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Lei do mais forte

Jornal O Estado do Maranhão Há no reino do Brasil algo de muito podre por todos os lugares. Do ponto de vista das pessoas comuns, entre as quais me incluo, tudo parece se desmanchar. Na economia, o país não cresce a taxas decentes há anos; na vida social, a cultura da esperteza, da roubalheira, do jeitinho, da agressão à lei são regra e não exceção; na justiça, vê-se inação, lentidão, burocracia, ineficiência, impotência e, sobretudo, injustiça com os pobres; na educação, prevalece o partidarismo político-universitário com suas perniciosas, com respeito à qualidade do ensino, eleições para reitor, e prevalece o descaso com o ensino básico, como se todos tivessem de ser doutores ou, mais precisamente, maus doutores, que não conhecem seus ofícios e pensam saber como se conserta o mundo; nas ações do crime organizado, ação, rapidez, poder, eficiência instrumental e códigos de justiça selvagens próprios, fora do alcance da lei. Eu gastaria uma página inteira deste jornal a fim de dar n...

Magia eterna

Jornal O Estado do Maranhão No domingo passado, antes da eliminação do Brasil da Copa-2006, pela França, eu dizia: “De qualquer modo, jogo é jogo. Podemos ganhar ou perder, porém as maiores chances são nossas. Espero que neste domingo (escrevo na quinta-feira) já estejamos nos preparando para jogar com Portugal ou Inglaterra [...]”. Voltamos, ou dito de forma mais exata, os jogadores voltaram, a maioria deles, não “o grupo”, para suas casas na Europa, fugindo de explicações. Cafu, um dos poucos com a coragem de dar as caras, disse que nem sempre o melhor vence, sem lembrar que não vencemos justo porque não fomos os melhores. O Brasil mostrou, tendo excelentes jogadores, não ter um time, bom ou ruim. Talvez tenhamos adquirido a síndrome do Real Madrid Suas estrelas de todas as grandezas, não conseguem ganhar títulos importantes. Os jogadores brasileiros acreditavam que o simples fato de pisar no relvado, como dizem os valentes portugueses, os faria ganhar de qualquer um. Esse raciocí...

Galo de briga e galinha morta

Jornal O Estado do Maranhão No início desta série sobre a Copa do Mundo, falei dos palpites dos especialistas de mesa-redonda de TV, que sempre tentam mostrar sapiência futebolística em suas pseudo-análises da Seleção. O que não fiz foi mostrar a ignorância empavonada dessa turma, disfarçada em pose de doutor. Um leitor atento e perspicaz, porém, sobre quem falei anteriormente, economista e poeta nascido no Piau, de mãe piauiense e pai maranhense, que há muito mora em Pernambuco, sendo, assim, de fato, um bom nordestino, Luiz Alfredo Raposo, me enviou e-mail com este comentário: “Lino, não pegue muito pesado nos ‘comentaristas’, o mais divertido neles é justamente a ignorância. Uma ignorância cheia de ‘razões’, fatos-e-fofocas, que tem uma notável paixão de se expressar. Um desses comentaristas no SporTV, chamado Paulo César (acho que é   o nome), é pequenino, usa um discurso castiço e veemente e tem uns olhos fundos e uns óculos que lhe dão a aparência de   um catedrático ...

O fenômeno voltou

Jornal O Estado do Maranhão A Copa do Mundo prossegue sem nenhuma surpresa. A ocorrência de zebras não é característica da competição. O caro leitor-torcedor vai, espero, se lembrar de uma particularidade a que já fiz referência mais de uma vez. Em todas as Copas, desde a primeira em 1930, até a de 2002, pelo menos um membro de um pequeno conjunto de países, formado por Brasil, Argentina, Itália e Alemanha, jogou todas as partidas finais. Num caso, contra um dos outros três, como nos confrontos entre Brasil x Itália, em 1970, Itália x Alemanha, em 1982, Argentina x Alemanha, em 1986, Alemanha x Argentina, em 1990, Brasil x Itália, em 1994 e Brasil x Alemanha, em 2002. Em outro caso, contra países que não esses quatro, como nos jogos entre Uruguai x Argentina , em 1930, Itália x Tchecoslováquia, em 1934, Itália x Hungria, em 1938, Uruguai x Brasil , em 1950, Alemanha x Hungria, em 1954, Brasil x Suécia, em 1958, Brasil x Tchecoslováquia, em 1962, Inglaterra x Alemanha , em 1966, A...

O torcedor número um

Jornal O Estado do Maranhão Daqui a dois anos, o Brasil fará a comemoração dos 50 anos de seu primeiro título da Copa do Mundo, conquistado na Suécia em 1958, em 29 de junho. O país completará meio século de consolidação de sua mitologia futebolística, baseada na genialidade de muitos de seus jogadores, criadores de momentos épicos do esporte, como Pelé, Garrincha, Nilton Santos, Didi, Gérson, Tostão, Jairzinho, Zico, Rivellino, Sócrates, Cafu, Bebeto, Romário, Ronaldo, Ronaldinho, Kaká e muitos outros que simbolizam com justiça o melhor do futebol no mundo todo. Uma personalidade que não incluí nessa lista de grandes estrelas e pop stars (sendo estes, os astros de agora), porque quero falar dele com mais vagar, é a encarnação mais completa do futebol brasileiro, a paixão mais profunda por ele, o amor mais delirante, mais do que poderiam sê-lo qualquer um desses outros mencionados. Pelé por ser um mito tão dominante, coloca-se em outra categoria e com tanta força, que fala de si mesm...

Palpites quadrados

Em época de Copa do Mundo, eles estão em todos os lugares, ou em todas as mesas-redondas sobre futebol e não se cansam de oferecer opiniões quadradas. São peritos em farejar crises virtuais na Seleção Brasileira e fazer previsões erradas sobre o vencedor da competição, talvez inspirados em Pelé, gênio do jogo e perna-de-pau do palpite, que vive fazendo prognósticos sem pé nem cabeça. Ele, calado, é um gênio incomparável. Um jogador usa um pouco mais de força num treino e, pronto, o ambiente entre os “membros do grupo” (time virou grupo já faz algum tempo, assim como vitória nunca é vitória, é “resultado positivo”) está ruim, fulano não fala com sicrano. Se, ao contrário, o craque pega leve então ele está gordo, fora de forma ou simplesmente se poupando a fim de não se machucar e perder alguns milhões de dólares de patrocínio. Se o técnico faz substituições no time titular durante uma simples prática, é um deus-nos-acuda. Ele vai mudar a tática, desmanchar essa ou aquela formação, por...

Nação campeã

Jornal O Estado do Maranhão A imprensa anda convidando escritores a relembrar como a Copa do Mundo de futebol deixou marcas em suas lembranças. Vejo na Folha de S. Paulo um excelente texto, “O Fim da Infância”, de Joca Reiners Terron, autor de A curva do rio sujo , memórias de sua família trabalhadas por seu olhar de ficcionista, à maneira da crônica em que recorda a derrota brasileira em 1982, época de seus 14 anos: “Quando o Brasil e Itália começaram a jogar eu ainda era um moleque de 14 anos. No final da partida já havia nascido uma barba cerrada na minha cara, chegava quase no peito”. A coisa ficou feia. A Folha não me pediu nem O Estado do Maranhão , mas o clima de Copa, com início em poucos dias pede. Atendo ao pedido. Metaforicamente ou não, nada tão radical aconteceu comigo na Copa da qual tenho a lembrança mais marcante, a de 1958, quando o Brasil ganhou a competição pela primeira vez, tendo eu 10 anos de idade. Eu acompanhara a de 1954, na Suíça, de cujas partidas ouço ain...