Pela USP, contra as diretas
Jornal O Estado do Maranhão, 15/11/2009
No imenso lago de mediocridade formado pela educação superior do Brasil, a Universidade de São Paulo é ilha que resiste à ofensiva da barbárie autonomeada de esquerda, cuja orientação ideológica caracteriza-se pela intransigente defesa de privilégios corporativistas e outras sandices desmoralizadas no resto do mundo civilizado e próspero.
Em meus anos de estudo de Economia nos Estados Unidos, na Universidade de Notre Dame, no Estado de Indiana, na região dos Grandes Lagos, pude, mais de uma vez, testemunhar o prestígio da Usp. Era a única instituição brasileira de ensino superior cujos créditos Notre Dame aceitava como bons para completar as exigências curriculares das diversas disciplinas, pelo menos no Departamento de Economia, no programa de doutoramento.
O método de seleção dos dirigentes adotado pela Usp, ao privilegiar o mérito acadêmico, contribui para a formação de tal conceito no exterior. Ela ainda não foi e, espero, não será contaminada pelo fetiche da eleição direta como a maneira "mais democrática" de chegar-se ao melhor reitor. A universidade adotou regras semelhantes às utilizadas na escolha de um primeiro-ministro no parlamentarismo – indireta, pelo parlamento –, parecidas com as amplamente utilizadas em países reconhecidamente democráticos, como a maioria dos europeus.
Como são feitas as coisas na Usp, afinal? Do primeiro turno, participam os membros do Conselho Universitário, dos Conselhos Centrais e das Congregações das Unidades. São representantes do corpo docente, discente e dos funcionários, com peso maior atribuído aos primeiros, como deve ser. A votação é secreta, devendo cada eleitor escolher três nomes de professores titulares em atividade. Ora, estes representam o saber e, nesse sistema, como se vê, ficam com o poder, pela razão óbvia de trabalharem numa casa de produção de saberes. É um procedimento de fato democrático Ele evita não a politização, mas a partidarização da instituição. Esta não corre o risco de eleger tão só o mais hábil politicamente ou de maior capacidade de fazer promessas irrealizáveis dirigidas á corporação de professores, alunos e funcionários, de forma convincente, segundo lógica e interesse partidários e sem preocupação com a competência acadêmica, qualidade em falta na maioria dos políticos, em especial dos minúsculos grupos revolucionários de passeata ou piquete.
Escolhidos oito nomes, a disputa vai para o segundo turno. Nessa fase, o Colégio Eleitoral é formado apenas por membros do Conselho Universitário e dos Conselhos Centrais. São eleitos então os nomes da lista tríplice a ser encaminhada ao governador do Estado, que faz a opção final. O modelo uspiano garante a qualidade do ensino e pesquisa pela ênfase na meritocracia e não na companheirocracia.
Foi com a intenção de impedir a realização do pleito que um grupo de duzentos manifestantes (existe um corpo de 106 mil alunos), majoritariamente ligados a uma tal de LER-QI – Liga Estratégia Revolucionária, uma dissidência PSTU, partido, como todos sabem, de eleitorado avaliado em dezenas de milhões de votantes, bloqueou as entradas do prédio da reitoria, local da eleição, realizada, no entanto, no dia seguinte. A justificativa das ações antidemocráticas era de ser antidemocrática a forma de escolher.
Pesquisa feita na própria Usp, com a utilização de informações de 27 estabelecimentos universitários situados entre os melhores do mundo mostrou que nenhum adota eleição direta. Não existe exemplo de universidades dirigidas por reitores eleitos desse modo que desenvolvam melhores e mais relevantes pesquisas do que as adeptas de métodos diferentes. As melhores seguem, sim, um modelo semelhante ao da Usp.
O investimento anual do governo de São Paulo nessa instituição, de R$ 2,6 bilhões, só terá justificativa se ela mantiver a qualidade, reconhecida internacionalmente, de sua pesquisa e ensino. Não será com piquetes, esquerdismo infantil e partidarização que prestígio como esse, com origem na qualidade de sua produção, será preservado.
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