28 de agosto de 2016

Jomar Moraes

Jornal O Estado do Maranhão

          Será imensa a falta que a morte de Jomar Moraes fará ao Maranhão, por sua também imensa contribuição à cultura maranhense. Autodidata em quase tudo, exceto em Direito, área em que fez seu único curso formal, na Universidade Federal do Maranhão, ao longo de uma vida inteira de estudos, ele adquiriu, no passar dos anos, vastos conhecimentos em História, em especial do Maranhão. Isso lhe permitiu fazer a terceira e monumental edição do Dicionário histórico-geográfico da Província do Maranhão, de César Augusto Marques, de referência obrigatória nos estudos históricos sobre nosso estado, contando com equipe de um só membro, ele mesmo.
          A obra tem 1028 páginas, em tamanho grande, 21 cm x 30 cm., em corpo 9. Para se ter ideia do esforço exigido para sua realização, atente-se para isto: Jomar elaborou 1508 notas que corrigem, esclarecem, atualizam e incorporam novos verbetes, como os relativos a municípios criados após a segunda edição do Dicionário. Elaborei o índice remissivo, com 91 páginas, contendo informações sobre lugares, nome de pessoas, acidentes geográficos, livros, etc. Se me pedissem uma lista com obras dele de minha preferência, eu colocaria o Dicionário, o Guia de São Luís e a biografia Gonçalves Dias: vida e obra.
          Ele colocou em circulação, também, autores maranhenses esquecidos por falta de reedição, mas merecedores de retornarem à convivência de seus pósteros, pelos excelentes atributos da produção de cada um deles, cujas obras não eram reeditadas havia décadas.
          Não se deve esquecer, ao falar-se sobre seu envolvimento com as coisas do Maranhão, que ele não se limitou à alta cultura ou cultura literária. Desde sempre ligado às manifestações culturais do povo (foi padrinho de alguns bois), ele tinha envolvimento íntimo com elas e conhecimento minucioso sobre suas origens e sua história.
          À força de muito esforço, inteligência e uma memória prodigiosa, ascendeu gradativamente, dirigindo diversos órgãos públicos na área cultural. Na Academia Maranhense de Letras, chegou a ocupar por 22 anos a presidência, realizando trabalho insuperável de reerguimento da instituição.
          Tenho visão que é muito particular, creio, sobre a importância de Jomar. Falo de seu papel como guia das novas gerações e, até, das antigas. Quantas vezes vi, na sua biblioteca, jovens e idosos, gente de todas as idades, as quais ele nunca deixava de atender, pedindo orientações, referências bibliográficas, informações históricas e muita coisa mais.
          Tendo notícia de seus problemas de saúde, liguei para sua residência e falei com Júlia, sua filha. Ela me colocou a par de seu estado. Voltando do hospital, ele teve a gentileza de me telefonar, quando tivemos longa conversa, depois de período em que nós, amigos por tantos anos, estivemos distantes um do outro, já não me lembro da razão. Disso recordo com emoção. Alguns dias depois, me enviou seu último trabalho, Maranhão Sobrinho, poesia reunida, com dedicatória, em edição organizada e promovida por ele de poesias do grande poeta de Barra do Corda.

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