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O Maranhão em Machado

Jornal O Estado do Maranhão Já se afirmou acertadamente que a obra de Machado de Assis é inesgotável em suas implicações de toda ordem e sempre proporcionará um ângulo novo de análise ou um achado inesperado ao estudioso. J. Galante de Sousa, em Fontes para o estudo de Machado de Assis anota, para o período que vai de 1857 a 1957, cerca de 1.890 itens referentes a todo tipo de estudos a seu respeito. Jean-Michel Massa, somente para o ano de 1958, no seu Bibliographie descriptive, analytique et critique de Machado de Assis , nos dá outros 713. De lá para cá, esses números não pararam de crescer. Mais recentemente Ubiratan Machado em Bibliografia machadiana , cobriu os anos que vão de 1959 a 2003 e acrescentou mais 3.282 . São várias as razões para esse sucesso de crítica. A principal, penso eu, está no sentido verdadeiramente universal de sua obra literária na abordagem dos eternos temas do sentido trágico da vida e inevitabilidade da morte, das frustrações amorosas e da impossibilid...

Cortar vínculos

Jornal O Estado do Maranhão Mais de uma vez mencionei aqui os problemas criados à política de gastos do governo pelas vinculações constitucionais que forçam o administrador público a aplicar percentuais fixos de seus orçamentos em determinados setores, como em saúde e educação, exemplos mais conhecidos. Seus defeitos eram de todo invisíveis quando começaram a ser usadas, em poucas áreas e sem comprometimento de fração elevada do orçamento. Foram utilizadas a seguir com o fim de vincular tantas coisas, que hoje, a fatia de recursos livres de algum tipo de atrelamento setorial tornou-se pequena, deixando aos responsáveis pelas decisões de política econômica quase nenhuma possibilidade de adequar a composição dos gastos ao ambiente econômico, que pode mudar, e muda. Agora leio na revista Veja entrevista do ex-ministro Antônio Delfim Neto, em que ele fala de “uma lista enorme de emergências no setor público”, dando como exemplo precisamente a questão das vinculações: “No Brasil ela exist...

Dirigismo Cultural?

Jornal O Estado do Maranhão Iniciativa do Ministério da Cultura propõe alterações na Lei n o. 8.313 (Lei Rouanet), de incentivo à cultura, em vigor desde 23 de dezembro de 1991. A proposta gerou muita polêmica, desde o dia 23 de março deste ano, quando foi divulgada, e, depois, ao ser submetida a consulta pública, até o dia 6 de maio. Passada esta data, o ministro da Cultura iniciou visitas a diversos estados para conversas com os secretários de cultura e pessoas e entidades com atuação na área. A resistência do Ministério e de gente de mentalidade estatizante à lei de agora, de excelentes resultados, está clara na transcrição, no site do próprio Ministério, de texto do jornal O Povo , do Ceará, estado onde houve discussões sobre o assunto: "O principal objetivo do Ministério com o projeto é que o Estado passe a regular o mecanismo de financiamento da cultura brasileira, hoje feito majoritariamente por meio de renúncia fiscal da iniciativa privada.". Afora a ...

PAC

Jornal O Estado do Maranhão O governo federal acaba de lançar o Plano de Aceleração do Crescimento – PAC. Não houve tempo ainda para uma análise detalhada de todas as possíveis implicações das medidas anunciadas como “o maior programa estratégico de investimentos do Brasil nas últimas quatro décadas”, segundo o documento oficial do Ministério da Fazenda, mas, é possível verificar que do total de R$ 503,9 bilhões destinados à infraestrutura, nas áreas de transporte, energia, saneamento, habitação e recursos hídricos, apenas R$ 67,8 bilhões ou 13,5% virão do próprio governo, recursos já consignados no orçamento de 2007 da União, ou que o seriam nos dos anos seguintes, não representando, portanto, algo adicional, ou seja, acima do que seria orçado de qualquer maneira, mesmo sem plano nenhum. Os cálculos levaram em consideração investimentos das estatais e do setor privado para alcançar os R$ 436,1 bilhões restantes. Ora, a não ser que o governo decida intervir em suas empresas a fim de ...

Perda irreparável

Jornal O Estado do Maranhão A vida pode nos golpear justamente quando tudo parece em seu lugar e nada indica a iminência de uma grande dor. O infortúnio costuma acontecer nos momentos em que nem nos lembramos da possibilidade de tudo de repente mudar, se tornar o contrário do que era e nos atingir com a força que só a indiferença do acaso, do destino, da fatalidade – ou o nome que se queira dar a isso –, pelo sofrimento das pessoas boas, é capaz de infligir. Surpresa dolorosa como essa aconteceu há poucos dias com a família de Raimundo Nonato Viveiros, o Viveiros de nossas brincadeiras de infância no Monte Castelo, bairro onde crescemos juntos e iniciamos uma amizade de criança que se prolongou nos adultos de hoje e já dura mais de 40 anos. Jogávamos bola, empinávamos papagaios, íamos ao cinema, a festinhas, sem imaginar que a existência pudesse reservar algum dia a um de nós sofrimentos algum, mesmo pequeno, pois outras não eram nossas preocupações senão as de estudar, apenas para n...

Davi

Jornal O Estado do Maranhão Bem se poderia chamá-lo de Vida porque Davi a tem em seu nome, como também nos olhos castanhos, brilhantes, sérios e ao mesmo tempo risonhos e alertas. Ele, curioso, observa tudo à esquerda e à direita, olha para cima e para baixo, e sem que se lhe ouça perguntar nada, pedir explicação de coisa alguma, já faz com o olhar todas as perguntas eternas dos humanos. Depois, quando pede algo, esboça um sorriso ou choro – a distância entre um e outro é pequena –, e agita os braços e mãos pequenas, com um gesto rápido e muito dele que o acompanhará ao longo de uma existência longa e feliz. Quando o vi pela primeira vez há quase três meses pensei nas incontáveis gerações que o trouxeram até aqui com o fim de nos iluminar. As vindouras, do mesmo modo, levarão os filhos, netos e bisnetos dele mais adiante, até o apagar dos tempos. Lembrei então, mirando o passado, de meus pais, avós e bisavós, especialmente do meu bisavô português que não conheci, mas quase o sentindo...

Más obras

Jornal O Estado do Maranhão Esta semana, os Estados Unidos, através de prepostos do governo do Iraque, enforcaram Saddam Hussein, ex-ditador do país, considerado com justiça um dos mais sanguinários governantes numa região do mundo conhecida por sua violência. Alguns, ou muitos, dirão que ele teve o castigo merecido, estando o assunto encerrado. Não sei se ele merecia a punição cruel e irreversível, mas o assunto não se esgota com a morte dele. Sou contra a pena de morte, por razões que não vou discutir agora. Entre os países desenvolvidos, ela só existe nos Estados Unidos, sendo o Texas, estado de Bush, pródigo no seu uso, inclusive durante seu período como governador. Todos os outros países condenaram a execução, menos a Inglaterra. Sua forma degradante igualou na barbárie os executores ao executado a quem fizeram o favor de abreviar o sofrimento, bem maior caso ele fosse punido com a prisão perpétua. No vídeo que circula na internet, mostrando o ato bárbaro do começo ao fim, pode...