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Jornal O Estado do Maranhão O governo continua acertando na economia, que mostra sinais de recuperação, ameaçada, no entanto, pela alta do preço do petróleo, e errando no resto. Entrou na ordem do dia a polêmica sobre a criação do Conselho Federal de Jornalismo. A discussão surge num momento em que, acossada por denúncias de irregularidades fiscais contra os presidentes do Banco Central e do Banco do Brasil, a administração petista passou, por sua vez, a denunciar as denúncias, falando de um suposto “denuncismo”. É o feitiço contra o feiticeiro, pois ninguém mais do que o PT denunciou Deus e o mundo no passado. Mas, como seu mundo agora é outro, o partido passou a considerar boa só a denúncia contra os outros, sejam eles do governo, antigamente “acusado” de “neoliberal” e autoritário, ou da oposição, agora tachada de denuncista, quando antes, nos velhos maus tempos, estava apenas defendendo o interesse do “sofrido povo”. Essa atitude precisa ser denunciada imediatamente, sob pena da o...

Um professor

Jornal O Estado do Maranhão Recebo um cartão de pêsames de Kalil Mohana e vou às gavetas procurar velhas fotografias de meu tempo do antigo ginásio no Colégio Marista. Ele não está em nenhuma apesar de ter sido meu professor de história. Estão o Irmão Ivo Anselmo, professor de Química, com seu porte marcial e ares germano-gaúchos de chefe escoteiro disciplinador e de falso durão, quase se ouvindo seu sotaque de um tipo que eu nunca ouvira antes aqui nas lonjuras de nossa província; o Irmão Raimundo Lobato, trazendo em tudo a marca de seus ancestrais do Marajó, professor da fascinante física, moreno em contraste com o branco Anselmo, os dois, um do extremo Sul do Brasil e o outro do Norte, refletindo conjuntamente a heterogeneidade do nosso povo; Irmão Geraldo, nordestino valente que nos obrigava a decorar todos os afluentes do rio Amazonas, das margens esquerda e direita, sem perder nenhuma chance de mostrar a camisa do Flamengo invisível na foto, sob a batina um pouco desleixada; o I...

A Mãe

Jornal O Estado do Maranhão Há dores particulares que se tornam universais por serem comuns a todos nós. Quem não as sentiu ainda, um dia as sentirá e sofrerá com elas, tornando-se mais humano. Uma delas é a da morte de uma pessoa amada. Penso, assim, que os leitores serão compreensivos e não se importarão se eu lhes falar sobre a nossa mãe, minha e de muitos irmãos, Maria Raposo Moreira. Ela acaba de morrer aos 83 anos, em paz consigo, com o mundo e com o seu Deus de todas as horas. Quem sabe no futuro, algum curioso descobrirá, ao ler velhos jornais, a existência em São Luís do Maranhão, onde passou a maior parte de sua vida, de uma mulher nascida em Cajapió, que, por sua inteligência excepcional, temperamento marcante, caráter firme e aptidão especial para criar filhos, ao lado de seu grande amor, Carlos Moreira – eles agora felizes se reencontram, a fim, desta vez, de ficarem juntos por toda a eternidade –, cumpriu diligentemente a missão de mãe. O senso de responsabilidade, a dis...

O porto de São Luís

Jornal O Estado do Maranhão Chego ao Papiros do Egito, o sebo de Moema na rua da Cruz, e descubro um número de 1950 da Revista de Geografia e História publicada pela antiga Diretoria Regional de Geografia do IBGE. Em suas páginas encontro o artigo O porto de São Luís de Wilson Soares, do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Tomo-lhe emprestado o título. O texto, a história dos projetos elaborados para o porto e das várias tentativas de implantá-lo, está resumido nos parágrafos abaixo. Na Colônia ­– 1799 – d. Diogo de Sousa, governador do Maranhão, propôs a seus superiores em Lisboa algumas medidas de melhoramento do porto, uma delas considerada inadiável, a abertura da barra. Nada foi feito. 1817 – Antônio Joaquim de Oliveira, capitão-de-mar-e-guerra encarregado de analisar suas condições, classificou-o como em “estado de ruína”. Até a Proclamação da Independência a situação não mudou. No Império ­– 1832 – autorizada a construção de dois cais, um da ponta de São Francisc...

Dieta e vaidade

Jornal O Estado do Maranhão Uma das grandes epidemias do mundo moderno é a obesidade, maior até do que a da aids. O problema, inicialmente das sociedades ricas, hoje está em toda a parte, mesmo nos países pobres. Lembro bem de minha chegada em janeiro de 1978 à cidade de South Bend em Indiana nos Estados Unidos, onde eu ficaria quase cinco anos e meio estudando economia, nas áreas de desenvolvimento econômico e organização industrial, e de meu espanto ao ver a grande quantidade de pessoas com excesso de peso naquele grande país excessivo em tudo. Imediatamente associei o fenômeno ao elevado nível de renda e aos maus hábitos alimentares dos americanos. Eu não imaginava que veria o mesmo aqui na minha volta ao Brasil em 1983. Atualmente em muitas regiões da África e em outras áreas de baixa renda média esse fenômeno ocorre de um modo peculiar. A imensa diferença entre os rendimentos dos pobres e dos ricos criou uma situação em que na mesma sociedade convivem pessoas esquálidas por causa...

Leonel

Jornal O Estado do Maranhão A morte, a necessária contrapartida da vida, tem, de um modo geral, o poder de revisar biografias positivamente, mas somente nos momentos imediatamente após ela se impor inexoravelmente. A verdade é esta. Qualquer coisa dita pelos contemporâneos sobre um líder carismático, um homem marcante na vida política e social de uma nação, ou mesmo sobre um qualquer do povo, um obscuro, mas não desimportante, um simples, um falto de influência, um desamparado, é precário, pois as opiniões estarão irremediavelmente contaminadas pelos interesses e paixões da ocasião, amores e ódios, afinidades e aversões, sentimentos bem humanos.  O tempo, somente ele, o mesmo autor da sentença irrevogável sobre os grandes e os pequenos, indiferente a seus supostos poderes e fraquezas, é a única força capaz, quando todo o tumulto de uma época cessa, de fazer o julgamento sereno que, entretanto, estará permanentemente sujeito a revisões, com acréscimos e decréscimos à glória ou à in...

Educação e Desigualdade

Jornal O Estado do Maranhão O IBGE publicou há poucos dias sua mais recente Pesquisa Mensal de Emprego, com as informações sobre a força de trabalho brasileira classificadas por raça. Será, a sociedade dos nossos desejos para o Brasil, essa dos números divulgados nessa pesquisa? Vejamos. Entre as pessoas ocupadas, a renda média mensal dos brancos é mais de duas vezes a renda dos negros ou pardos que apresentam, ainda, uma taxa de desemprego de 15,3%, enquanto a dos brancos é de 11,1%. Esta é uma taxa alta, mas, de qualquer maneira, bem mais baixa, em termos relativos, do que a outra. As coisas pioram quando olhamos homens e mulheres separadamente. Estas, no caso de serem negras, têm um rendimento médio por hora de R$ 2,78.  Os homens brancos, em contraste, recebem R$ 7,16, as mulheres brancas R$ 5,69 e os homens negros R$ 3,45. Logo, os homens brancos estão no alto da hierarquia econômica e as mulheres negras lá embaixo. Quem nasce homem e branco no Brasil tem melhor chance de se ...