Bola e Política
Jornal O Estado do Maranhão
A primeira Copa do Mundo realizada no Brasil, em 1950, permanece até hoje, passados sessenta e quatro anos, como lembrança dolorosa pela inesperada derrota da Seleção para o Uruguai. Necessitávamos tão só de empatar, mas perdemos por 2 a 1, apesar de termos feito 1 a 0 na partida do quadrangular final que proporcionou a obtenção pelos simpáticos uruguaios do segundo título mundial no torneio (o primeiro foi em 1930, quando o futebol era quase outro esporte em comparação com o de hoje).
Tenho escutado de pessoas sensatas, em outras circunstâncias incapazes de se deixarem levar pelas emoções do momento, o desejo de novo fracasso em casa, neste ano de 2014. Elas desejam justificadamente tirar o PT do poder, como também desejamos, eles e eu, dentro da legalidade, sem mensalão nenhum e sem tentativas de desmoralização do Supremo Tribunal Federal e, portanto, da justiça. Pensam essas pessoas que nossa vitória diminuiria a rejeição de Dilma, facilitando sua reeleição em outubro. Preferem, assim, perder. É falacioso o raciocínio visto não haver evidência de que vitória na competição aumenta a popularidade do presidente da República da hora.
Sou de uma geração que viu o Brasil conquistar os cinco títulos mundiais de futebol de sua coleção até o momento inigualável. Não me lembro de ter visto nesse tempo todo de nossa hegemonia futebolística – de 1958 a 2002 –, demonstração irrefutável de que a avaliação de um único chefe do Executivo tivesse melhorado como decorrência de alguma dessas conquistas nem que candidatos ao cargo no período após a implantação da reeleição presidencial tenham capitalizado tal melhoria na renovação do mandato. Frequentemente, 1970 é citado como prova não provada da existência de relação de causa e efeito entre sucesso esportivo e sucesso político.
Encaremos os fatos. O regime militar era naquele ano bem aceito pela população, em prejuízo da democracia. O presidente de então, general Emílio Médici, ia aos estádios com radinho de pilha ao ouvido e era aplaudido, não vaiado, pois o país estava crescendo a taxas altíssimas. Não importa que a conjuntura externa fosse favorável à nossa economia até 1974. Importam os resultados no bolso do cidadão. Ainda que a distribuição de renda não tenha melhorado, a condição econômica de todos melhorou. A desqualificar a administração da época por ter aproveitado o bônus internacional, seríamos obrigados a fazer o mesmo com a de Lula, navegante de bons ventos de fora também. É aquele fator, a economia, principalmente, que decide eleições em qualquer democracia do mundo. O mais famoso mote oficial de então, “Brasil, ame-o ou deixe-o”, nada tinha a ver com o futebol. Em verdade, o ter caído no gosto do povo veio da boa avaliação do governo.
Quando ganhamos em 1970, a ditadura já era popular. A lenda de sua aceitação por causa exclusivamente da Copa foi invenção do discurso esquerdista com pretensão à correção política. Hoje, acredito, uma vitória da Seleção não irá melhorar a imagem de incompetência, ineficiência, corrupção e sobretudo de pobríssimos resultados econômicos ao longo de quase quatro anos do atual governo, que prometeu reduzir os juros, mas, depois de curto período de baixa, foi obrigado a trazê-lo de volta a nível superior ao do início do mandato de Dilma. Tais juros foram herdados da era Lula, em que os banqueiros, tão atacados retoricamente pelo PT, nunca antes na história deste país tiveram lucros tão altos.
Temos uma excelente equipe e um técnico com talento especial para motivar os jogadores. Jogar em casa não deve ser motivo de preocupação com a natural pressão exacerbada da torcida. É razão de otimismo realista, sem exageros, pelo aumento da vontade de vencer dos atletas e do ambiente favorável a quem joga em casa. Veja-se a humilhação a que o Brasil submeteu a Espanha na Copa das Confederações. A derrota não virá de dentro dos gramados, mas da desorganização fora, com estádios, aeroportos e obras de mobilidade urbana incompletos, com gambiarras por todos os lados.
Comentários
Penso exatamente isso. Só não fiz escrever.
Falou tudo que queria dizer.
Abs.
Ricardo