14 de julho de 2013

Protesto a favor


Jornal O Estado do Maranhão
          As recentes manifestações por todo Brasil começaram, como se viu, com pedidos limitados, como o de passe livre nos transportes públicos. Daí em diante, o rol de exigências se ampliou a ponto de hoje não haver nenhuma agenda, mesmo a mais desimportante, que não seja objeto de manifestações. É óbvio o direito dos cidadãos de protestar. Até agora não ouvi uma voz sequer a contestar tal postura.
          No entanto, vejam. Nas primeiras semanas, excetuando-se a exigência inicial, não se sabia e creio não se saber ainda o que era mais importantes do ponto de vista dos cidadão, as prioridades a serem atendidas. Os desejos eram bastante difusos, sem apresentarem foco evidente. Depois houve não surpreendente inversão e assim surgiu relação extensa de reivindicações específicas. Chegamos então à fase de foco em excesso. Há assuntos ao gosto da imaginação mais delirante.
          Alguém acha que não há livros suficiente à disposição da população? Basta ir à internet e convocar, sei lá, 50, 100, mil pessoas e lá vai a turma bloquear a avenida Atlântica no Rio de Janeiro, infernizando a vida de milhares de pessoas. Os de unhas encravadas não se conformam de não haver um “personal” especialista à disposição de cada portador do incômodo? Então o caminho para impor suas demandas está nas redes sociais, com o bloqueio de estradas de acesso a portos, como o de Santos, o mais importante do Brasil, por onde transitam todo ano bilhões de reais em mercadorias, causando prejuízos incalculáveis aos empresários e ao país; ou mais bloqueios a vias de acesso a aeroportos, cidades vizinhas e por aí vai. Alguém acha que alienígenas estão abduzindo terráqueos e o governo deveria tomar uma providência? Mais bloqueios. Um grupo de corintianos bloqueou a avenida Paulista, na cidade de São Paulo, pedindo a libertação de torcedores presos na Bolívia por envolvimento na morte de um rapaz boliviano.
          Qual a reação do Executivo? Nenhuma, a não ser tentar colocar a granada na mesa do Legislativo, com a história da Constituinte exclusiva e do plebiscito. A presidente parece perdida, não acha o GPS. Mostra não ter capacidade de liderança e a estatura de estadista reclamada pelo momento atual. O país parece sem governo, sem líderes.
          E o Congresso, faz o quê? Um bocado de coisas, quase todas sem sentido. Parece tonto, mas também tenta aparecer bem na foto. Uma medida: a derrubada do voto secreto em votações no Congresso, em todos os casos. Ora, o voto em aberto em algumas situações é justificável e imperativo mesmo, como no caso de cassação de mandatos. Em quase todos os outros, é um mecanismo de defesa dos membros do parlamento diante do poder de pressão do Executivo.
          Outra providência simplesmente errada do Legislativo diz respeito à derrubado do chamado foro privilegiado, ou foro por prerrogativa de função. Alguém acredita que os mensaleiros estariam condenados hoje e prontos para a cadeia se tivessem sido julgados em foro comum? Neste, a burocracia, a lentidão do sistema judicial e a enorme coleção de recursos meramente protelatórios levariam as ações penais a décadas de tramitação. Exemplos não faltam no nosso cotidiano.
          Agora, em complemento a tais equívocos, todas as centrais sindicais, ou quase todas, conhecidas chapas brancas, acolitadas pelo MST e UNE, e apoiadas em sua maioria pelo PT, decidiram pegar carona nas manifestações e foram às ruas fazer suas reclamações. Foram reclamar a quem? Ao governo? Não, porque ficou combinado não se falar mal da presidente. Como as entidades são de fato governistas, não ficaria bem falar mal dos governantes. Mas, afinal, não há mesmo a quem reclamar. Ao papa Francisco?
          O certo é isto. O PT, MST, UNE e centrais sindicais pelo menos apareceram com uma novidade: o protesto a favor... do governo, porque contra não era. Contribuição original e coerente com a velha pelegada. Mas, pode ser que fosse contra os banqueiros – segundo Lula, eles nunca ganharam tanto dinheiro como nos governos do PT –, o equilíbrio fiscal, a liberdade de expressão, a “democracia burguesa”, a “mídia golpista”, etc., etc.

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