Postagens

As Índias

Jornal O Estado do Maranhão Em recente viagem à Índia o presidente Lula ralhou com os exportadores brasileiros ao dizer que eles deveriam vender mais e reclamar menos. De fato, os empresários têm reclamado, com razão, da burocracia estatal, pois, parece-me, é dela, principalmente, com seus regulamentos e normas confusos e obscuros, que eles se queixam. Ela tem sido no Brasil um poderoso fator de inibição das exportações, especificamente, e das atividades econômicas, de um modo geral, bem como um inaceitável agente de opressão do cidadão indefeso nas suas mais corriqueiras atividades no trato com o Estado. Procedimentos vistos pelo senso comum como banais tornam-se garras da impenetrável lógica burocrática e instrumentos de seu autocrescimento e autojustificação. Somente quem nunca a enfrentou pode reclamar de quem reclama dela. Esse não é certamente o caso do presidente Lula. Nos seus tempos de líder sindical quantas vezes não terá lutado contra a burocracia. Esta, provavelmente, era ...

De Boas Intenções...

Jornal O Estado do Maranhão Volta e meia, alguém se lembra de aumentar a lotação do inferno com – vá lá – boas intenções. Essa prática e suas conseqüências danosas são velhas, da idade de Matusalém, mas, lamentavelmente, continuam a ter muitos adeptos. Falo do Estatuto do Idoso em seu parágrafo terceiro, inciso V, do 15º . artigo, aprovado pelo Legislativo e sancionado pelo Executivo. Lá, está a eterna mania de quererem fazer obséquio com o dinheiro alheio. Na tentativa de proteger o cidadão de 60 anos ou mais de supostos “aumentos abusivos” por parte das firmas que comercializam planos de saúde privados, proibiu-se a elevação dos valores cobrados dessa faixa etária. Resultou daí a elevação para os futuros idosos – aqueles com idade abaixo desse limite – da mensalidade a ser paga a partir de seu ingresso nos planos. Ocorre o seguinte. As empresas, como forma de compensar a proibição relativa aos mais velhos, elevaram, muito previsivelmente, aliás, a contribuição dos mais novos, espec...

Marte e Marcianos

Jornal O Estado do Maranhão   Os americanos enviaram a Marte recentemente um robô. Ele acaba de transmitir de lá imagens de incomum beleza árida. Isso me lembra que foi igualmente americano o primeiro homem, Neil Armstrong, a andar na Lua em 1969. Ele nasceu em Wapakoneta, Ohio, Estado vizinho a Indiana onde eu iria morar depois, durante meus estudos de economia na Universidade de Notre Dame. Armstrong também estudou em Indiana, na Universidade Purdue, na área de engenharia aeronáutica. Quando eu escrevi aqui, há dois anos, sobre os passos dados até então pelo homem na conquista do espaço, falei sobre o compositor Bart Howard. Ele fez uma canção cuja letra fala de um namorado que diz romanticamente a sua amada: “Leve-me até a Lua/ e deixe-me cantar entre as estrelas./ Deixe-me ver como é/ a primavera em Júpiter e Marte”. Pois agora os americanos com seu espírito prático estão anunciando o fim de todos os mistérios, nascidos da distância e do desconhecimento, do Planeta Vermelho, s...

As Fichas

Jornal O Estado do Maranhão A polêmica sobre o fichamento de visitantes brasileiros na chegada aos Estados Unidos e de americanos ao Brasil mostra bem o acerto da observação de Machado de Assis sobre a facilidade de suportar-se com paciência a cólica alheia. O calo apertado no pé dos outros provoca talvez um leve bocejo e só. Enquanto apenas os brasileiros iam ser obrigados a submeter-se a esse procedimento, o problema não existiu para o governo americano ou pareceu tão-só o resultado de lamentações de gente pobre e atrasada. No entanto quando o juiz federal titular da 1ª Vara na Seção Judiciária de Mato Grosso, Julier Sebastião da Silva, provocado pelo Ministério Público federal, tomou a decisão de colocar em prática o princípio da reciprocidade, obrigando o Executivo brasileiro a proceder como os americanos, passou a ser algo discriminatório, mas somente porque praticado aqui. Qualquer pessoa de bom senso há de concordar com este raciocínio simples. Se a idéia de fichar os visitante...

Almanaque além da ilha

Jornal O Estado do Maranhão No fim do ano de 2003, recentemente falecido, tivemos aqui em São Luís um acontecimento de grande importância para a vida cultural maranhense. Foi o lançamento simultâneo pela Clara Editora e Edições Guarnicê dos livros Almanaque Guarnicê: 20 anos , de Félix Alberto Lima e outros, e Além da Ilha , de Antônio Carlos Lima. Os textos de ambos, guardadas as previsíveis diferenças de estilos, que são como impressões digitais do escritor, apresentam qualidades notáveis de desafetação, clareza, adequação ao assunto, leveza e correção, evidências dos talentos de Antônio Carlos e Félix no trato da língua que, infelizmente, sofre, em outras paragens, agressões diárias e sistemáticas. Suspeito de um componente genético nesses predicados comuns dos dois, pois são eles irmãos, não só biológicos, parece, mas também nas letras. Além da Ilha reúne textos anteriormente publicados em O Estado do Maranhão e em outros jornais. São treze entrevistas e artigos que tratam de ...

Ano Novo, velha esperança

Jornal O Estado do Maranhão O Ano Novo traz sempre esperanças de dias melhores do que os decorridos até 31 de dezembro do Ano Velho. Na passagem de um ao outro – em alguns países não-cristãos isso ocorre em datas diversas da nossa –, o que se vê? Votos de prosperidade, de felicidade, de paz e concórdia entre os homens e as nações, de saúde e de melhoria material e espiritual. Em resumo, a velha esperança de realização da harmonia universal ressurge anualmente, nesta época, embora ela nunca se realize, a despeito – ou até por causa, dirão alguns –, do progresso material, cujo maior quinhão vai sempre para os já senhores de muito ou tudo, deixando pouco aos donos de pouco ou nada. Essa esperança repetida é expressão da antiga e frágil crença de que, se todas as pessoas de boa vontade, do qual poucos estariam excluídos, e somente por vontade própria ou como conseqüência de atos pouco recomendáveis, de repente colocassem em prática as belas intenções expressas no fim do ano, tudo seria ma...

En defesa de Papai Noel

Jornal O Estado do Maranhão Papai Noel, como se sabe, não distribui presentes no Natal aleatoriamente. O bom velhinho obedece a um critério bem objetivo, usado há muito tempo, desde o começo de sua tarefa de Hércules, de andar pelo mundo todo na véspera do dia do nascimento de Jesus Cristo: a crianças ricas, presentes ricos; a remediadas, remediados; a pobres, pobres. Nada mais prudente. Com a sabedoria acumulada durante esses anos todos de seu meritório trabalho, ele percebeu rapidamente as dificuldades de dar presentes iguais a todas as crianças. Oferecer os mais caros a todo mundo colocaria um peso excessivo em seu orçamento, limitado como todos os orçamentos. A saída, do ponto de vista de seus parcos recursos, que o governo da Lapônia, onde ele mora, anda devorando com altos impostos, seria ele dar presentes que tivessem um preço médio entre os mais caros e os mais baratos. Mas, na qualidade de um profundo conhecedor da natureza humana, ele deve ter visto logo os problemas que a a...