Na Academia, Phelipe



Jornal O Estado do Maranhão
          A Academia Maranhense de Letras – AML receberá em seu quadro de membros efetivos, Cadeira 23, fundada por Clodoaldo Cardoso e patroneada por Graça Aranha, Luiz Phelipe Andrès, nesta quinta-feira, dia 23 de maio, às 20 horas. Terei a satisfação de fazer o discurso de saudação.  Ele sucede ao saudoso acadêmico José Joaquim Ramos Filgueiras, que faleceu no ano passado. Os leitores que desejarem comparecer à solenidade estão livres para fazê-lo, sem obrigatoriedade de convite formal. Portas abertas a todos, como usual.
          Phelipe, nascido em Juiz de Fora, Minas Gerais, é maranhense autêntico, pois desde 1977 reside aqui e tem consistentemente dado contribuições inestimáveis a nossa cultura, tanto no trabalho de recuperação e preservação do centro histórico de São Luís, dirigindo o Programa de Preservação e Revitalização do Centro Histórico de São Luís – PPCHSL, quanto na implantação do Estaleiro-Escola do Maranhão, instituição pioneira e única no Brasil, criada com base em pesquisa feita por ele sobre as técnicas de construção naval artesanal utilizadas pelos pescadores das nossas águas.
          Esta experiência gerou o belíssimo Embarcações do Maranhão, publicação que ganhou do Iphan - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o prêmio Rodrigo de Mello Franco, de abrangência nacional, na categoria Inventário de Acervos e Pesquisas O trabalho teve enorme êxito, chamando a atenção de pesquisadores e de especialistas pelo mundo afora. A Chasse Mareé, prestigiosa revista francesa, direcionada a um público interessado naquelas técnicas, disse que era boa notícia ver novos países como o Brasil tomarem esse caminho a fim de bem defender o seu patrimônio.
          Phelipe publicou recentemente, com o patrocínio do Iphan e decisivo apoio da superintendente regional do órgão, Kátia Bogea, o livro Reabilitação do centro histórico, patrimônio da humanidade, Maranhão, Brasil, resultado do PPCHSL. Em suas páginas, está plenamente desmentido o mito de que o governo do Estado, nunca fez nada pela riqueza arquitetônica por nós herdada principalmente do século XIX.
          O marcante para mim na obra está na possibilidade que dá, ao verem-se as fotografias do antes e do depois do Programa, de avaliarem-se o abandono e degradação anteriores do centro até o início dos anos oitenta e compará-lo com a transformação ocorrida a partir daí até o presente. As novas gerações não conhecerão como era terrível o quadro e as mais velhas talvez o tenham esquecido.
          Na Praia Grande, caminhões, automóveis e variados tipos de veículos criavam o caos viário. A fiação elétrica e telefônica aéreas, atualmente subterrâneas, ameaçavam as pessoas. Prédios abandonados serviam de ponto de venda de drogas e criadouro de mosquitos e ratos. Hoje servem de centros de ensino tecnológico, abrigam repartições públicas e foram postos a serviço de um programa-piloto de moradia. Cito apenas esses poucos exemplos com o fim de dar ideia dos avanços daquela época até aqui.
          Os bons resultados na preservação tanto do patrimônio arquitetônico quanto das técnicas de construção naval artesanais credenciaram Phelipe a fazer parte do conselho consultivo nacional do IPHAN. No colegiado, ele produziu um conjunto de pareceres sobre o tombamento, no caso de bens tangíveis, e o registro, no caso de bens imateriais, que possibilitou a inscrição como bens do patrimônio nacional, entre outros, do terreiro da Mãe Menininha do Gantois e terreiro do Alaketo, ambos em Salvador; o pátio ferroviário da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré; e o frevo de Pernambuco; no Maranhão, o terreiro Casa das Minas Jeje; a rerratificação da área de tombamento do conjunto arquitetônico e urbanístico de Alcântara; a Canoa Costeira de nome Dinamar, da baía de São Marcos; e complexo cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão.
           Foram essas realizações que levaram a AML a acolher Phelipe como um de seus membros, mantendo a tradição de ter entre os seus não apenas literatos mas todos aqueles que dão ou têm dado importante aporte à cultura maranhense.

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