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O Povo

Jornal O Estado do Maranhão   O povo é sábio, é justo, é bom, é generoso, é altruísta. É a encarnação coletiva do bom selvagem, de Rousseau, transformado num lobo feroz, não muito depois da chegada dos europeus a estas terras, por conta das agressões do invasor. A civilização, tão-só, o corrompe, com as ardilosas artimanhas do capital, que produz sociedades degeneradas, e com as manobras dos capitalistas, sempre dispostos a se aproveitar dos trabalhadores em benefício do aumento de lucros. Os comentários de alguns jornalistas da imprensa do Sul, irritados com a derrota do sim no recente referendo, permitem se fazer dessa entidade etérea, o povo, retrato como esse. Esse fetichismo do povo, como possuidor de todas as virtudes em contraste com as elites cheias de todos os defeitos, prevalece apenas, no entanto, até o momento de desacordo entre, de um lado, a visão dos problemas nacionais dos fetichistas e monopolistas da ética e, do outro, a visão popular acerca da melhor maneira de...

Dois Errados...

Jornal O Estado do Maranhão Vai se tornando comum nos meios petistas, bem como nos assemelhados e aderentes, o seguinte argumento amoral – nem imoral chega a ser, o que revelaria certa consideração a padrões de moralidade pública, algo fora das cogitações do ex-campo majoritário do ex-PT. Como, dizem, outros partidos usaram e usam caixa dois em campanhas políticas, o PT estaria justificado por ter criado também o seu, com o fim de comprar os votos necessários à aprovação de projetos do governo no Congresso Nacional, com a força do vil metal, materializada no mal afamado mensalão. Este neologismo, por sinal, tão logo foi inventado pelo ex-deputado Roberto Jefferson, se popularizou instantaneamente, revelando entusiasmada receptividade popular às denúncias do então parlamentar acerca do comportamento criminoso do petismo, outrora monopolizador da moral e dos bons costumes da vida pública. Por conta desse amoralismo nascido em Paris, em entrevista de nosso presidente, quando ele tentou ...

É Palhares o Morcego?

Jornal O Estado do Maranhão Não sei se o leitor já ouviu falar de Palhares, o canalha. Não um canalhinha qualquer. Ele era o canalha irretocável, perfeito, honesto. Atacava sem piedade as cunhadas nos corredores, depositando, qual morcego de filme de terror, mordidas e mais coisas no pescoço e em várias outras partes do corpo delas, na época em que muitas moças casavam, porém não saíam logo de casa, para onde traziam os maridos, pelos menos enquanto eles não arrumassem um bom emprego. Pois esse personagem inesquecível da ficção de Nélson Rodrigues, era um cara assim. Morava na casa do sogro. Mesmo vivendo lá, não se detinha ante as exigências da falsa moral burguesa do sogro e não deixava passar nenhuma oportunidade de assediar as irmãs da mulher que, pobre coitada, jamais desconfiou de nada. Agora, os cientistas anunciam a descoberta de inusitado comportamento num ser que age no estilo Palhares. Os machos dos morcegos da espécie Rhinolophus ferrumequinum fazem sexo com a sogra e, até...

Por Que Não

Jornal O Estado do Maranhão   Votamos hoje num referendo cuja divulgação nos meios de comunicação omitiu de todos nós informações relevantes sobre o assunto acerca do qual deveremos nos manifestar – a possibilidade da proibição da fabricação e venda de armas de fogo no Brasil –, dizendo sim ou não, e as razões de termos de fazê-lo. Muitos não saberão sequer o significado da palavra referendo e menos ainda diferençá-la de plebiscito, desconhecida de seu Rodrigues, que não admitia ignorá-la, como ignorava também o significado de proletário, no conto de Artur Azevedo, ignorância responsável por rusga familiar entre ele e d. Bernardina, sua mulher. Teimosia e desconhecimento semelhantes a respeito das conseqüências da eventual vitória do sim, criarão condições propícias à elevação do índices de violência e criminalidade, como aconteceu em outros lugares. A votação é sobre o Estatuto do Desarmamento, lei aprovada com o condicionante, introduzido pelos adversários da proibição, que a c...

Os Bustos do Panteon

Jornal O Estado do Maranhão   Na quarta-feira passada, comissão de acadêmicos da Academia Maranhense de Letras – AML, formada por Jomar Moraes, seu presidente, Mílson Coutinho, Joaquim Itapary, Lourival Serejo e eu, encontrou-se com o prefeito de São Luís, Tadeu Palácio, para dar prosseguimento à frutífera reunião do dia 11 de agosto último. Como da vez anterior, ele nos recebeu de maneira cordial e demonstrou, sobre o assunto que nos levava a procurá-lo novamente, vivo interesse e conhecimento detalhado. Discutimos a situação dos bustos, até pouco tempo atrás presentes na Praça do Panteon, de homens importantes de nossa vida literária, quase todos construtores da identidade cultural maranhense a partir do século XIX, obra continuada por legítimos sucessores no século XX e neste. Enquanto, durante anos, modelados em bronze, estiveram naquele local, era como se ausentes permanecessem para muita gente. Não para os malfeitores, porém, especializados em arrancá-los de onde estavam pa...

Sessões Contínuas

Jornal O Estado do Maranhão Eles se foram em silêncio, um de cada vez, pouco a pouco. Um dia, sentimos alguma coisa diferente. Olhamos em volta e não os vimos. Tinham ido embora, desde o da mais alta classe até o mais popular. Eles se sentiam desprezados, abandonados pelos amigos. O último a ir-se foi o Passeio, o cinema na rua do mesmo nome, pois é de cinemas que falo. Era o penúltimo no centro da cidade e foi inaugurado em 1962. Fechou há poucas semanas, depois de 43 anos de funcionamento. Creio ter sido o primeiro em São Luís com ar condicionado. Seus proprietários haviam construído antes, em 1960, o cine Monte Castelo, quase ao lado de nossa casa. Eu tinha 12 anos e vi construírem o prédio desde o alicerce até o teto. Eu me sentava na copa a fim de fazer os deveres de casa. Vezes sem conta perdi a concentração nos estudos, observando pela janela lateral os operários completarem o imenso telhado, aos pouco fechando os vazios, com fieiras e fieiras de telha, como quem vai colocando...

Nova Orleans

Jornal O Estado do Maranhão   Nova Orleans foi, em 1718, como São Luís em 1612, fundada por franceses. Portanto, cento e seis anos depois de nossa cidade. O Estado de Louisiana, onde está localizada, originalmente foi possessão da França, vendida por Napoleão I aos Estados Unidos em 1803. É famosa pelo Bairro Francês com seu Mardi Gras, que lembra nosso Carnaval, pelo Dixieland jazz e pelo blues, por sua culinária e por ser o lugar de nascimento de músicos como Jelly Roll Morton e Louis Armstrong. Construída às margens do Mississipi, ela foi atingida por um furacão batizado como Katrina. Poucas vezes houve uma ataque natural tão devastador numa área em que fenômenos desse tipo são comuns. Localizada abaixo do nível do mar em vários pontos, tem em redor diques para contenção do rio ao Sul e do lago Pontchartrain ao norte. Essa linha de defesa, contudo, não foi capaz de conter o imenso volume de água vindo dessas duas direções, quando as barreiras se romperam. Os que não conseguira...