De quem, a conta


          Passados brevíssimos três dias da eleição presidencial, o Banco Central, a mando de Dilma Rousseff, notória inimiga da autonomia do órgão, sentimento alardeado por ela durante a campanha eleitoral, elevou a taxa básica de juros da economia brasileira a 11,25%. Todos sabiam que, cedo ou tarde, medidas de contenção da inflação, entre elas essa de agora, teriam de ser tomadas, na hipótese benigna, claro, de estar na cogitação dos companheiros o combate “diuturno e noturno à inflação”, como certamente diria Dilma em dilmês, essa língua tão pitoresca, da família do búlgaro antigo. Todavia, ninguém contava com tanta pressa. Faltou um pouco de pudor, considerado o discurso aterrorizante de campanha contra, justamente, a elevação.
          Em verdade, eu sempre pensei que seria Aécio Neves, caso eleito, o executor dessa política “neoliberal” e não o “partido do povo”, não o PT, na medida da representatividade efetiva da presidente das ideias do petismo, ou petralhismo, sei lá, defensor presumido de medidas econômicas heterodoxas cuja aplicação há tempo geram fracassos e ranger de dentes mundo afora. Onde receitas de tal natureza funcionaram positivamente? Em qual país elas geraram estabilidade com inflação baixa e crescimento razoável? Por favor, amigos, ajudem-me, preciso conhecer um exemplo apenas, a fim de convencer-me da das virtudes da heterodoxia. Prometo, caso alguém me apresente fato concreto, ser dela fiel discípulo.
          Mas, eu falava dos juros e da ordem de elevá-los dada por Dilma ao BC e já me lembro dos combustíveis e da energia elétrica. No primeiro caso, a julgar pela reação do mercado, a subida dos preços, autorizada pelo governo do PT, veio insuficiente e muito tarde, na avaliação dos agentes econômicos, e não resolverá os problemas de caixa da Petrobrás. Simultaneamente, levará à intensificação das pressões inflacionárias. Esse julgamento resultou em forte movimento de baixa das bolsas e alta do dólar, como há décadas não se via.
          Fechando, por enquanto, esse pacote pós-eleitoral, a energia elétrica foi igualmente elevada como consequência das barbeiragens na condução da política energética do país de 2013 até hoje. Dilma, suposta especialista no assunto, achou de forçar as geradoras de energia a renovar antecipadamente seus contratos de fornecimento. A conta chegou agora na forma de preços mais altos.
          O nome dado a todos esses movimentos, nas circunstâncias em que foram feitos, logo após as eleições e em confronto com promessas da candidata Dilma, inteiramente contrárias às decisões dela mesma neste momento, só pode ser o de estelionato, assim definido: "Obter, para si ou para outro, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento."
          É autor de tal crime, de esconder do eleitor os aumentos planejados ainda antes da campanha e de atribuir ao adversário da então candidata ações que acaba de praticar, o governo do Brasil, por sua presidente e seus ministros da Fazenda e do Planejamento. Eles agora pedem ao Congresso aval legislativo para desrespeitar a Lei de Diretrizes Orçamentárias, a Constituição do Brasil e a Lei de Responsabilidade Fiscal por meio do abandono das metas de superávit primário, tornando legal comportamento ilegal já adotado na prática: o abandono de diretriz econômica de qualquer natureza. Teremos este ano um superávit inexistente, como inexistente é a política econômica. Resultado: aprofundamento do descrédito do Brasil e fortalecimento das expectativas inflacionárias, como se já não tivéssemos tantas más notícias.
          Como dizem com acerto os economistas, nada é de graça, tudo custa alguma coisa e, portanto, tem preço explícito ou não. Se não o pagamos, outros necessariamente o farão por nós. A conta já começou a chegar. Pena que ela não seja cobrada apenas dos responsáveis pelo desgoverno, pelos embustes eleitorais e pela decadência em que vivemos. Pagarão caro todos os brasileiros, eu e você, caro leitor, na moeda da perda de renda e estagnação econômica inescapáveis.

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