13 de julho de 2014

Derrotas e vitórias

Jornal O Estado do Maranhão

          A Copa do Mundo Brasil termina sem o Brasil na disputa final. No momento em que escrevo, não sei se terminamos em 3º lugar ou em 4º, se a Alemanha foi campeã ou a Argentina. De qualquer forma, três seleções entre as que chamo de quatro grandes – Brasil, Argentina, Alemanha e Itália – ficaram entre as quatro mais bem posicionadas. Em todas as Copas, com a solitária exceção da de 2010, uma delas, ou duas como agora, disputou o último jogo. Qual a explicação então para a surpreendente derrota da nossa seleção, a maior vencedora entre todas, por 7 a 1 a favor da Alemanha na semifinal? Há fatores que não podem explicar a derrota e há os outros. Vejamos.
          Não podem explicar: 1) O elenco – O Brasil tem um grupo excelente formado por jogadores de sucesso nos melhores times europeus; não acredito que tenham desaprendido de jogar futebol ao serem convocados para a Seleção; 2) A direção técnica – Não é crível o esquecimento por parte de Felipão de conhecimentos táticos acumulados durante carreira tão bem-sucedida. Ele comandou a equipe brasileira no Pentacampeonato e levou a medíocre esquadra portuguesa ao quarto lugar na Copa de 2006 e ao segundo na Eurocopa de 2004. Sua passagem recente pelo Palmeiras, quando o time fracassou, mostra tão somente a impossibilidade de fazer-se milagres com elencos de pernas de pau;
          Podem explicar: 1) A disputa em casa – Jogar em seu próprio país é vantagem ou desvantagem? Um dos maiores erros de Felipão foi o de tomar como obrigação de nossa seleção vencer em casa. Nenhuma equipe tem a obrigação de vencer; tem a de aplicar o máximo de esforço possível, nos limites de sua competência, com o fim de superar os adversários. Temos de ter consciência da impossibilidade de sempre ser o primeiro. A meu ver, estar perto da própria torcida e encarar a “obrigação” de ser campeão, pesou negativamente no lado emocional dos jogadores. Veja-se a reação de pânico deles no jogo contra o Chile. Quando Neymar e Tiago Silva, os dois jogadores brasileiros mais importantes, não puderam jogar contra a Alemanha o time desmoronou antes de entrar em campo. A rapidez com que os alemães construíram o placar tem origem aí; 2) A soberba brasileira – Decorreu da malfadada “obrigação” a ideia de armar um time o mais ofensivo possível contra a Alemanha em vista das ausências inesperadas de Neymar e Tiago. Sem considerar o poderio germânico, Felipão, com soberba incomum, pensou exclusivamente em recompor o ataque com Bernard em substituição a Neymar. Se pudéssemos, creio eu, segurar os alemães por uma boa meia hora, com o aumento do número de volantes em nosso meio campo, o jogo teria tido um desenrolar diverso a nosso favor provavelmente.
          Por fim, percebo isto: em menos de 24 horas os investimentos dos germânicos na infraestrutura do futebol, passaram à condição de explicação universal do bom resultado deles. Bem, ou essas inversões estão produzindo resultados muito devagar, pois vêm sendo feitas há mais de uma década ou ainda vão produzi-los com certeza. Mas, quem pode jurar sobre o futuro? Sim, devemos investir mais e, sobretudo melhor. Mas, isso não explica da missa a metade. E se a Argentina for a vencedora? Qual explicação será oferecida? Os argentinos investiram tanto quanto seus adversários de hoje?
           Tendemos a analisar o futebol como se ele fosse de natureza diversa da sua: um esporte em que o inesperado, atiçado pelo senhor Sobrenatural de Almeida, surge do nada em um segundo e muda tudo numa partida. É ilusório pensar cartesianamente em mudar uma variável aqui com o fim de ter determinado efeito ali, segundo uma regra pré-determinada. Análises desse tipo estão condenadas a fracassar, como se vê acontecer todo dia com as dos “entendidos” de televisão, que só fazem previsões certas depois de concluída a disputa. Por isso, ao desprezar o raciocínio linear, Nelson Rodrigues se tornou o maior cronista esportivo do Brasil.
          A derrota não será humilhante se fizermos dos erros, acertos, e destes as vitórias no futuros, como as muitas do passado.

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