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Cotas

Jornal O Estado do Maranhão O tema é polêmico e sujeito a emocionalismo capaz de levar muita gente a esquecer o bom senso e a racionalidade, se for possível estas qualidades prevalecerem num debate a respeito de milhares de pessoas discriminadas social e economicamente. Quero lembrar logo o fato bastante conhecido, mas esquecido com freqüência, de os Estados Unidos serem tomados como referência quando se fala do estabelecimento de cotas no ensino superior no Brasil. É natural ser assim, porquanto o sistema educacional americano é excelente, a julgar pela obtenção sistemática de Prêmios Nobel em diversos campos do saber e pelo reconhecimento mundial da excelência de sua educação universitária, apesar de defeitos que apenas destacam suas qualidades. A obtenção desse conceito se deu e se dá num contexto de crescente integração racial e criação de oportunidades de acesso à educação para os variados grupos étnicos componentes da sociedade americana. Existirá lá um sistema de cotas raciais ...

Controle,não!

Jornal O Estado do Maranhão Vem do senador e pastor, ou bispo, Marcelo Crivella, sob a forma de projeto de lei em tramitação no Senado Federal, ameaça à liberdade de informação, parecida com aquela de que falei na semana passada, de outro senador, Eduardo Azeredo, esta de vigilância dos usuários da internet. Agora o monitoramento seria sobre a imprensa. Crivella, que tem apoios interessados e bons companheiros na maldosa empreitada, quer alterar a Lei de Imprensa com o fim de proibir o que ele chama de divulgação de informações “potencialmente” ofensivas à honra. O projeto teve parecer favorável da senadora Fátima Cleide, do PT de Rondônia, para quem a idéia transformada em lei iria “coibir a atuação leviana dos meios de comunicação que divulgam denúncias sem ao menos verificar a solidez e a autenticidade dos elementos que lhe servem de base”. A opinião dela não é desinteressada. Ao contrário, provém do interesse de seu partido em impedir denúncias de mensalões, compras de dossiês e o...

Cadastro ou cadarço

Jornal O Estado do Maranhão Não me surpreendo com o bizarro projeto do senador Eduardo Azeredo, de vigilância sobre os usuários da internet, sob a desculpa de, com essa intimidação, evitarem-se atividades ilegais na grande rede mundial. A mentalidade por trás da tentativa é velhíssima. Tão velha que chegamos a esquecer de maus exemplos do passado. De um, porém, por mais recente, o leitor se lembrará. É o do cadastro de telefones celulares pré-pagos. Como as autoridades do Executivo são incapazes de controlar a utilização criminosa da telefonia celular, como já se viu muitas vezes – não conseguem sequer bloquear o uso de celulares nos mal afamados presídios brasileiros – decidiram que os possuidores de pré-pagos teriam de fornecer informações para a montagem de um cadastro, instituição onipresente no Brasil, onde existe um, inútil, em cada esquina. Basta ir a qualquer loja de operadoras de telefonia celular e ver a ansiedade dos vendedores em aceitar qualquer informação cadastral de ...

Os corpos da China

Jornal O Estado do Maranhão Uso informações do Banco Mundial divulgadas no site http://web.worldbank.org. A taxa média de crescimento anual do PIB da China foi de 9% desde o fim dos anos 70, o que re-tirou da pobreza absoluta centenas de milhões de pessoas, tornando o país, sozinho, responsável por mais de 75% da redução da pobreza entre os países em desenvolvimento nos últimos 20 anos. Entre 1990 e 2000, o número de pessoas vivendo com um dólar por dia diminuiu em 170 milhões. As mu-danças desse período criaram uma economia dinâmica, com melhora substancial dos indicadores soci-ais. O analfabetismo adulto, por exemplo, caiu de 37% em 1978 a menos de 5% em 2002 e a mortali-dade infantil de 41 por 1,000 nascidos vivos em 1978 para 30 em 2002. No entanto, muitos problemas persistem. A taxa de redução da pobreza diminuiu a partir de me-ados dos anos 90, a desigualdade na distribuição de renda aumentou e há sérios problemas ambientais. Apesar do sucesso do programa do governo, de corte ...

Quem explica?

Jornal  O Estado do Maranhão Não é de hoje meu espanto com a fixação de certas figuras da política maranhense em José Sarney. Nada acontece no Maranhão, nenhum fenômeno ocorre, natural ou social, sem que Sarney seja invocado. Houve chuva demais ou não houve nenhuma, ventou muito ou a brisa parou de soprar? Vai ver foi Sarney. O sol queimou alguma pele sensível, a lua não apareceu, a safra quebrou, o preço subiu, a feijoada salgou? Foi Sarney. O pãozinho subiu, o café tá amargo, a manteiga rançosa? Sarney, Sarney e Sarney. Quanta homenagem! Tive a oportunidade de dizer antes e repito. Idéia fixa como essa é uma forma de admiração – sabe-se lá por meio de quais misteriosos mecanismos da complexa psicologia humana ela surge –, de mesura disfarçada, de reverência enrustida, pois a criação de demônios equivale à criação de deuses. A campanha para a eleição de hoje está cheia de exemplos. Cito apenas um. Lula veio ao Maranhão, a fim de participar de um comício de apoio à senadora Ro...

Manipulação

Jornal O Estado do Maranhão No debate da semana passada entre os candidatos a governador do Maranhão, encontrando-se de um lado a senadora Roseana Sarney e do outro o ex-prefeito de São Luís, Jackson Lago, este afirmou que 900.000 maranhenses já deixaram o Estado como resultado de dificuldades econômicas e pôs a “culpa” desse suposto êxodo no grupo Sarney, ao qual atribui com freqüência tudo que acontece no Maranhão desde 1612 ou antes. Esse antiqüíssimo discurso, tão antigo quanto as idéias dos anos cinqüenta do ex-prefeito, não deixa de ser um tributo inconsciente, pois confere aos adversários terríveis poderes, capazes de fazer José Sarney voltar séculos no tempo a fim de reescrever a história, assumindo culpas antigas de nossa formação social, se se pode colocar culpa em alguém pelo males do Maranhão em quatro séculos de história. Mas, muita gente autodenominada marxista ou socialista, adepta de interpretações grandiosas e grandiloqüentes da história, não resiste ao impulso de ...

Tempo de pagar

Jornal O Estado do Maranhão Começo por onde terminei na semana passada: “Se, como foi anunciado com euforia na imprensa governista, Roseana foi rejeitada por 52,8% do eleitorado, então, pelo mesmo raciocínio, Jackson o foi por 65,6%, Vidigal por 85,8% e os outros, juntos, por quase 100%”. Costumam dizer os americanos, com aquele espírito materialista, prático e realista característico deles, dando-nos a impressão de frieza e indiferença, no entanto apenas superficiais, como sabe quem teve a oportunidade de com eles conviver, que não existe almoço de graça. Tudo tem custos e preço, embora, em algumas circunstâncias eles não sejam aparentes nem pagos por quem deveria. Significa dizer que alguém mais se encarregou de fazê-lo, quem sabe um sujeito oculto, um malfeitor, um vigarista qualquer, um malandro ou um benfeitor, um filantropo, um anjo, um santo. O leitor desejará saber a relação dessas idéias com rejeição eleitoral. Em verdade tem muito. Rejeições de 65,6% e de 85,8%, têm de possu...