Garimpo violento
Jornal O Estado do Maranhão
Maripasoula, na Guiana Francesa, fronteira com o Suriname, é uma região de garimpo. Muitos brasileiros têm ido para lá em perseguição do sonho de enriquecer com o ouro. Mas eles é que têm sido perseguidos cruelmente por chefes de garimpo. É o que se pode concluir de reportagens publicadas na imprensa local e no Le Monde, influente jornal francês.
Andréa Viana, de O Imparcial, recebeu, em maio deste ano, de dois jornalistas independentes franceses, Fréderic Farine e Laurent Marot, que preparavam uma reportagem sobre o assunto para uma rádio francesa, uma fita com o relato de um garimpeiro maranhense, de Santa Luzia do Tide, Isaías Sousa, sobre torturas contra ele e outros garimpeiros, e até assassinatos de alguns destes.
O deputado Gastão Vieira, no mês seguinte, junho, levou essas informações à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e fez um pronunciamento no Congresso Nacional informando os congressistas sobre a gravidade da situação. Em seguida, no dia 6 de julho, o Le Monde publicou reportagem dos dois jornalistas, na qual mencionou o discurso do deputado e apontou o crescimento da violência contra os brasileiros e a omissão das autoridades policiais da Guiana.
Na segunda-feira passada, 9 de julho, pude presenciar entrevista do deputado Gastão ao jornalista Fréderic Farine que está preparando nova reportagem para o Le Monde. Andréa deu notícia desse encontro, em O Imparcial, na última terça feira, dia 10.
O deputado chamou a atenção para a necessidade de criarem-se alternativas econômicas para a sobrevivência, no Brasil, dos garimpeiros brasileiros. Essa seria a melhor maneira de incentivá-los a permanecer em seus locais de origem. É demorada, porém, a obtenção de resultados com programas governamentais dirigidos a esse fim. Não é certo também que o governo queira ou possa fazê-lo.
Por isso, o deputado acha que uma ação do governo francês em defesa dessas pessoas terá de ser obtida imediatamente pela diplomacia brasileira. Para tal fim, irá pedir a convocação do ministro da Relações Exteriores, Celso Lafer, à Comissão de Direitos Humanos.
Os aspectos econômicos do problema são muito importantes. Brasileiros da Amazônia, sem oportunidade de obterem uma renda mínima que lhes garanta a sobrevivência, sentem-se atraídos pela ilusão do ouro. Procuram garimpos por toda parte. Foi assim em Serra Pelada, com resultados socialmente desastrosos. O mesmo ocorre em Maripasoula.
A verdade é que o ouro tem um poder de atração quase irresistível, com raízes na sua simbologia de riqueza e poder. Tão grande é o fascínio, que se torna boa matéria romanesca como em Saraminda. No imaginário popular, achar ouro no garimpo, “bamburrar”, representa, além de riqueza material, a promessa de felicidade. Sabe-se que a realidade não é essa e que, mesmo os que têm alguma sorte, não se livram sequer das dívidas com os donos de garimpo. Quando “bamburram” de verdade, voltam à miséria quase sempre.
A situação agrava-se porque são estrangeiros, brasileiros, os que chegam para “roubar” o ouro da Guiana Francesa. Como a região é dominada pela etnia boni, descendente de escravos, a disputa acaba ganhando um matiz étnico. É o “nós” contra “eles”.
Os dois governos têm se mostrado omissos. O da França limita-se a observar. Não toma nenhuma medida para impor a lei francesa, não faz nada para proteger os garimpeiros brasileiros, receoso de ser acusado de oprimir os bonis e para não dar a impressão de estar adotando uma postura de potência colonial que intervém em um conflito étnico que não lhe diz respeito.
O do Brasil não tem sido capaz de implantar um modelo de desenvolvimento sustentável na região amazônica para fixar suas populações à terra e mantém-se indiferente ao drama dos brasileiros na Guiana. Será que não os considera dignos de atenção?
Resta-nos a esperança de que a iniciativa do deputado dê resultados e que os dois países cumpram suas obrigações, adotando soluções permanentes para o problema.
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