Preço a pagar
O Estado do Maranhão
Esses correspondentes, como é comum ocorrer em sua profissão, são bem treinados e altamente qualificados para entender e interpretar o país onde trabalham, sendo a habilidade com a língua local apenas uma entre várias. Eles também estudam a história e a vida social assim como a política das sociedades onde se encontram. Discursos ideológicos, portanto, bem como tentativas de arrastá-los até o ponto de vista de correntes políticas e ideológicas locais, são tentativas vãs de influenciar suas análises, destinadas ao público caseiro deles.
Na semana passada vi na TV entrevista com três correspondentes de jornais e revistas internacionais: um russo, um escocês e um espanhol. Os três falam excelente português e soam como nativos do português brasileiro. Destaco o talento deles a fim de lembrar que não padecem de problema comum de estrangeiros em qualquer país do mundo: a barreira da língua. As sutilezas linguísticas em qualquer idioma têm essa característica de, quando menos se espera, erguerem obstáculos à comunicação, criando a sensação ao não nativo de falta de chão e de vertigem de queda em precipício.
Qual a razão de eu dizer tudo isso? O entrevistador insistia na mentira da polarização da sociedade brasileira, nomeadamente, como dizem nossos amigos portugueses, ao falar do impeachment de Dilma. Se algum entrevistado ignorava o suposto confronto de metade contra metade da população, ele voltava ao ponto.
Ora, entende-se por polarização – pelo menos, entendo eu – como uma disputa equilibrada entre duas forças antagônicas e igualmente fortes. No contexto brasileiro de hoje, situação como essa não ocorre. Temos, em um polo, 20% da população e, no outro, 80%, segundo pesquisas de opinião recentes. Onde, o equilíbrio? Os números espelham a profunda rejeição ao governo em todas as regiões brasileiras, todos os níveis de renda e de educação e todas as faixas etárias da população. Lula é o potencial candidato a presidente em 2018 mais rejeitado, com vários corpos de vantagem negativa sobre os possíveis adversários, embora apareça, aos olhos dos eleitores, à frente de eventuais pretendentes. Num provável segundo turno, suas chances de eleição seriam mínimas.
Esse povo, hoje opositor tão veemente ao PT e seus líderes, é o mesmo que já os aplaudiu fanaticamente. Mudou o quê? Mudaram muitas coisas, sendo o desastre econômico, criado por políticas econômicas simplistas e erradas, a mudança mais importante. O eleitor, acredito, tende a olhar em outra direção, evitando ver as falcatruas, quando sua vida e a de sua família lhe dão a sensação de melhorar. Aconteceu no Mensalão, quando as coisas andavam menos mal arrumadas, mas, não no Petrolão, quando a economia estava se desmanchando. Nenhuma Bolsa Família, nenhuma fábrica de votos, será capaz de gerar apoio quando a inflação aumenta junto com o desemprego, na presença de uma chefe do Executivo incompetente em todas as áreas.
Os economistas costumam dizer que tudo tem preço, embora nem sempre quem deveria pagá-lo o faça, porque, na sociedade, outros o fazem em seu lugar. Neste caso, não, pois o PT paga o preço de seus próprios delitos e delírios.
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