José Chagas



Jornal O Estado do Maranhão

          A morte de José Chagas me leva a pensar sobre o destino da obra dos grandes homens como ele. Olhemos sua literatura. São unânimes as opiniões dos mais influentes analistas literários de nossa terra como também do restante do Brasil e até do exterior: a importância de seu trabalho é enorme. Não quero, assim, chover no molhado louvando suas qualidades indiscutíveis. Estas têm sido apontadas por gente qualificada a fazê-lo, tanto agora, quando de seu falecimento, quanto ao longo desses anos todos de farta e bela produção artística.
          Vindo da Paraíba para o Maranhão em 1948, exatamente no ano em que nasci, aqui deu nesses 66 anos contribuição inestimável a nossa cultura. No entanto, o homem do campo paraibano que o habitava, ou, dizendo com mais propriedade, o homem nordestino, no que este tem de único e não maranhense – na maior parte história o Maranhão esteve mais voltado, cultural e economicamente na direção do Norte e não do Nordeste –, jamais o abandonou, pois representava experiência da época da vida de todos nós em que nada falha em deixar marcas inapagáveis em nossa mente e visão do mundo. Não era ele quem dizia não saber direito se era maranhense-paraibano ou paraibano maranhense?
          Essa obra, cumprindo seu destino, daqui por diante viverá ou não, apartada de seu criador, na dependência de como for manuseada, se assim posso dizer, por nós, que temporariamente sobrevivemos fisicamente a ele. O alto valor literário de seus escritos nos tornará prazerosa a tarefa de passá-la adiante aos que nos sucederem. Mas vejam, amigos, esse não é missão simples a ser delegada às instâncias burocráticas do sistema cultural. Ele exige não somente a consciência do valor de José Chagas, mas, igualmente, o saber apresenta-lo às novas gerações.
          Afinal, qual a razão de eu fazer afirmação como essa? Lembram-se os leitores de José Tribuzi Pinheiro Gomes, conhecido como Bandeira Tribuzi? Quando ele completou 50 anos de idade, em 1977, foi aclamado pela intelectualidade da terra e de fora como um dos maiores entre os nossos maiores. Ele foi então justificadamente homenageado. Participaram dos festejos grandes nomes da literatura nacional, a exemplo de Jorge Amado e Ferreira Gular. Poucas vezes houve aqui tamanha unanimidade em torno de um homem de letras ainda em atividade. Depois de quase 37 anos de sua inesperada morte naquele mesmo ano, o que é feito de seu trabalho? Quantas edições por ensaístas de reconhecida competência daqui e de outros estados foram feitas, de tal forma a ser possível distribui-la por todo o Brasil com bom aparato crítico? Quantas traduções para idiomas como o inglês, espanhol, alemão, francês e italiano foram publicadas? Quantos seminários se realizaram sobre sua poesia? Quantas monografias foram elaboradas? Tribuzi vai aos poucos sofrendo uma segunda morte, da pior maneira: pelo esquecimento e indiferença, pois nenhum autor pode resistir à falta de publicação bem cuidada de seus escritos. Quem lê Tribuzi hoje? Bem poucos. Esse destino triste não pode se repetir com Chagas.
          Falta-nos pessoas com conhecimento aprofundado de sua produção assim como da história da poesia e prosa maranhenses, que possam fazer um estudo crítico de sua poesia e de sua prosa? Não me parece ser esse o caso. Aí está Nauro Machado, capacitado a dar-nos essa apreciação destinada a acompanhar as obras completas do poeta recém-falecido, com edição e distribuição por editora com atuação por todo o país. Além de ser poeta de reconhecimento nacional e internacional, Nauro é excelente ensaísta. Concluída essa primeira etapa, se seguiriam edições de outros autores maranhenses importantes do século XX.
          Essa, penso eu, a melhor maneira de homenagear José Chagas: evitar-lhe a segunda morte, fazê-lo viver. Os dirigentes do setor público em todos os níveis de governo, as instituições culturais, as universidades, os estudiosos de sua obra têm no que expus acima a sugestão de um programa de trabalho. Feito em indispensável parceria trará bons resultado à alta cultura do Maranhão.

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