Sem dúvidas

          Encontram-se de tal maneira degradados os valores éticos na vida pública, tão vulgarizados os golpes baixos nas disputas políticas, tão poderosa por todo canto a corrupção, onipresente no dia a dia da administração federal, tão grande a deterioração institucional e tão prevalecente a empulhação intelectual e moral na nossa sociedade, que o país está a ponto de ver a instalação – seja apenas em peça teatral de quinta categoria ou de quinta-coluna da democracia –, de CPI de uma CPI. Há poucos dias, o ministro Paulo Bernardo, do PT, disse em entrevista à Folha de S. Paulo e ao UOL, a respeito da farsa na CPI encarregada de investigar as falcatruas na empresa: “Isso vem desde Pedro Álvares Cabral. Porque, na primeira CPI, já deve ter acontecido isso. A não ser que a gente queira fingir que nós somos todos inocentes, que somos muito hipócritas, e falar: ‘Não, isso não acontece’”. Para lembrar os leitores, os depoentes receberam de gente do governo antecipadamente as perguntas com as respostas convenientes a serem dadas nos depoimentos à comissão. Não parece coisa das democracias venezuelana e cubana?
          As palavras do ministro equivalem a dizer que mentira repetida mil vezes se torna verdade ou crime cometido repetidamente se torna virtude. Não era essa a justificava de Lula para as falcatruas do Mensalão? “Todo mundo faz a mesma coisa”. Mas ele só admitia, claro, a existência de “simples” caixa dois, delinquência tornada virtuosa depois de encenada infinitas vezes. O ataque neste momento é contra o mais importante instrumento constitucional das minorias parlamentares no seu papel de fiscalizar o Executivo: as comissões de inquérito.
          Raras vezes se tem visto agressões tão constantes, apesar da incompetência dos perpetradores, contra os princípios de nossa democracia como nos doze anos de administração petista. O Mensalão, na seara dos lances mais ousados e deixando de lado os batedores secundários da carteira do setor público, madrugou na fila. Tornaram-se tão comuns o desassombro e a cara de pau dos assaltantes ao se atirarem ao crime nesse episódio que os acusados e depois condenados por diversos crimes alegaram ser culpados apenas de fazer caixa dois em campanhas eleitorais, e não da qual eram acusados, de maior gravidade, esperando desse modo alcançar absolvição perante a justiça. A trama foi, como se viu no julgamento dos mensaleiros, inaceitável ameaça a um dos Poderes da República, o Congresso Nacional, tentativa de subjugá-lo, à semelhança do ensaio de desmoralização de outro Poder, o STF, que julgou o caso e que tem entre seus membros, vejam a ironia, 8 de 11 membros indicados pelo governo do PT.
          O partido, há poucos meses, por decreto da presidente do Brasil, resolveu enfiar em órgãos federais conselhos (sovietes, em russo) eleitos por ninguém, cujos membros são escolhidos pelos chamados movimentos sociais. Como estes seguem orientações partidárias, o resultado na prática seria a manutenção do controle do governo pelo PT mesmo se derrotado o lulo-petismo na próxima eleição presidencial. Felizmente, o Congresso se movimenta a fim de derrubar a excrecência. As afinidades com os regimes bolivarianos da Venezuela, Bolívia e Equador não deixam dúvidas quanto à intenção dos proponentes do decreto.
          E a história do “controle social dos meios de comunicação”? Mais uma tentativa de destruir as instituições indispensáveis à democracia. É antiga obsessão de Franklin Martins, Rui Falcão, Lula, Dirceu, de todos os mensaleiros bem como do partido. Perdendo cada vez mais a esperança de se manter no comando pelo voto, desejam se eternizar no poder controlando a imprensa, aparelhando a administração do país e destruindo os mecanismos capazes de fazer funcionar uma democracia de verdade.
          E pensar que essas pessoas já se apresentaram ao povo brasileiro como membros do partido da honestidade e como verdadeiros democratas! Terão a coragem de se exibir novamente assim um dia? Quem saberá! Mas, considerando-se o histórico deles, não se pode ter dúvidas sobre isso e qualquer coisa mais.

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