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Gato na Caixa

Jornal O Estado do Maranhão Quando Collor governava o Brasil e acusações de desonestidade contra seu governo cresciam dia a dia, o testemunho de um motorista tornou-se decisivo no processo de impeachment que resultaria no afastamento do presidente. Aquele homem simples foi saudado como a encarnação de todas as virtudes do povo. O PT quase o canonizou, deixando de fazê-lo porque o partido não dispunha ainda de um papa, como hoje, embora já fosse uma igreja de confusos ritos, como o de fazer intermináveis assembléias e reuniões a troco de tudo e de nada. Tínhamos naquela hora a impressão de estar diante de um daqueles operários-padrão retratados na arte realista do socialismo soviético, com bandeiras trêmulas ao vento, olhar rútilo em direção ao futuro e inimigos da revolução subjugados aos pés do herói proletário. Imagem cultivada ainda hoje pela fantasia de algumas pessoas politicamente corretas, como as que resolveram nos últimos tempos modificar as letras das cantigas de roda ou de...

Alma em campo

Jornal O Estado do Maranhão O conhecimento da alma humana passa por um campo de futebol Albert Camus A Copa do Mundo estará de volta em três meses. O Brasil é o favorito da competição porque nenhum país se igualou ao nosso, até agora, na capacidade de produzir, com tanta freqüência, tantos jogadores com tantas habilidades. Enquanto, no Mundial, de outras equipes se pergunta “quem é o craque deles?”, escasso craque, do Brasil se pode perguntar “quem não é craque nesse time?”. Nenhum otimismo sobre as nossas chances de mais uma vez ganhar o título é exagerado, com a ressalva de ser justamente a capacidade do futebol de surpreender uma de suas mais apaixonantes características. Aliás, esse é um dos poucos esportes capaz de oferecer aos mais fracos chances efetivas de vitória contra os mais fortes, conferindo-lhe a distinção de ser de fato democrático. Se examinarmos nossa participação em Copas do Mundo, veremos que nem sempre os brasileiros estiveram confiantes como estão agora....

José Aniesse

Jornal O Estado do Maranhão Na Quarta-Feira de Cinzas, fomos, parentes e amigos, levar o corpo de José Aniesse Heickel Sobrinho ao cemitério, onde, ainda perplexos com o inesperado de sua morte, nos despedimos do querido amigo, mas não das lembranças que ficarão em nossas mentes e corações até o momento de cumprirmos também o nosso destino inexorável de retorno ao pó. Para muitos, a vida dele não se encerra com o ritual de despedida. Haverá nova e melhor existência num paraíso e nisso vai um consolo para os que ficam pesarosos, todavia crentes num renascimento. Outros, como eu, gostam de pensar que vivemos enquanto sobreviverem naqueles com quem tivemos alguma coisa em comum, e em nossos filhos e netos, a memória do que fomos na vida. Essa, penso eu, é a imortalidade essencial. Se, de fato, for assim, então ele tem, desde já, essa garantia de não morrer nas lembranças de todos os que o conheceram. Lembranças capazes de me fazer ver no seu féretro, durante o velório, não um homem que ...

No fim das terras, uma leitura

Jornal O Estado do Maranhão , Caderno Alternativo O livro de poesia No fim das terras , de Milton Torres, diplomata gaúcho que serve atualmente no Consulado Geral do Brasil em Houston, no Texas, publicado pela Ateliê Editorial, de São Paulo, em agosto de 2005, é desses que, pela originalidade temática está destinado a marcar a poesia brasileira. A obra tem clara unidade de temas, pela visão do poeta sobre história, economia e sociedade, e cobre período que vai do início da expansão do império marítimo português até a Copacabana de nossos dias, passando pela aventura espanhola no Novo Mundo, pelo sistema colonial português na América, pelo Iluminismo mercantilista de Pombal e pela proibição da tecelagem por Dona Maria num tempo em que o processo manufatureiro da Colônia não podia mais ser contido. Nesse painel, Milton demonstra rara erudição, o que se pode ver também em outro trabalho seu, relativo ao Maranhão, feito a partir do manuscrito Memória político-econômica sobre o Maranhão ...

Inclusão por exclusão

Jornal O Estado do Maranhão A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou projeto que estabelece um sistema de cotas nas universidades federais brasileiras, pelo qual 50% de suas vagas seriam reservadas a alunos do ensino m édio de escolas públicas, incluídos nessa conta os negros e índios, de acordo com o percentual racial estimado pelo IBGE. A recente aprovação deu-se em caráter terminativo, o que significa não ser mais possível levar o assunto à discussão no plenário, antes de seu envio ao Senado, a não ser que um deputado qualquer, com apoio de 56 outros, peça o encaminhamento da matéria a debate amplo na própria Câmara, usando dispositivo do regimento da Casa. O deputado Gastão Viera pretende tomar essa providência, segundo me afirmou há poucos dias. Ele tem esperança de contar com o apoio dos colegas. A proposição deriva de idéia equivocada do governo do PT, dado, nos últimos tempos, a chamar de inclusão social todas as suas tentativas de fazer justiça so...

Outra casa, outra vida

Jornal O Estado do Maranhão A expansão de São Luís, até meados dos anos 60 do século XX, se dava no eixo que, saindo da rua Grande, passava pelo Monte Castelo até chegar ao Anil, em continuação de tendência que vinha de meados do século XIX. As construções , no governo José Sarney, da barragem do Bacanga, da margem direita à esquerda do rio Bacanga, e da ponte do São Francisco, ligando o centro histórico à margem direita do rio Anil, reorientaram esse movimento. Espaços de ocupação urbana se abriram naqueles locais antes isolados, o que deu origem a novos bairros. Era uma nova cidade brotando, com taxas elevadas de crescimento, ao tempo em que a antiga experimentava baixo crescimento e era obrigada a permanecer com atividades econômicas de pouco dinamismo. No início dos anos 50, quando o Monte Castelo ainda se beneficiava daquela tendência secular, meus pais decidiram ali construir uma casa, sob veemente protesto de minha avó paterna, que não admitia a mudança para “aquele fim de mu...

Presidente Jomar Morais

Jornal O Estado do Maranhão Cumprem-se na próxima quinta-feira, dia 2 de fevereiro, 22 anos da posse de Jomar Morais, como presidente da Academia Maranhense de Letras, em solenidade realizada também numa quinta feira. O presidente que sai recepcionou na Academia o que entra agora, Joaquim Itapari, em 1987 e, por coincidência, o professor Luís Rego, substituído na Presidência pelo primeiro, o foi na Cadeira N o 4 pelo segundo Daí se pode perceber os vínculos que unem Jomar e Itapari. Um, vínculo da amizade e outro, do destino. A nova Diretoria, da qual sou o Secretário Geral, receberá naquela data uma instituição admirada pela sociedade, como dá prova o interesse de nela tomar assento de parte de muitos intelectuais maranhenses. A imensa contribuição de Jomar à vida intelectual do Maranhão e à AML, pela qual tem amor verdadeiro e à qual dedicou grande parte de seu tempo, talento e recursos pessoais durante todos estes anos, não termina na semana vindoura. Seu trabalho começou antes ...