ou existia apenas como idéia de paraíso, onde, como sabemos, tudo é perfeito e eterno, e não tinha história. Portanto, La Ravardière não esteve aqui, a economia agro-exportadora de arroz e algodão foi criação de Roseana, e não produto da era pombalina com a Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, e, assim, nunca houve antes dela no Maranhão concentração da propriedade da terra e da renda, mesmo, ou em especial, em nosso período de maior riqueza.
Tudo de ruim foi obra dos dois, pai e filha, a quem, sem perceber, eles conferem poderes mitológicos, pois quem pode tanto, quem é capaz de criar um Estado da federação a partir do nada, num piscar de olhos, é o quê, senão um mito? Ao povo, sempre imaginado como sábio e portador de todas as virtudes, no pensamento esquemático deles, atribuem, paradoxalmente, uma passividade que o leva a se deixar dominar por tanto tempo sem reação. 

A verdade é esta. Estamos diante de um caso característico de sanguessuguismo, pois como se pode chamar esse obsessivo viver da projeção alheia e esse pretender caminhar com o brilho dos outros? Razão tem o confrade da Academia Maranhense de Letras, José Chagas. Em crônica recente, ele disse, com a perspicácia de sempre , que “Sarney dói neles”. É uma dor sem fim.

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