Postagens

Abduzidos

Jornal O Estado do Maranhão           Abduzida, abdução? Sim, abdução. Parece estranha, a palavra, incomum. No entanto, ela existe. É de origem latina, “abductione”, segundo os dicionários. Tem vários sentidos. Um deles, usado no curioso jargão jurídico, é de “rapto com violência, fraude ou sedução”. E daí? Daí que Elba Ramalho foi abduzida, provavelmente pelo uso de sedução. Por quem? Por ETs, ela afirmou à revista Veja.           A afirmação é de 2001, na 11a. Conferência Internacional de Ufologia, em Curitiba, quando ela disse que esses misteriosos seres tinham implantado nela um chip que só pôde ser retirado com a ajuda de outros seres, celestiais, “ultra, supra, luminosos”, durante o sono, sem necessidade de cirurgias mediúnicas. Elba teve sorte. Outras quase cinco mil vítimas tiveram de recorrer a duas videntes do interior de São Paulo para extração dos objetos. O local do implante, no corpo da cantora, não foi especificado. No c...

Brasil uber alles

Jornal O Estado do Maranhão           De boas intenções, o inferno está lotado. Basta olhar a fé quase religiosa com que o poder estatal impõe decisões irracionais aos cidadãos. Anunciadas como benefícios a eles, ao homem comum, em especial se ele for comumente pobre, sendo prejudiciais, muitas vezes, aos de classe média, embora isso não seja dito, elas acabam resultando em remédios com efeitos opostos aos apregoados.           A imprensa anunciava, há dias, dois deles. Um, foi a proibição, pelo Procon de Belo Horizonte, com respaldo da justiça, de concessão de descontos a consumidores que pagam suas compras em espécie, se igual desconto não for concedido ao pagamento com cartão de crédito. A alegação, que, por sua larga utilização, não é mais percebida como absurda, é de discriminação contra o comprador disposto usar seu cartão, por não haver, neste caso, o mesmo desconto. O resultado previsível é de o outro consumidor ficar proibido ...

Eu não disse?

Jornal O Estado do Maranhão           Chego em casa morto de fome (ninguém nunca está somente com fome, mas, sempre, morto de fome, não sei se leitor já observou esse fenômeno) e pergunto pelo almoço. Nossa colaboradora (colaboradora desde que o politicamente correto determinou que chamar alguém de empregada era humilhação punível com pesadas penas a serem cumpridas na penitenciária de Pedrinhas) apressou-se a dizer que eu iria almoçar ovo frito na manteiga. Ela mencionou, claro, outros pratos, como torta de camarão, o meu preferido. Mas, minha mente se fixou apenas no ovo e na manteiga. Minha reação foi instantânea e surpreendente até para mim mesmo. Abandonando minha postura no geral cordata e compreensiva e desatento à necessidade de não atiçar, com a colaboradora, a luta de classes, perguntei em voz alta, tentando parecer irônico: “Quer dizer que agora temos aqui, dentro de minha própria residência, uma conspiração para me encher de colesterol e me matar a...

Ensaio de Milton Torres

Jornal O Estado do Maranhão          Tenho aqui “A Epopeia Amazônica de frei Pedro de Santo Eliseu”, um estudo crítico, por Milton Torres, do poema épico “Viagem”, de autoria do frade carmelita, publicado pela Edusp, editora da Universidade de São Paulo. Um apógrafo localizado por Milton (autógrafo algum foi encontrado) nos Reservados da Biblioteca Nacional, de Portugal, serviu-lhe como texto de referência. O tema é a longa viagem em que os portugueses levaram prisioneiros espanhóis de Belém, rio Solimões acima, até Nova Cartagena, em 1714, a fim de devolvê-los a seus compatriotas, trinta e dois anos, portanto, antes do ano colocado pelo copista ao final do apógrafo (1746).           Tão dilatado tempo entre a realização da jornada e o ano indicado pelo copista terá sido consequência das disputas pela posse do Solimões entre portugueses e espanhóis, não interrompidas pela da Paz de Utrecht – conjunto de acordos destinados a pôr fim à ...

Igualdade: na partida ou na chegada?

Jornal O Estado do Maranhão                      Uma das falácias esquerdistas mais influentes no Brasil é aquela da necessidade de “uma sociedade mais igual”, sem menção ao tipo de igualdade. Nesse entendimento, todas as sociedades têm como objetivo quase único a igualdade de resultados econômicos. Qual o significado de tal afirmação, na prática? O nível de renda de todos deveria ser igual, ou quase. Se não for, dizem, a sociedade será injusta, mas, a culpa pela distorção nunca será de escolhas individuais, ou de decisões equivocadas dos governos, e sim de um ser abstrato, “a sociedade”. Uma perna de pau, cuja contribuição aos bons resultados de sua equipe de futebol seja pequena, deveria receber, em salários, para evitar que a sociedade se torne “injusta”, tanto quanto Neymar recebe, embora este contribua com muito mais nas vitórias. Mas, qual a razão de uns contribuírem mais do que out...

Um mau exemplo

Jornal O Estado do Maranhão           Estive na Associação Comercial do Maranhão – ACM, na noite de quarta-feira, dia 19. Fui assistir ao painel Cenários Econômicos e o Novo Ambiente de Negócios no Maranhão, com a participação do economista Felipe Holanda, presidente do Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos – IMESC, e de Simplício Araújo, secretário de Estado de Indústria e Comércio do Maranhão – SEINC, expositores, ambos; como debatedores, João Gonsalo, professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Maranhão e doutor em economia, e Gustavo Marques, arquiteto, consultor e vice-presidente da ACM.           Apesar da menção a "cenários econômicos", o assunto não deu as caras na exposição de Simplício. Predominou em seu discurso uma retórica política recheada de acusações a seu antecessor, Maurício Macedo, sem menção explícita a este, mas, a ninguém escapou a intenção de Simplício. No entanto, q...

Um bom exemplo

Jornal O Estado do Maranhão           Tenho aqui o volume 14, Número 3, da Revista de Pesquisa em Saúde – RPS, do Hospital Universitário – HU, este, da Universidade Federal do Maranhão – UFMA. A publicação é de alta qualidade e segue normas de publicação adotadas pela comunidade acadêmica internacional. Dos vinte membros de seu conselho editorial, participam, como representantes da Universidade, apenas quatro, ou seja, um quinto. Baixa proporção como essa é sinal de disposição dos dirigentes das duas instituições a que a Revista está ligada bem como de seu corpo editorial, chefiado por Arlene Caldas, de ter avaliações isentas sobre o conteúdo dos artigos a ela submetidos. Alguns dos outros membros do Conselho são da USP, UFRJ, UNB e UHG, da Suíça, e de várias universidades de prestígio.           Mesmo um leigo nessa área, como eu, pode facilmente perceber que não se trata de jogo de cartas marcadas, pelo qual avaliações benevolentes,...