Rosa na Academia
Jornal O Estado do Maranhão
Tomou posse no quadro de membros correspondentes da Academia Maranhense de Letras na quinta-feira passada, dia 14, a Dra. Rosa Pacheco Machado. Ela passou a ocupar a Cadeira No 5, fundada por João de Melo Viana e cujo patrono é Belarmino de Matos, o Didot Maranhense. É interessante a cadeia sucessória dessa Cadeira e já digo por quê. Ela é sucessora de José Mindlin, conhecido empresário e bibliófilo brasileiro, mais bibliófilo do que empresário, penso eu. Ele por sua vez foi sucessor de Elza Pacheco Machado justamente a mãe da Dra. Rosa.
Com o fim de evitar erro do leitor que poderia supor intencionalidade no fato de ela suceder ao sucessor de sua mãe, informo isto. Quando, em sessão ordinária da Academia, seu nome foi indicado pelo acadêmico Benedito Buzar para ocupar um das Cadeiras vagas na época (17 de setembro de 2009), iniciativa formalizada depois por ele e por mim, os dois subscritores da proposta, Mindlin não havia falecido ainda. Assim, ela poderia ocupar qualquer vaga existente então. Quis o destino, porém, ou aquilo que se denomina coincidência, que ele falecesse em janeiro deste ano. Vaga a Cadeira, natural ser ocupada pela Dra. Rosa.
É esclarecedor saber que as formas de eleição de membros do quadro de correspondentes e do quadro de membros efetivos não são iguais em um aspecto. No primeiro caso, as candidaturas são formalizadas com a indicação, por no mínimo dois membros pertencentes ao quadro de membros efetivos, do candidato a ocupar uma Cadeira no outro quadro. No outro caso, não há indicação. O pretendente a membro efetivo tem de candidatar-se em eleição em que deverá concorrer com outros que também o fazem por iniciativa própria, preenchidas algumas condições regimentais.
Mas a coincidência não se esgota em ocuparem a mesma cadeira mãe e filha. Um dos fundadores da Academia, Fran Paxeco, era o pai da Dra Elza Pacheco, segunda ocupante da Cadeira No 5. Ela, como vimos, era mãe da Dra. Rosa. Aí está. A nova acadêmica é neta de um dos mais importantes fundadores da AML.
Ela cresceu entre livros, pois a Dra. Elza, maranhense de São Luís, foi a primeira mulher a doutorar-se em Letras pela Universidade de Lisboa. Entre suas obras contam-se O mito do Brasil menino, Nótula sobre negações duplas em português, Da glótica em Portugal e Alguns aspectos da poesia de Bocage. O pai da Dra. Rosa era Dr. Pedro Machado um dos mais importantes intelectuais portugueses do século XX. Filólogo, historiador, bibliógrafo e arabista deixou, entre centenas de obras, o Dicionário etimológico da Língua Portuguesa e o Dicionário onomástico-etimológico da Língua Portuguesa. Foi num ambiente familiar com pais desse quilate intelectual que a Dra. Rosa se formou.
Ela mesma, natural de Lisboa e residente em Caldas da Rainha, fez Mestrado em Ciências Documentais, Especialidade de Biblioteca e Serviços de Informação, na Universidade Autônoma de Lisboa “Luís de Camões”. Sua excelente dissertação tem o título de A Academia Real de Sciencias de Lisboa e a sua Tipografia, 1780-1910. Ela tem, ainda, curso de pós-gradução, especialização em Biblioteca, na mesma Universidade, por onde é, ainda, licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante Português-Francês.
Foi uma bela solenidade de posse. Ouvimos o falar característico de nossos avós portugueses na voz da empossanda. Ela discorreu sobre o patrono e os ocupantes anteriores da Cadeira inclusive, com grande carinho, sobre sua mãe, não deixando de mencionar seu também ilustre avô. O acadêmico Carlos Gaspar, com fortes ligações sentimentais com Portugal, pois seu pai era de lá, foi quem, em nome da Academia fez o discurso de saudação à nova acadêmica. Ele destacou as qualidades intelectuais da Dra. Rosa e a importância de sua presença entre nós.
Cumpre registrar a doação que ela fez à Academia de imenso e rico acervo de relíquias de seu avô. Daí resultará um livro a ser publicado no próximo ano, conforme anúncio do presidente Mílson Coutinho ao fim da solenidade.
Bem-vinda à nossa Casa, Dra. Rosa.
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