Votar
Jornal O Estado do Maranhão
O Brasil com as eleições de hoje aprofunda ainda mais um sistema democrático sólido, que parece ter lançado raízes profundas em nossa cultura nas últimas duas décadas e meia. Evidência do acerto dessa afirmação está no ambiente já estabelecido no país, hostil a sonhos de continuísmo – ou pesadelo, para quem acredita mesmo no princípio da alternância do poder, dentro de regras previamente estabelecidas – de parte não pequena do Partido dos Trabalhadores, inclusive de seus mais altos dirigentes. Centrada na popularidade de Lula, a ideia circulou, envergonhada e acanhada (ou não), entre chefes petistas e os chamados militantes, palavra usada na imprensa internacional na designação de extremistas de todos os matizes. No Brasil ela traz à mente o pessoal do pt.
Precisamos lembrar que populares foram diversos chefes de governo que, por circunstâncias históricas e de outras naturezas, depois se tornaram ditadores: Hitler subiu ao poder em eleições regulares e Mussolini, entre outras proezas, fazia os trens chegarem na hora na Itália. A muitos, a popularidade deles parecia razão bastante para a continuidade no poder. Nas condições da época na civilizada Europa, foi possível, assim, a instalação de ditaduras por causa dessa visão antidemocrática. Mas, dizer isso pode parecer uma justificativa dos crimes dessas figuras. Não é o caso. A história não os absolverá nem lhes esquecerá os males infligidos a milhões de pessoas.
Mas o que eu queria dizer era isto. Com a posse do próximo dirigente do país, completamos o mais longo período de vida institucional regular desde o fim da República Velha, em que tivemos quase quarenta anos de eleições meramente formal, é verdade, mas ainda assim, obediente às regras do jogo do liberalismo, em que se mantinhas as aparências. Longe estava de nós a noção de participação das massas na vida política brasileira como acontece hoje.
A Revolução de 30 marcou o fim desse antigo regime, fragilizado por crises econômicas mundiais, que não podiam deixar de ter reflexos aqui, e pelo uso sistemático da fraude eleitoral de grupos de poder do sul do país. Eles decidiam por antecipação os vencedores das disputas.
A redemocratização veio em 1945. Foram 19 anos de quase normalidade até 1964, num arranjo político frágil, como se viu pelo suicídio de Getúlio Vargas em 1954, as tentativas de golpe contra Juscelino, a renúncia de Jânio Quadros, a implantação do efêmero regime parlamentarista em 1961 para evitar um golpe de Estado e, por fim, a quartelada de 1º de abril de 64, que implantou um regime de exceção no Brasil.
A posse de José Sarney como presidente da República em 1985 marcou o fim da ditadura. Seguiu-se, como consequência necessária, a posterior promulgação da Constituição de 1988. Chegamos agora a 25 anos de plena democracia substancial, com fundamentos vigorosos, situação inédita, parece-me, em nossa trajetória como país independente.
Vamos construindo uma nação que fatalmente chegará à posição de potência entre potências, sem abrir mão de sua vocação pacifista. É uma construção de toda a sociedade e sucessivas gerações. Ela tem avanços e recuos, bons e maus momentos, crescimento e retrações. Mas, tem sempre caminhado adiante, nunca para trás. Na economia, sucessivos governos têm se empenhados em acabar com a suspeita de ser o Brasil o eterno país do futuro, num trabalho permanente, sem fim e sem descanso.
Só teremos sucesso, no entanto, se, em paralelo aos avanços político-institucionais já alcançados, formos capazes de criar um sistema educacional verdadeiramente eficiente e de alta qualidade. Ficaremos ameaçados de perder as conquistas das últimas décadas se fracassarmos aí. Não podemos continuar sem universidade alguma entre as duzentas melhores do mundo. Os exemplos de países que, com uma revolução educacional, tornaram a pobreza coisa do passado são abundantes.
Ao voto, pois. Esse é o melhor e mais eficaz instrumento a nosso dispor para mudar o país e sua história. A Venezuela não é aqui; nem Cuba e muito menos a Coreia do Norte.
Comentários