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Globalização

Jornal O Estado do Maranhão Descobriu-se, finalmente, a causa de todos os males e bens do mundo. A gasolina subiu, o real caiu? Deu terremoto na Índia, maremoto no Japão, tempestade na Austrália? O deputado enfartou, o senador gripou, a saúde piorou? O amor acabou, o marido se mandou, a mulher nem lamentou? A seca arrasa o Nordeste, as enchentes o Sudeste? A fome mata na África, as guerras em todo lugar?  É a globalização. A recessão melhorou, a economia cresceu, o emprego aumentou? A inflação encolheu, o preço agora tá certo, deu pra comprar a TV? Fez muito sol no domingo, o futebol foi legal, deu pra jogar no bingo? É a globalização. Fenômeno já bastante antigo, ela parece responsável por tudo no mundo de hoje. No Fórum Econômico Mundial realizado na semana passada em Davos, na Suíça, reuniram-se homens sérios e solenes. Eram chefes de Estado, economistas famosos, financistas, empresários, gente de peso econômico, para longas discussões sobre o futuro da economia mundial. Foi lá ...

Uma carta

Jornal O Estado do Maranhão Tenho uma carta diante de mim e de minha emoção que não é pouca. É a respeito do artigo que escrevi, há algumas semanas, sobre a travessia que se fazia em pequenos barcos, aqui em São Luís, da Beiramar para a Ponta da Areia, antes da construção da ponte do São Francisco. Com a desculpa de avivar minha fraca memória, acerca das marcas e modelos dos carros da época, o remetente se põe a fazer elogios, com sinceridade e justiça, tenho certeza, a meu pai, Carlos Moreira, de quem falei. Dizem que santo de casa não faz milagres. É verdade, menos no caso dos filhos, para quem os pais serão sempre heróis. Foi isso que a carta me fez sentir e lembrar primeiramente. Mas não foi só isso. A referência às “viagens” a São José de Ribamar, “com direito a despedida”, levou-me de volta ao momento em que, de certo trecho da estrada, num ponto alto, se avistava, como ainda se avista, a cidade do santo lá longe. Era nesse momento que o céu, uma imensa redoma azul e branca, se a...

A preservação da Amazônia

Jornal O Estado do Maranhão Há previsões com objetivos de lucro. São as que enchem as páginas dos jornais e revistas em fins de ano. Uma personalidade do mundo artístico vai sofrer um acidente, etc., etc. Elas geram notoriedade, fama e dinheiro para seus autores, atores também. Mas há outras, feitas para que o desastre antecipado não se cumpra. Exemplos são as previsões sobre o futuro da Amazônia. Elas serão desmentidas, acredito, pelas forças do bom senso que despertarão. Os mais recentes estudos de instituições de pesquisas brasileiras e estrangeiras estão prevendo um triste destino para a região. O perigo, infelizmente, mas não surpreendentemente, vem do próprio governo federal, através do seu programa Avança Brasil. Ele prevê investimentos de até R$ 88 bilhões para a região em obras de infraestrutura como rodovias, ferrovias, hidrelétricas, linhas de transmissão de energia e outras. Para se ter uma idéia do impacto que tais obras podem causar, basta dizer que um estudo do Institut...

Reggae do Maranhão

Jornal O Estado do Maranhão O futebol é, o Carnaval é, o samba também é. Tudo importado. Até a língua, de Portugal, que a importou dos romanos. Por que só o reggae não pode ser?! Bem fez Charles Miller, brasileiro de nome inglês, mas nem por isso menos brasileiro ou mais inglês, trazendo o futebol da Inglaterra para o Brasil em 1894. Coisa de gente fina, diversão para granfinos, esporte para ser praticado em chácaras familiares da pequena São Paulo. Aí, os negros e pobres gostaram, acabaram entrando na dança. O sotaque britânico foi se perdendo. “Center-forwards”, “halfs”, “backs” e “corners” viraram centroavantes, meias, zagueiros e escanteios. O jogo se amoleceu, se aveludou, se abrasileirou, se popularizou, melhorou. Alguém, hoje, tem a coragem de chamá-lo de estrangeiro? E o Carnaval? O entrudo português foi mudando, mudando, deu no zé pereira, animado por zabumbas e tambores, passou pelo corso, o rancho e acabou na nossa forma de Carnaval, com Escolas de Samba no Rio de Janeiro, t...

Copa ou cova João Havelange?

Jornal O Estado do Maranhão O futebol brasileiro está sob ameaça e bem poderia dizer, como na canção de Roberto Carlos: “Querem acabar comigo”. O perigo está nos dirigentes, do lado de fora dos campos. Não, certamente, nos jogadores. O esporte não pode ficar nas mãos de pessoas despreparadas que têm, repetidamente, dado a impressão de defender apenas interesses pessoais e estranhos ao futebol, com tal descontrole emocional que não há quem não duvide de suas intenções. Não se pode permitir que o país quatro vezes campeão do mundo, duas vice-campeão, duas terceiro colocado, uma vez quarto, que há seis anos é o primeiro do ranking da Fifa, que teve Leônidas da Silva como o artilheiro da Copa do Mundo de 1938 e Ademir Menezes da Copa de 1950, que produziu gênios como esses dois e mais Pelé, Garrincha, Romário e centenas de outros — não se pode permitir mais que esse país seja submetido à vergonha que foi o jogo final da Copa João Havelange, entre o Vasco da Gama e o São Caetano, no sábado ...

Ano, século, milênio

Jornal O Estado do Maranhão Chegamos ao fim do ano e do século.Pelo menos desde que, há 1500 anos, o papa João I encarregou o monge Dionísio Pequeno de preparar um sistema de contagem do tempo, para uso no mundo católico, sempre houve intermináveis e inconclusivos debates a respeito da data certa para a comemoração da passagem. Este ano e em 1999, o interesse foi ainda maior, porque não estamos somente no fim e no começo dos séculos XX e XXI, mas de um milênio também. A polêmica se dá, em parte, pelo erro do monge em não considerar o ano zero nos seus cálculos. Imediatamente após o ano 1 a.C., ele colocou o ano 1 d.C como o marco inicial da era cristã. No entanto, se queremos tomar Cristo como base de nossa contagem, então devemos marcar o ano de seu nascimento como 0 e não 1. Pelo sistema de Dionísio, quando Cristo completou 1 ano de idade a seqüência já estava, paradoxalmente, no ano 2 de sua era; quando ele tinha 2 anos ela estava no 3 e assim por diante. É fácil ver, também, que o ...

Mudaria o Natal...

Jornal O Estado do Maranhão A história do cristianismo é admirável. Como foi possível a um grupo de homens simples do povo, rudes, sem luzes, fundar uma religião que viria a ser, menos de quatro séculos depois da morte de seu criador, a religião oficial do império romano? Quem, vendo ou vivendo as perseguições, por motivos políticos, principalmente, sob os imperadores Nero, Décio, Diocleciano e Galério, poderia prever a glória terrena da igreja de Cristo de coroar reis e rainhas e substituir o próprio império por outro? Que milagre foi esse? Será lícita aos crentes a alegação da justeza dos ensinamentos de Cristo e do caráter de revelação divina da sua palavra. Naturalmente, outras religiões poderão socorrer-se de argumentos semelhantes para sua autojustificação. Não estamos impedidos, porém, de procurar o que Edward Gibbon, no seu justamente famoso Declínio e queda do império romano , chama de “segundas causas”. Diz ele que as principais razões para vitória tão espetacular foram o zel...