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A reforma ortográfica

Jornal O Estado do Maranhão Estamos próximos da entrada em vigor de uma reforma ortográfica, inicialmente no Brasil, São Tomé e Príncipe, e Cabo Verde e depois em Portugal e nos outros países lusófonos, signatários, como esses três, do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Os objetivos do Acordo são de reduzir os custos de produção e tradução de livros, facilitar a difusão bibliográfica e melhorar o intercâmbio cultural entre os países de fala portuguesa, que têm em conjunto população de 240 milhões. Para isso, eles concordaram em alterar a maneira de grafar algumas palavras. As mudanças atingirão percentagem muito pequena da língua escrita em cada um deles, de tal forma a se poder chegar a bem-vinda simplificação e a padronização próxima de 100%. O leitor terá idéia de como os lusófonos andaram até aqui em dissintonia com as nações com herança lingüística comum sabendo disto. O espanhol, falado por cerca de 450 milhões de pessoas em 19 países, tem apenas uma ortografia oficial. ...

As agências e "a gente"

Jornal O Estado do Maranhão O presente caos brasileiro, explícito depois do desastre do Airbus da TAM que matou quase 200 pessoas e mostrou completa falta de coordenação entre órgãos encarregados do setor aéreo brasileiro, trouxe a debate público o papel das agências reguladoras no Brasil. O governo, depois de desvirtuá-las, enchendo-as de companheiros ansiosos por mostrar seus conhecimentos especializados em capturar bons empregos públicos e que, no caso da de Aviação Civil, Anac, de vôo de avião entendem tanto quanto eu do idioma mandarim, quer agora politizá-las, atribuindo ao Executivo o poder de demitir seus diretores. Querem matá-las, jogando fora juntos o bebê e a água do banho. Preservadas de politicagem nos países desenvolvidos, elas desempenham, livres de interferências perniciosas dos governos, papel importante na economia. Seus diretores, aprovados pelo Legislativo, têm mandatos fixos, não coincidentes como o do presidente da República, que não os pode demitir, e trabalha...

Um livro de Sálvio Dino

Jornal O Estado do Maranhão Nas notas para o que seria uma segunda edição do Dicionário histórico-geográfico da Província do Maranhão , de César Marques, Antônio Lopes se refere muitas vezes a O sertão : subsídios para a história e a geografia do Brasil , como sendo de Parsondas de Carvalho, alusão que surpreenderá os leitores familiarizados com esse livro, pois é a irmã dele, Carlota Carvalho, nas duas edições, a primeira, de 1924, e a segunda, de 2000, quem nela é apresentada como autora. Lopes cometeu simples engano ou teria outras razões para atribuir a autoria ao irmão de Carlota? A resposta a essas perguntas é uma das tarefas a que se propõe Sálvio Dino, da Academia Maranhense de Letras, no seu Parsondas de Carvalho : um novo olhar sobre O sertão , com prefácio de Milson Coutinho, também da AML, obra dada a público no dia 28 de julho, em Montes Altos, onde Parsondas foi enterrado há 81 anos. O objetivo central de Sálvio, no entanto, não é esclarecer dúvidas de décadas sobre que...

Lucy (dez)

Jornal O Estado do Maranhão E para onde vão esses pés, essa fronte, livres do óleo que fervia nas tardes? Eles vão para tudo. Lucy Teixeira Elegia Fundamental Ela possuía a lucidez e a lucidez possui o seu nome: Luci. Lucy Teixeira, a quem conheci em 1998 e com quem, apesar da diferença de idade, fiz uma grande amizade. Lucidez que a acompanhou até o instante de começar a padecer, sem nenhuma necessidade e a despeito dos esforços para protegê-la da amiga que lhe assistia em todos os momentos. Poetisa, romancista, contista, cronista, crítica literária, ensaísta, teatróloga, artista plástica, agitadora cultural, Lucy marcou a cultura maranhense do século XX como uma de suas figuras mais significativas. Se a sua produção não é conhecida como deveria em nosso país, a razão está unicamente em ter ela morado muitos anos na Europa, a serviço do Ministério das Relações Exteriores. Conviveu, em Minas Gerais, com grandes nomes da literatura nacional, companheira de estatura intelectual ig...

Domingo no cinema

Jornal O Estado do Maranhão Leio crônica do professor Alan Kardec, da Universidade Federal do Maranhão, sobre os antigos cinemas de Grajaú, sua terra natal. Ele, ao perceber ali a presença dominante de filmes americanos, propôs uma reflexão acerca da forma de absorção da cultura estrangeira no Brasil, em especial a dos Estados Unidos, país que, devemos observar, respaldado em gigantesco poderio econômico, leva a todo lugar sua cultura, em seus aspectos ruins e nos bons, como nos casos dos avanços científico-tecnológicos e do jazz, seja o tradicional ou de raiz, seja aquele que “representa um som universal de diferentes tribos”, no dizer do paulista-maranhense Augusto Pellegrini, no seu Jazz: da raízes ao pós-bop . Daquela cidade é também um velho e querido amigo, Sálvio Dino, meu companheiro na Secretaria da Fazenda do Estado no governo Pedro Neiva de Santana, entre 1971 e 1975, quando o secretário da pasta era Jayme Santana, antes meu colega na antiga Faculdade de Economia do Maranh...

Coque, coque

Jornal O Estado do Maranhão Reportagem recente da Veja mostra a contaminação das escolas brasileiras de nível médio por lamentável proselitismo esquerdizante. Os danos potenciais à educação são imensos porque se trata de doutrinação ideológica de jovens em período formativo. No entanto, eles não deveriam se submeter a visões primárias, além de unilaterais, acerca de assuntos importantes para a compreensão do mundo em que irão viver e trabalhar. Os tópicos curriculares devem ser debatidos a partir de mais de um ponto de vista, honestamente apresentados, e não servir de desculpa a tentativas de catequese. Eis a história. A mãe de uma aluna do Colégio Pentágono, de São Paulo, ao examinar apostilas usadas pela filha, produzidas pelo grupo COC para 200 escolas particulares e 220.000 estudantes, descobriu o que ela chamou de “panfletagem grosseira” e de “porno-marxismo”. Fiquemos num único exemplo: “A dissolução das comunidades neolíticas, como também da propriedade coletiva, deu lugar à ...

Delírio na Venezuela

Jornal O Estado do Maranhão Só o Partido dos Trabalhadores, em sua paranóia anticapitalista, seria capaz de propor a cassação da licença da Globo, concernente a serviços de transmissão de televisão, concessão do Poder Público. Digo mal, pois não é só o PT; também o MST, uma tal Central de Movimentos Populares e assemelhados. A proposta surgiu após o fechamento da RCTV por Hugo Chávez, da Venezuela, oportunidade em que o PT deu uma nota de apoio ao ato. Alega o caudilho venezuelano que a emissora participou de tentativa de golpe contra ele. Ora, a televisão Venevisión, na época oposicionista, do magnata Cisneros, coordenadora de fato da rebelião – anteriormente, lembremos, Chávez havia tentado seu próprio golpe –, mudou de lado, passou a ser bem tratada e adotou ardor oficialista de recém-convertido. Portanto, o crime da RCTV não foi o de ter apoiado o golpe antes, mas de ser contra o governo agora, quando se ouvem ameaças de fechamento da Globovisión, outra organização divergente. S...