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O PT não aprende

'Elite' está de saco cheio de ser tratada como fascista 4/10/2018 Folha de S. Paulo Fernando Haddad culpou o “fascismo da elite” pelo aumento de sua rejeição. O PT não aprende. Não entende que o crescimento, e possível vitória, de um candidato raso de ideias e grosso no autoritarismo não é porque a “elite”, da qual a classe média faz parte, é fascista. É porque ela está de saco cheio de ser tratada como tal e apontada como responsável por todos os males do país, enquanto o partido dele age como se não tivesse nada com isso.  Há diferença entre o eleitor-raiz de Bolsonaro e aquele que apenas votará nele num eventual segundo turno contra Haddad. No entanto, o que eles têm em comum é que a maioria cansou não apenas da roubalheira do PT, mas também de ser chamada de machista, racista, homofóbica. Está exausta de ouvir que rico não tolera pobre em avião ou na universidade (há gente assim, mas uma parte ínfima e risível da sociedade). Cada vez que alguém diz que ...

Competência

Jornal O Estado do Maranhão Passo os olhos pela programação dos desfiles da chamada Passarela do Samba. A lista anuncia tanto os tradicionais concursos do Rei Momo, da Rainha e das Princesas do Carnaval quanto a entrega das chaves da cidade às autoridades carnavalesca. Elas só as devolverão ao prefeito, se não estiverem exaustos e, quem sabe, de ressaca, na Quarta-Feira de Cinzas. Espero a eleição de um rei do tipo tradicional, pesado, mas ágil e alegre, bom sambista, bem-humorado e magnânimo com os plebeus: os homens do sexo feminino, as mulheres, do masculino e o restante dos tradicionais súditos; não um rei malhado, como vimos alguns anos atrás. Vi nomes curiosos, de tom marcial, entre os blocos tradicionais e entre os organizados (deve haver os desorganizados, mas estes não são mencionados), mas não entre as escolas de samba, turmas de samba, tribos de índios e blocos afros. Entre estes últimos, vejo no primeiro lugar da lista do desfile da terça-feira de Carnaval, o GDAM. Quem v...

Apresentação de meu livro de crônicas "A casa e outras crônicas e memórias"

Apresentação ao livro de crônicas "A casa e outras crônicas e memórias" Um cronista da memória por Luiz Alfredo Raposo “Não faça versos sobre acontecimentos” — é receita bem conhecida de Drummond. Mais longe vai outro Carlos, esse o pernambucano Pena Filho. Como se fora um velho lente em aula prática de manipulação, a bata branca entre tubos e retortas, ele ensina no soneto: “Tome um pouco de azul se a tarde é clara”. E este azul de céu sem nuvem, de céu mariano, é apenas outra forma de não-acontecimento. Ah, esses poetas farmacêuticos... Tivessem eles próprios seguido seus preceitos, e não seríamos hoje legítimos legatários do ouro todo de joias como O desaparecimento de Luísa Porto, A morte do leiteiro, O padre e a moça. Ou de um cordel encantador, como é o Episódio sinistro de Virgulino Ferreira, narrando a chegada de Lampião em Vila Bela (“Volta Seca, solte os presos/ que o mundo já é prisão”). Mas a fórmula que eles produziram ainda assim tem a sua ...

Nota baixa

Jornal O Estado do Maranhão Volto a Temer, o homem responsável por tirar o Brasil do buraco profundo onde o país caiu, empurrado pelas costas por Dilma Roussef e o PT. Tivesse seguido adiante o governo nefasto, estaríamos como, agora? Com inflação alta e crescente, com milhares de novos desempregados, a serem somados aos milhões criados antes; com recessão aprofundada pelas sucessivas quedas do PIB; com a imprensa ameaçada; e muito mais. Mas não quero perder tempo com o desastre histórico. Quero falar do rebaixamento da nota de risco do Brasil, por agência internacional de avaliação sobre risco futuro de insolvência de países, por ela vislumbrar muitas dificuldades na aprovação da reforma da Previdência. O presidente Temer tem seu nome associado, em todo o Brasil, à reforma da Previdência. É fato público e notório. Os recém-nascidos, antes da primeira inalação do ar de nosso planeta, perguntam preocupados: “Já resolveram o problema da Previdência? Temer conseguiu? Estou preocupado co...

Nó na cabeça

Jornal O Estado do Maranhão           Afinal, o que desejam os aliados do governo estadual? Até este momento, decorridos três anos de poder formal, ainda se sentem e agem como oposição. As cabeças não mudaram em nada. Em decorrência de atitude como essa, reclamaram, em imenso chororô, quando Temer decidiu não nomear o deputado Pedro Fernandes ministro do Trabalho, atribuindo a decisão a suposto veto do presidente Sarney. Ora, quem desse brevíssima parada em suas atribulações do dia a dia teria tido tempo de sobra de verificar que desde o início não havia condições políticas de efetivação no cargo do indicado pelo PTB.           Quem nomearia como seu auxiliar direto alguém ligado a político acostumado a chamá-lo de golpista, a não reconhecer sua legitimidade e, ainda, a não colocar a fotografia oficial dele no lugar certo e a manter, em vez disso, um espaço vazio onde deveria estar a legítima foto do legítimo ocupante da Presidência da...

Ângela e os bororós

Luiz Alfredo Raposo Economista           Deu na e-midia, a chanceler Ângela Merkel teria dito a juízes e altos burocratas que pleiteavam salários de professor: “como posso igualar vocês a quem os ensinou?” Aqui, inverso o quadro, indagam como reagiria uma Merkel presidente. Alemãmente, creio. Começaria por anotar os problemas federais: 1) os supersalários (acima do teto legal) têm um bruto dum peso na folha de ativos. 2) É enorme, frente à do INSS, a aposentadoria média do setor público. “Cópia” dos salários da ativa, ela continua a desigualdade. 3) Inviável mais imposto, está-se no nível alemão e muito aquém da renda per capita alemã. 4) No atual ciclo demográfico, o movimento de aposentações é tal, que a folha dos inativos promete comer, não demora, toda a receita orçamentária.            É, desastre na Previdência gera desastre no Tesouro e descarta soluções via só (1) ou (3). P. ex., aumentar os professores e trazer os sal...

Imprevidência

Jornal O Estado do Maranhão           Quando, nos anos 50, eu era um vivaz garotinho, como se dizia então, uma pessoa idosa era quase uma raridade. Muitos adultos usavam a expressão “lá vem o velho” para amedrontar as crianças dos casais com 7, 8, 9, 10 ou mais filhos e fazê-las ficar quietas. Conformação demográfica como essa, com muitos jovens e poucos idosos, aparecia numericamente como uma elevada participação percentual dos primeiros na população, característica dominante havia décadas. A pirâmide populacional brasileira era larga na base e bem fina no topo.           Ocorreu a partir de então, como em outros países de nível de renda semelhante ao do Brasil, célere processo de urbanização, que levou à diminuição das taxas de fecundidade, com consequências importantes na nossa composição etária. A relação jovem/idoso começou, também aceleradamente, a cair. Países de renda mais alta do que a nossa passaram da mesma forma por essas...